terça-feira, 28 de novembro de 2017

parte VIII

Furtado de Antas[1], ao descrever os principais talvegues da cidade do Porto no início do século XX, assinala aquele que “tem origem entre o cimo da Rua do Bonjardim e a Rua de São Brás” e desce até à Praça de Almeida Garrett atravessando a Rua do Paraíso entre o Bonjardim e Camões, a Rua João das Regras (antiga Rua Duque do Porto), a Trindade, o antigo Laranjal e as atuais Avenida dos Aliados e Praça da Liberdade. Recebia ainda a água que vinha da encosta sudoeste do Monte de Salgueiros e oeste do Alto da Fontinha.  A área que integra este talvegue é muito rica em água, e aí se formam alguns regatos que formam um dos ramos, o principal curso de água, que, ao juntar-se ao que vinha do Bolhão em frente à Igreja dos Congregados para dar origem ao Rio da Vila. Era aí que se encontrava o manancial de Camões, o terceiro dos “seis mananciais de primeira classe de águas potáveis[2] da cidade do Porto.

O Manancial de Camões, localizado na quinta de Santo António do Bonjardim que pertenceu a Gonçalo Cristóvão, fidalgo do Bonjardim, foi adquirido, em 1829, pela Câmara Municipal do Porto, através da sua Junta das Obras Públicas, para que a sua água pudesse servir a população. Aquela quinta abrangia uma área limitada pela rua de Bonjardim e o Largo da Regeneração, hoje Praça da República. Gonçalo Cristóvão ofereceu à Câmara o terreno que serviu para abrir ruas, com a condição de uma delas ter o seu nome, o que foi aceite em 1838. As Ruas de Camões[3] e de Gonçalo Cristóvão são duas delas. Na sequência da abertura dessas ruas, a Câmara reservou para si um terreno onde instalou o seu Horto Municipal[4] que dava para o Largo de Camões onde, em tem­pos antigos, se fazia a feira dos carneiros, e que desapareceu, em 1938, quando foi construída a estação de caminho-de-ferro da Trindade da linha do Porto à Póvoa de Varzim. Esta estação, que terminou o seu serviço em 2001, foi entregue ao Metro do Porto que a remodelou e a pôs ao serviço do metropolitano em dezembro de 2002.


Figura 1 – Planta do Horto Municipal na Rua de Camões, com o traçado
da linha de caminho de ferro para a Póvoa de Varzim
(Fonte: Arquivo municipal do Porto, descarregado de 24/10/17 

de  https://goo.gl/KW6ZqH)


A água do manancial de Camões servia aquele horto onde, em 1846, foi construído, para a receber, uma arca que apenas durou sete anos. Depois de removida essa arca, a água passou a cair num tanque do Horto, seguindo depois em tubo de grés até uma bica existente na Praça de Camões e, a partir daí, em tubo de chumbo que foi substituído, em 1864, por uma caleira em pedra até à esquina das Ruas de Camões e Almeida Garrett[5]. Desta rua para sul manteve-se o tubo de chumbo. A água do manancial de Camões alimentou a Fonte da Trindade, o chafariz do Largo do Laranjal, a Fonte da Rua Sá da Bandeira, que ficava na esquina desta rua com a de Sampaio Bruno, a fonte do pátio do edifício da Câmara Municipal do Porto situado na Praça Nova, hoje Praça da Liberdade, e a Fonte do Largo de S. Bento das Freiras (Praça de Almeida Garrett). A água daquele manancial também era usada no Hospital da Ordem da Trindade que a recebia diretamente por meio de um tubo de chumbo. No blog “Ruas da minha terra – Porto”[6] faz-se referência à existência, em 1957, nas traseiras de um prédio da Rua Gonçalo Cristóvão “de uma lindíssima fonte com espaldar de pedra artisticamente trabalhada” que terá pertencido ao fidalgo do Bonjardim. Esta fonte foi adquirida, em 1927, pelo Conde da Covilhã. Bourbon e Noronha considerou a água deste manancial “pouco límpida, coberta de uma leve espuma branca e parasitas vegetais”, era ”de gosto desagradável e algumas vezes, principalmente no verão, dotada de cheiro levemente amoniacal”. Vinte e três anos mais tarde, J. Bahia Júnior, 1909, verificou que, sob o ponto de vista bacteriológico e químico, a água deste manancial que brotava nas Fontes da Rua Sá da Bandeira, dos Paços do Concelho e no Chafariz do Laranjal era de péssima qualidade, obrigando a marcá-las com o triângulo negro, sinal de água imprópria para consumo.

