terça-feira, 21 de agosto de 2018

Parte XII


Campanhã terá sido ocupada pelo homem, pelo menos, a partir dos III e II milénios a.C., conhecendo-se vestígios do Castro de Noeda que terá existido, na Idade do Ferro, próximo da confluência dos rios Tinto e Torto. Mas o primeiro documento, abordado adiante, onde está expressa a denominação que deu nome ao seu território, “ribulum campaniana”, é de 994. Em 1120, a parte ocidental de Campanhã, diretamente ligada ao burgo do Porto e limitando-o a oriente, é incluída na doação de D. Teresa ao Bispo D. Hugo. A parte oriental continuava a pertencer ao “senhor rei”[1]. Campanhã foi, para além de freguesia, foi vila e sede de concelho até 1836.
Com excelentes condições naturais para a produção de bens agrícolas, especialmente nas margens dos rios Tinto e Torto, o Couto de Campanhã foi um importante fornecedor do burgo do Porto dos géneros alimentares básicos. O desenvolvimento da agricultura coincidiu com a anexação de Campanhã, como freguesia, à cidade do Porto, em 1836, por decreto de 26 de novembro. Os seus bons ares e boas e muitas águas fizeram apareceras quintas pertencentes aos ricos burgueses do Porto, algumas das quais ainda são recordadas ou conhecidas pelos seus nomes, como é o caso das quintas do Freixo, Padrão de Campanhã, Formiga, Bonjoia, Vila Meã, Lameira, atual Parque de S. Roque da Lameira, e Furamontes, Casal da Capela ou das Areias, situada entre a travessa das Águas Férreas e rua das Areias, em que uma parte é, desde há alguns anos, ocupada pelo Viveiro dos Jardins da cidade do Porto (Horto Municipal). A Quinta da Revolta confronta, a Norte, com as Cavadas, a nascente, com a Calçada de D. Pedro, a sul, com a Rua do Freixo e, a poente. com o Rio Tinto. Esta quinta,  atualmente conhecida como Horto do Freixo, tem um pequeno chafariz com a forma de uma boca de leão, e o seu tanque. A Quinta de Vilar d’Allen tem fontanários, cascatas, repuxos e lagos. Fica próximo do Palácio do Freixo e da Quinta da Revolta. Um grande número dessas quintas eram embelezadas com fontes e chafarizes e não faltavam as obras e máquinas usadas para captação e transporte da água.
No século XIX Campanhã é fortemente abalada pelas invasões Napoleónicas e pela guerra civil de 1832–34, com expressão máxima durante o cerco do Porto entre julho de 1932 e agosto do ano seguinte. Grande parte dos seus meios de produção foram destruídos durante essas escaramuças. Na segunda metade do século XIX, com o desenvolvimento dos meios de transporte, particularmente o caminho de ferro, deu-se a implantação, em Campanhã, de muitas unidades industriais. A existência de muita água e de alguns rios e ribeiros foi um importante atrativo para a indústria.  Esta atividade, que trouxe muita mão-de-obra do interior, garantiu a importância que Campanhã teve no desenvolvimento da cidade do Porto até aos anos 60 do século XX. De então para cá, o fecho da grande maioria das unidades industriais obrigou a freguesia a encontrar novos caminhos, com novas urbanizações e parques, recuperando também a sua tradição rural.


Tanque e espaldar em granito da quinta de Santo António de Contumil - Fonte: Arquivo Municipal do Porto, descarregado em 15/8/2018 de https://goo.gl/yG1Vtv.

O Chafariz da Quinta de Vila Meã instalada nos jardins do Palácio de Cristal.