Figura 2 – O Horto Municipal e o Palacete das Lousas, onde esteve a
 Escola Comercial Raul Dória, espaço ocupado hoje pelo edifício do 

Jornal de Notícias (Fonte: J. Bahia Júnior, 1909: pp 10)

Figura 3 - Mapa da área que incluía a propriedade de Gonçalo Cristóvão,
realçando-se a Ribeira de Liceiras, um dos ramos do Rio da Vila,
 a Praça do Laranjal e a Igreja da Trindade (C)

Figura 4 – Área de influência do Manancial de Camões, embora 
outras minas e ribeiros tenham contribuído para o abastecimento 
dos seus vizinhos[7] (Fonte: Carta Topográfica do Porto, por 
Augusto Gerardo Telles Ferreira, 1892)

Próximo deste manancial, a norte, existia outra mina com entrada no Horto Municipal que abastecia o Chafariz da Feira dos Carneiros ou Chafariz de Camões, que foi construída, em 1891, no local onde hoje se encontra a confluência da Rua Alferes Malheiro[8] com a Rua de Camões, a sul do sítio onde se realizava a Feira dos Carneiros e onde hoje se encontra a estação de metro da Trindade. Esta fonte mudou-se para o Jardim dos SMAS. A fonte apenas tem uma bica e tem gravada a legenda C. M. P. – 1891. Terá, segundo J. Bahia Júnior, sido anulada quando foi construído um muro de vedação que a incorporou parcialmente. Este autor e a sua equipa inspecionaram a mina que a abastecia, por meio de um tubo de chumbo, e que tinha a entrada no Horto Municipal, um pouco a norte da entrada do manancial de Camões. Como resultado da inspeção, J. Bahia Júnior deduziu que a água teria qualidade duvidosa devido às infiltrações negras e amarelas reconhecidas ao longo da mina.

Figura 5 – O Chafariz da Feira dos Carneiros instalado 
nos jardins dos SMAS

Figura 6 – O Chafariz da Feira dos Carneiros ou de Camões em 1909
(fonte: J. Bahia Júnior: pp 50)

A água que vinha do Manancial de Camões alimentava em primeiro lugar o Chafariz do Largo do Laranjal que foi construído no local onde existiu a Fonte do Olho do Cu, em 1853-54, com parte das pedras que pertenceram ao Chafariz do Largo de São Domingos[9]. Quando da abertura da Avenida dos Aliados, em 1916, foi transferido para os Jardins dos SMAS, tendo aí sido reconstruído em 1943. Atualmente encontra-se no Largo da Trindade Em 1911 foi colocado um fontenário com água da “Companhia”, tornando inútil o chafariz que, em 1916, foi desmontado e reconstruindo nos jardins dos SMAS, sendo posteriormente colocado no Largo da Trindade e adotando o nome deste largo. Este chafariz tem duas taças, a maior na parte inferior que tem à volta do seu rebordo a legenda Dicatum Communi Reip. O Chafariz do Largo da Trindade está classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1938 com a designação de Chafariz da Rua de S. Domingos. O mesmo manancial terá abastecido a Fonte da Trindade construída em 1805, entretanto demolida pela autarquia em 1853 (Silva, G, 2014)[10] quando do rebaixamento daquele Largo. As pedras desta fonte foram guardadas no lameiro das Liceiras e daí seguiram para a rua Firmeza para a construção da fonte que recebeu o nome desta rua, depois mudada para a Praça das Flores. A atrás referida Fonte do Olho do Cu é reconhecida num auto de averiguações de 25 de junho e 16 de julho de 1804 por Sousa Reis, citado por J. Bahia Júnior, 1909. Esta fonte rasa localizava-se, aproximadamente, na área onde atualmente se encontra o tanque construído durante a última renovação da Avenida dos Aliados. Era a Fonte do Olho do Cu, assim designada porque ficava a um nível bastante inferior ao da rua e obrigava os utilizadores a curvarem-se excessivamente para usar a sua água, onde havia uma bica que deitava a água para uma pia.