O Chafariz da Quinta de Bonjoia

Derivados daquelas quintas, a Câmara Municipal do Porto tem criado, em boa hora, parques para lazer na freguesia de Campanhã em que a água é um elemento essencial. O Parque de S. Roque ou Quinta da Lameira resultou da aquisição pela CMP, em 1979, de parte da Quinta da Bela-Vista que pertencia à família Calém. Ocupa uma área de quatro hectares e meio e está muito bem equipado para receber os visitantes mais exigentes. Tem um Centro de Educação Ambiental, boas casas de banho, bastantes bebedouros, parque infantil, três fontes e um lago com jatos de água, bancos e mesas de pedra que apoiam bons piqueniques. A sua flora é notável, destacando-se uma boa coleção de idosos eucaliptos. Destaca-se o labirinto de Buxus sempervirens.

Parque de São Roque – Fonte dos Leões
Parque de São Roque – Fonte do Encosto

Parque de São Roque – Fonte da Capela

Parque de São Roque – Taça

O Parque Oriental do Porto, inaugurado em 2010, desenvolve-se ao longo da margem esquerda do Rio Tinto. Desenhado pelo arquiteto Sidónio Pardal, o parque ocupa uma área de nove hectares com relvados, áreas arborizadas e caminhos que garantem a que visita o parque a possibilidade de praticar desporto e lazer. A visita a este parque é compensadora. O seu sossego e a sua beleza libertam o visitante.


Fonte do Parque Oriental

Parque Oriental com o rio Tinto ao fundo

Campanhã, pela sua configuração topográfica, é uma zona rica em água, tanto de superfície como de profundidade. Das “Memorias Paroquiais na Divisão Administrativa do Porto” de 1758, reproduzem-se as notas recolhidas por João Camelo de Miranda, transcritas em “Campanhã - Monografia”[2]:
·      “Por esta freguezia de Sancta Maria de Campanhaã passado dous regatos, e ambos sem nome; hum que vem da freguesia de Rio Tinto, e debaixo da ponte grande de Campanhaã debaixo; e outro, que principia no monte das Lagoas, e pella ponte pequena de Campanhaã debaixo, vay ao estreito meterse no Douro.
·    Ambos estes regatos, assim que principia o tempo de veram, vam quazi secos, naõ sõ pella limitaçaõ de suas agoas mas lambem por se aproveitarem dellas os lavradores pare regarem as suas seãras.
·      Ambos estes regatos saõ de cursso quieto, naõ sõ por hirem pellas faldas da freguezia fertilizando as suas ribeiras, mas por serem de agoas muy limitadas.
·       Ambos estes regatos correm do Norte para o Sul athe se recolherem no arrebatado Rio Douro, onde ambos tem o seu remate.
·      Nestes dous regatos se criaõ alguns pequenos escalhos, e algumas trutazinhas, couza de pouca concideraçaõ, mas no celebrado Rio Douro, que confronta esta freguezia pella pane do Sul, he pescaria de todo o genero de peixe de rio, em que entra o mar, e de arribaçaõ delle; como saõ em seu tempo as Lampreas, Saveis, e Roballos; Tambem se pescam nelle alguns Solhos, Tuninhas, e Congros, que as Taynhas, Mugens, Solhas e Barbos, Lingoados, Azevias, e Camaroens, e Enguias &, se pescam nelle em todo o tempo.