Não muito longe do Chafariz do Largo do Laranjal a Fonte da Neta, que assim se chamava por estar perto da Viela das Netas, na Viela dos Tintureiros, servia uma pequena quantidade de água que nascia no mesmo sítio da Fonte. É muito pouca a informação sobre esta fonte. Segundo Gomes Leite, esta fonte era pouco usada porque a sua colocação era pouco vantajosa.

Figura 7 – Chafariz do Largo do Laranjal
(Fonte: J. Bahia Júnior, 1909: pp 12,)

Figura 8 - Chafariz do Largo da Trindade

Figura 9 - Rebordo do chafariz do Largo da Trindade com a legenda Dicatum Communi Reip
                           
 
Figura 10 – A Fonte de Rua Firmeza, agora instalada na Praça das Flores

A Arca do Laranjal situou-se no Largo do Laranjal e depois Largo da Trindade, junto ao muro da Quinta do Laranjal pelasmuitas laranjeiras que neste campo havia antigamente[11]. Dento da quinta existia uma arca que recebia a água nascida numa mina da Rua do Estevão. Partindo dessa arca, a água, que era de má qualidade, seguia em tubo enterrado até ao exterior da quinta onde existia uma bica associada a uma pia que servia o público. Gomes Leite apelidava, sem justificar, esta fonte de ridícula. Baltazar Guedes informa que desta arca a água seguia para sul encanada, alimentando diversas pias no seu percurso até à Porta dos Carros; a partir daqui “embaraçava-se” com o cano que seguia para o Convento de São Domingos pela Rua dos Canos até se juntar à água do manancial de Paranhos no sítio da Ponte Nova, abastecendo, a mistura das águas, os chafarizes de São Domingos e das Congostas, seguindo a parte sobrante para o rio da Vila. A construção desta arca e sua fonte é anterior a 1669, data em que foi concertada. Em 1854, esta fonte foi anulada devido  Chafariz do Laranjal.

O Chafariz ou Fonte dos Paços do Concelho, também conhecido como do Bico do Pelicano, foi construído antes de 1826 recebendo água que era considerada como má por Gomes Leite e má e muito salobra por J. Bahia Júnior, tendo sido substituída, em 1850, pela água que vinha do manancial de Camões. Com a demolição do edifício da Câmara, o chafariz foi transferido para os jardins do Palácio de Cristal, onde aí se encontra. A água desta fonte era, por vezes, aproveitada para alimentar as cisternas dos bombeiros.

Figura 11 – A Fonte do Pátio dos Paços do
 Concelho (Fonte: J. Bahia Júnior, 1909: pp 12)

Figura 12 - A antiga Fonte do Pátio dos Paços do Concelho 
embelezando os jardins do Palácio de Cristal

A Fonte da Rua de Sá da Bandeira existiu na esquina das ruas do Bonjardim e Sá da Bandeira, encostada ao prédio onde esteve o Café Portuense, área mais tarde ocupada por um moderno prédio onde se instalou o Banco Pinto de Magalhães. A fonte, que foi construída em 1848, era abastecida pela água do manancial de Camões vinda de uma pia que existia junto ao muro do quintal dos Paços de Concelho que alimentava três fontes: a Fonte do Pátio dos Paços do Concelho, a Fonte da Rua de Sá da Bandeira e a Fonte do Largo das Freiras de S. Bento. A fonte tinha duas bicas, uma dedicada a particulares e a outra aos aguadeiros. A fonte foi demolida e substituída, pouco antes de 1948, por uma marquise envidraçada. Em 1909, a água que a abastecia era considerada por Bahia Júnior de má qualidade, merecendo a sua marcação com o triângulo negro

Figura 13 – A Fonte da Rua de Sá da Bandeira
(Fonte: J. Bahia Júnior, 1909: pp 12)

Descendo a rua do Bonjardim a partir da Praça do Marquês de Pombal encontra-se à esquerda, numa reentrância do alinhamento dos edifícios, em frente à Rua do Paraíso a Fonte de Vila Parda que é datada de 1859 e foi restaurada em 1940. Esta fonte substituiu outra, construída antes de 1613, porque a água terá escasseado na mina primitiva devido à construção de algumas casas. A sua instalação remonta ao séc. XVI, sabendo-se que já existia em 1597. Terá sido mudado para a rua do Bonjardim por volta de 1629, tendo adoptado o nome de uma estalagem próxima. J. Bahia Júnior, 1909, escreveu que a antiga fonte era abastecida por nascente própria “situada um pouco acima dela, aonde havia uma arca, ao norte do qual estava ainda outra nascente” que pertenceu aos Religiosos Carmelitas que a cederam quando passaram a receber água do aqueduto de Paranhos. Noronha, 1885, diz que “a água nasce na rua Bella da Princeza em uma mina, indo alimentar a fonte de Villa Parda. No trajecto a água segue a mina e depois por tubos de chumbo no pior estado de conservação, rompendo-se repetidas vezes.” J. Bahia Júnior diz que “a sua nascente, não visitável, junto da travessa de Santa Catharina, de onde vem até á fonte em canalização de chumbo”. Para Balthazar Guedes a água que abastecia a primitiva fonte era de “gentil sabor e leveza” porque nascia numa fraga. J. Bahia Júnior sublinhou que ela tinha “sobre cada uma das bicas o triângulo negro”, marca da sua má qualidade, comprovada pelas análises bacteriológicas apresentadas no estudo de J. Bahia Júnior. Como acontecia em muitas das fontes visitadas por este autor, o lado do seu tanque semicircular os recantos são aproveitados para mictórios”. Atualmente, metida no seu pequeno recanto, a fonte de Vila Parda é, com a sua arquitectura simples, encimada por um bonito jarrão decorado, uma nota de graciosidade nesta rua do Bonjardim.

Figura 14 – A Fonte de Vila Parda

Caminhando a partir da Fonte da Vila Parda para ocidente e passando pelo portão norte do Quartel General entramos na Rua de Cervantes, antiga Travessa de Salgueiros, onde se encontra a Fonte da Lapa, que foi construída inicialmente junto do portão do então Quartel de Santo Ovídio ou de Infantaria 18, na parte norte, no centro do Largo da Senhora da Lapa onde havia um jardim (J. Bahia Júnior, 1909). Esta fonte pode ter sido o chafariz da Rua de Santo Ovídio[12] referida em 1758 e que terá sido considerada para obra de pedreiro em 1597. A Fonte da Lapa recebia a água de uma mina localizada junto da Capela-Mor da Real Capela que antecedeu a Igreja da Lapa. Sendo o sítio pouco decente (Gomes Leite), e como as paredes do acesso à fonte ameaçassem ruína, a fonte foi transferida, em 1818, para o lado poente desse largo, por baixo da Alameda, na atual localização, do lado sul do Hospital da Lapa, continuando a deitar a água com a mesma origem pelas suas duas bicas. Apesar da seca deste ano, 2017, a fonte continua a lançar a água de uma das suas bicas para o tanque. Lamentavelmente, como em grande parte das fontes e chafarizes da cidade, os vândalos não respeitam o património de todos chegando ao ponto de destruir o granito para arrancar um tubo de bronze.

Figura 15 – A Fonte da Lapa em 1909 
(Fonte: J. Bahia Júnior, 1909: pp70)

Figura 16 – A fonte da Lapa em 2017

No Campo da Regeneração, mais tarde Santo Ovídio e, nos nossos dias, Praça da República, existiu um manancial que alimentava alguns poços privados e uma de serventia pública, a Primeira Fonte da Rua Almada, próxima do n.º 60 da Rua do Almada, que debitava três anéis e seis penas de água. Esta fonte foi concluída em 1795 A Segunda Fonte da Rua do Almada, situada na área das Hortas, era abastecida com água que nascia junto da Travessa da Trindade, nove penas de água (Gomes Leite, 1836), enviando as suas vertentes para o tanque do chafariz da Praça de D. Pedro (da Liberdade). Esta fonte encontra-se no Museu Militar no Largo Soares dos Reis. O espaldar desta fonte tem a inscrição 1787, data em que foi comprada a sua água, mas a sua construção apenas foi concluída em 1790. De acordo com os resultados apresentados no estudo de J. Bahia Júnior, a água das duas fontes era, sob o ponto de vista bacteriológico, de muito má qualidade.