·     Pellas margens destes dous regatos, que passaõ por esta freguezia, estaõ alguns Campos, que fertilizados com as agoas dos mesmos regatos correspondem bem como os frutos ao trabalho de seus Agricultores. Tombem ambos tem bastante arvoredo silvestre, e algumas arvores, em que seus Agricultores plantaõ, e encaminham as vidas para produzirem seus frutos.
·       Ambos os sobreditos regatos tem sua entrada, e fim no Rio Douro, hum por debaixo da ponte grande, que está no Lugar, ou Aldea de Campanhaã de baixo, e outro pella parte pequena, que estã na mesma Aldea.
·       Tem esta freguezia tres pontes, e todas tres de pedras de Cantaria; numa no Lugar, ou Aldea e Campanhaã debaixo, chamado a Ponte Grande, ehe de bastante altura, tem num Ilhai pello qual se recolhe no Rio Douro, hum dos regatos, que passam por esta freguezia; e o mesmo Douro nas enchentes de suas marés entrando pello mesmo regato com a sua empolaçaõ lhe banha a sua superficie: a outra que está no mesmo Lugar, ou Aldea se chama a Ponte pequena, por ser de menos altura, que a primeira, tem dous Ilhaes, e por ella se recolhe també ao Dito Douro, o outro regato, e com a empolação do mesmo Douro, he a sua concavidade regata. A outra ponte se chama da Laganeyra, por estar em hum Lugar, ou Aldea assim chamada, tem dous Ilhaes, e por ella passa hum pequeno regato.
·    Neste dous regatos sincoenta e oito rodas de moynhos, que todas moem somente de Inverno, athe os lavradores lhe tirarem a agoa para regarem de veraõ as terras porque entaõ vaõ quazi secos seus assudes, e levadas, e quazi o mesmo he nas oito rodas de moynhos, que moem com as agoas da Quinta de Bomjoya; mas de todos elles recebe grande utilidade a Cidade do Porto, pella proviçam de farinhas para seu sustento.
·      Das agoas destes dous regatos uzaõ os povos seus vezinhos para a cultura dos campos livremente, sem feudo, nem penssão alguã.
·     Hum deste regatos que passaõ por esta freguezia por debaixo da ponte grande, a meterse no Douro, aonde tem o seu occazo, [pouco mais, ou menos] terá legoa e meia de distancia, em rezaõ de nascer no Lugar, ou Aldea de Vaguim, da freguezia de Rio Tinto, circunvizinha desta, passando pella mesma freguezia de Rio Tinto, athe principiar nesta.
·    Outro regato, que se recolhe no Douro pella ponte sobredita ponte pequena tem seu principio nas Lagoas de Furamontes, passa por alguã pequena pane da freguezia de Sam Cosme de Gondomar, e passando por esta, se recolhe Douro terá huã legoa de comprido desde o seu Oriente, atire o seu Poente, que he no Rio Douro.
·   Ainda que os sobreditos dous regatos em saõ innavegaveis, pela sua limitaçaõ, e estreyteza, com tudo o Rio Douro, aonde estes tem o seu fim, he o segundo empório deste nosso Reyno pella maquina de embarcaçoins, que pella sua borra entraõ, e sabem a fizerem seus comercios na Cidade do Porto, e dahi se navega para todo o sima Douro, donde se prove a Cidade do Porto de bons vinhos, cames e fructas”.

Os cursos de água referidos nessas notas são, obviamente, os rios Tinto e Torto, que se descrevem a seguir e cujos percursos, no final de século XIX, se representam na planta da figura 3. Aquelas notas deixam-nos uma certa amargura. Os dois rios eram ricos em peixes, serviam para regar as searas, as culturas dos campos e as suas árvores de frutas, e para fazer rodar cinquenta e oito rodas de moinho. Passados 260 anos, pouca da sua água garante a rega de algumas hortas e pouco mais. O progresso foi padrasto para estes dois rios, como, aliás, para muitos outros.

Em linhas realçadas, os percursos dos rios Tinto, à esquerda, e o Torto no concelho do Porto, freguesia de Campanhã. Pormenor da Carta Topográfica da Cidade do Porto levantada por Augusto G. Telles Ferreira, por ordem da C. M. do Porto,1892

“No início do séc. X[3], os Cristãos estavam a ganhar terreno aos Mouros. Governava o território da Galiza até Coimbra, tendo como centro o Porto, o Conde Hermenegildo Gutierres. O califa Abdelramam III com um poderoso exército fez uma violenta investida, cercando a cidade do Porto. O rei Ordonho II desceu em socorro do seu sogro, o Conde do Porto, conseguindo afastar os mouros e perseguindo-os para longe da cidade. Junto a um límpido ribeiro, travou-se sangrenta batalha. Na memória do povo, ficou o sangue derramado que, de tão abundante, tingiu as cristalinas águas do rio que, desde então se passou a chamar Rio Tinto” - in Magalhães et al. (1999a). Na realidade, o topónimo já existiria aquando daquela batalha, e, segundo um autor, em 1825, “a cor das águas, deve-se à natureza do solo pois o dito (rio) corria por um leito devoniano[4] onde abundava o grés vermelho” (Marinho, 2003). Também o topónimo Ranha que significa “choro ou pranto” (actualmente um lugar de Rio Tinto), está ligado ao rio, segundo a Monografia de Campanhã[5], pois quando a corrente era forte e arrastava terras férreas, que davam um tom avermelhado às águas do rio, as mulheres daquele lugar, que consideravam ser um sinal de que algo de mau estava para acontecer, juntavam-se junto ao rio clamando e chorando (Marinho, 2003). No Guia de Portugal é referido que em Campanhã corria uma linha de água (que vinha do alto do Monte Aventino) conhecida como o regato de Mijavelhas (rio Tinto), onde durante o Inverno funcionavam algumas azenhas como a de Tiraz e de Tavilhe, etc. (FCG, 1985, citado por Andressen, 2009[6]).




O Rio Tinto na sua

passagem pelo Parque Oriental.










O Rio Tinto nasce no lugar de “Montes da Costa”, na Formiga, pertencente à freguesia de Ermesinde, Concelho de Valongo. O seu trajeto[7] desenvolve-se ao longo de 11,7 km, dos quais aproximadamente 3 km no concelho do Porto com cerca de 110 m canalizados a 280 m da sua foz, definindo uma bacia hidrográfica que ocupa os concelhos de Valongo, Maia, Gondomar e Porto,  com cerca de 23,5 km2. Ao longo do seu percurso no Porto recebe, atualmente, quatro riachos, nomeadamente:
·         Ribeira da Lomba, que nasce no alto do Bonfim e a oeste do Monte das Antas, segue paralelamente à Rua Pinto Bessa em direção ao esteiro de Campanhã, caindo em cascata entre a Formiga e o monte do Pinheiro, sendo este o único local onde corre a céu aberto. Desagua na margem esquerda do rio Tinto junto da rotunda do Freixo. Entubado em cerca de 77%, a ribeira apresenta alguns troços a céu aberto junto da Estação de Campanhã.
·         Ribeira de Vila Meã, também denominada como Rio de Vila Nova ou de Campanhã, percorre as encostas do Monte das Antas e da Costa da Corujeira, passa pelo antigo lugar de Bonjoia, hoje Bairro do Monte da Bela e, descendo em cascata, desagua no Rio Tinto. Com 2,2 km de extensão, está canalizada em todo o seu percurso. Este ribeiro está bastante poluído com esgotos domésticos e industriais, transportando, em 2001, para o rio Tinto uma média de 2,3 ton/dia de carga orgânica. A carência química de oxigénio da água desta ribeira chega a ser superior à de um esgoto exclusivamente doméstico. Mesmo assim, não era a linha de água mais poluída do Porto.
·         Ribeira de Cartes, que nasce no vale das Antas, passa pela Rua dos Campeões, Alameda de Cartes, paralelamente à Rua do Peso da Régua, atravessa a Circunvalação e desagua no Rio Tinto. Apenas cerca de 2% da ribeira corre a céu aberto.
·         Ribeira de Currais, que tem uma extensão de 790 m, dos quais cerca de 2% a céu aberto. A Metro do Porto requalificou um troço da ribeira junto à estação Nau Vitória, na linha para Gondomar.

O Rio Tinto desagua no Rio Douro por debaixo da Ponte Grande de Campanhã de Baixo, na zona do Freixo.
Uma descarga clandestina no rio Tinto que se esconde com vergonha.

O rio Tinto contaminado com esgoto doméstico.