Figura 17 – A Primeira Fonte da Rua do Almada, vendo-se o triângulo 
negro por cima da bica (Fonte: J. Bahia Júnior, 1909: pp70)

Figura 18 - A Segunda Fonte da Rua do Almada. Também 
tinha o triângulo negro, embora não seja claramente
 visível na fotografia (Fonte: J. Bahia Júnior, 1909: pp70)

A Fonte da Arca ou da Natividade situava-se perto da muralha fernandina, no Campo das Hortas[13], próximo da Rua das Hortas, hoje Rua do Almada. A frente da fonte estava alinhada com um renque de choupos[14] plantado no século XVI[15]. A construção desta fonte, com desenho do arquiteto Manuel Garcez que dirigia então a obra do Convento de Santo Elói, terá tido início em 1608 e foi reformulada nos anos 1677 – 1682 seguindo um desenho do Padre Pantaleão da Rocha.  Esta fonte recebia água dos ribeiros que corriam pelo campo das Hortas, e, pelo menos, a de um deles era classificada então como muito límpida, leve e com propriedades curativas para algumas doenças. Para Balthazar Guedes, a sua qualidade e frescura era conhecida em toda a cidade. A frontaria da fonte tinha três corpos separados por cornijas, estando a primeira acima do solo da Praça, a segunda assentava sobre o segundo corpo com outra cornija a cerca de três metros, e sobre esta existia uma frontaria semicircular com um nicho de pedra lavrada ladeado por duas colunas de granito. Este nicho abrigava uma imagem de Nossa Senhora da Natividade ali colocada durante a remodelação. Estas colunas assentavam numa sacada com grades de ferro e duas lanternas nos cantos. Como estava a um nível inferior ao solo da praça, o acesso a um largo tanque era feito através de uma escadaria. A água, abundante, era lançada por quatro bicas de bronze inseridas nas bocas de igual número de carrancas em granito, duas das quais se encontram nos jardins do Palácio de Cristal. A parte superior do oratório era rematado pela terceira cornija em forma de curva. Pelas descrições da época, a fonte provocava espanto a que a via pela primeira vez dada a sua espetacularidade e por ser a mais perfeita da cidade, tendo-se ainda convertido num lugar de devoção a Nossa Senhora da Natividade.

Figura 19 - Planta mostrando a convexidade da Praça Nova, lado sul,
desde Santo Elói até à Porta de Carros (Fonte: Arquivo Municipal
do Porto, descarregado em 19/11/17 de 
https://goo.gl/Vp8GFq)

O aumento de tráfego de viaturas, animais e pessoas levou a alterações da área urbana, uma das quais foi a demolição da Porta dos Carros em 1827, à qual se seguiu a da Fonte da Arca em 1833, neste caso por ordem direta de D. Pedro IV para permitir o alargamento da Praça Nova. O brasão da cidade e as grinaldas foram embelezar o edifício onde funcionava a Câmara e encontram-se hoje no roseiral do Palácio de Cristal. Três das carrancas da fonte foram levadas para a Praça de D. Teresa. Desconhece-se o destino da quarta. No período entre 1794 e 1797 foi construído, por decisão da Junta das Obras Públicas, um novo tanque com espaldar com cinco bocais em cinco panos separados por pilastras. Quatro do pano tinham ao centro florões que ornavam os bocais. O pano central tinha uma carranca. O tanque ocupava o espaço hoje ocupado pelo Banco de Portugal, com a sua fachada virada para oeste. Recebendo a água do Campo do Meloal, foi apelidado de Chafariz da Praça de D. Pedro. Para além das serventias naturais, o tanque funcionava como reserva para combate a incêndios.

Figura 20 – O Tanque da Praça Nova segundo o desenho de 
Joaquim Vitória Vilanova (fonte: Santos Silva, 2006)

Com a abertura da Avenida dos Aliados foi inaugurada a fonte popularmente chamada como Fonte da Menina Nua, embora tenha sido intitulada pelo seu autor, o escultor Henrique Moreira, como Fonte da Juventude. Inaugurada no dia 1 de dezembro de 1929, foi considerada uma obra simples, bela e elegante, embora a sua nudez não tenha sido muito bem aceite pelos falsos moralistas. Trata-se de uma fonte prismática com quatro carrancas nas suas faces que representam as quatro estações. A menina, na realidade uma mulher[16], está sentada no topo do prisma com os pés apoiados na carranca virada para sul.

Figura 21 - Fonte da Menina Nua na Avenida dos Aliados

Figura 22 – Pormenores da Fonte da Menina Nua na Avenida dos Aliados








[1] Furtado de Antas, A., C., (1902), Insalubridade do Porto, Dissertação Inaugural apresentada à Escola Médico-Cirúrgica do Porto.
[2] Souza Reys, H., D., (1984), Manuscritos Inéditos da Biblioteca Municipal do Porto, II Série – 3.
[3] A abertura desta rua obrigou a cobrir o rio de Liceiras que, antes da cobertura, servia de lavadouro para as mulheres da vizinhança.
[4] Bourbon e Noronha, 1885.
[5] A Rua Almeida Garrett mudou mais tarde o seu nome Liceiras e depois para Alferes Malheiro.
[6] Notas recolhidas por Jorge Rodrigues, https://goo.gl/o4eq49, consultado em 23/7/2016.

[7] A área da figura 2 abrange, de norte para sul, a Largo da Lapa, o Campo da Regeneração (atual Praça da República), as Ruas do Duque do Porto (João das Regras), de Gonçalves Cristóvão, das Liceiras (Alferes Malheiro), Praça da Trindade, Fernandes Tomás, Passos de Manuel, da Cancela Velha e a Praça de D. Pedro. De oeste para este destacam-se a Rua dos Mártires da Liberdade, Rua do Laranjal, em parte ocupada pela Avenida dos Aliados, a Rua do Bonjardim e a Rua de Sá da Bandeira que, então, terminava na Rua Formosa.
[8] Esta rua chamou-se Travessa da Doida e depois Rua de Liceiras.
[9] REIS, Henrique Duarte e Sousa – Apontamentos para a verdadeira história antiga e moderna da Cidade do Porto. Volume I. Porto: Biblioteca Pública Municipal do Porto, 1984. p. 184.
[10] Silva, Germano, (2014). Fontes e chafarizes, https://goo.gl/z8RJs1, consultado em 25/2/2017.
[11] Balthazar Guedes, segundo documento da A.H.M.P-PUB/05969 (1), fls. 1-9. de 25 de junho de 1806 transcrito por Teixeira, 2011.
[12] Terá sido a atual rua dos Mártires da Liberdade. Também terá recebido os nomes de 16 de maio e da Sovela.
[13] Este campo chamava-se, no século XV, Casal de Novais, tendo passado a ser conhecida, depois da remodelação da fonte, por Largo da Natividade. A praça, aberta no princípio do século XVIII, denominou-se sucessivamente: Praça Nova das Hortas (1711), Praça da Constituição (1820), Praça Nova (1823), Praça D. Pedro V (1833), Praça da República (13 de Outubro de 1910) e Praça da Liberdade (27 de Outubro de 1910). Muitos conhecem-na pela indicação que constava nos carros elétricos de outrora que se destinavam à “Praça”.
[14] Segundo Balthazar Guedes, os choupos ou olmos não eram bons vizinhos da fonte porque criavam “raposos” (charutos de raízes) nos canos impedindo a passagem da água.
[15] Santos Silva, R., 2006. Praça da Liberdade: 1700-1932. Uma história de Arquitectura e Urbanismo no Porto. Volume 1. Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
[16] Aurélia Magalhães Monteiro, falecida em 1992 com 88 anos, serviu de modelo a conhecidos escultores.