A qualidade da água do Rio Tinto e dos afluentes é condicionada pela existência de abundantes resíduos sólidos ao longo das suas margens, pela descarga direta de águas residuais industrias e domésticas devido à falta de infra-estruturas de saneamento básico, pela receção de água pluviais que arrastam contaminantes das ruas, estradas e campos da sua bacia hidrográfica, e pelas descargas das estações de tratamento de águas residuais (ETAR) de Rio Tinto (Gondomar) e do Freixo (Porto), sobretudo a primeira que tem operado em deficientes condições[8]. Ana Azevedo, 2014[9], escreve, com alguma ironia, que “os principais efluentes que contribuem para a má qualidade da água do rio Tinto são a ribeira da Lomba, a ribeira de Vila Meã e a ETAR do Rio Tinto”, complementando a afirmação dizendo “que a ETAR do Rio Tinto (responsável pelo tratamento das águas residuais do concelho de Gondomar) tem um funcionamento deficiente, originando o aumento exponencial da contaminação do rio e não o contrário como era de esperar”.
Hernâni Fernandes registou o valor para coliformes totais de 2,9x106 UFC/100 mL obtido numa amostra recolhida no Rio Tinto em ponto não definido. Este valor está de acordo com os obtidos em 2009 e 2010 pelas Águas do Porto (105 a 106 UFC/100 mL). Durante o mesmo período, a mesma entidade obteve em amostras recolhidas próximo da Foz, para a CQO, valores entre 40 e 100 mg/L O2. Segundo Paula Reis (2009), o Rio Tinto descarregava, em 2001, num ponto próximo da sua foz, uma média de 7,1 ton/dia de carga orgânica (com valores diários que variaram entre 5,1 e 13,3 ton/dia). O IQG (Índice de Qualidade Global da Água) do Rio Tinto foi classificado de má a péssima. O rio transportava em média, à entrada do concelho do Porto, 7,2 ton/dia de carga orgânica, com o valor máximo de 16,1 ton/dia.
No âmbito de um projeto de recuperação das linhas de água do concelho de Porto, a empresa “Águas do Porto, EM”, limpou, em 2007, a foz da Ribeira de Cartes e desviou para a ETAR do Freixo parte do esgoto que ela recebia. Segundo os jornais Diário de Notícias, Observador e Público de 28 de agosto de 2015, o Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território e Energia decidiu investir nove milhões de euros em equipamento para recuperar a qualidade da água do Rio Tinto, tendo admitido concluir as obras em 2018. No site da empresa Hidrofunção, Consultores de Engenharia, Lda[10], o projeto contempla a reunião, num interceptor implantado ao longo da margem do rio, das descargas da água tratada pelas ETAR de Rio Tinto e do Freixo e entrega direta no Rio Douro, contribuindo assim para a despoluição do Rio Tinto. Esta solução, bem à maneira portuguesa, não vai despoluir - apenas desviará a carga poluidora daquele rio para o Douro. Por outro lado, reduzirá o caudal deste rio no troço final, com efeito mais nefasto no período de verão. Assim vai a defesa do ambiente em Portugal.
O Rio Torto, que também tem assumido as denominações de ribeira da Granja e o de ribeiro de Campanhã, nasce no Monte das Lagoas, Baguim do Monte - Gondomar, onde percorre cerca de 2,5 km, passa por Fânzeres (3,5 km), São Cosme (3 km), faz fronteira, em 400 m, entre São Cosme e Campanhã, e entre Valbom e Campanhã durante aproximadamente 800 m. Depois de percorrer cerca de 2 (ou 3,2) km em Campanhã, na totalidade a céu aberto, desagua no rio Douro no lugar do Freixo, depois de passar por debaixo da Ponte Pequena de Campanhã, próximo e a montante da foz do Rio Tinto. No total tem o comprimento de 12 km. O Rio Torto, assim denominado por ser um rio que faz muitas voltas, era referido em 994 como “ribulum campaniana”[11], ou seja, Rio de Campanhã, e, em 1758, como rio da Barge[12].

O abandono do rio Torto é absoluto. Não parece, mas o rio passa por ali.


O rio Torto próximo da ponte do Gato.

Com base em amostragens realizadas em 2001, Paula Reis (2002) calculou a carga orgânica média transportada pelo rio Torto, próximo da sua foz no rio Douro, em 1,7 ton/dia de carga orgânica, com valores variando entre 0,65 e 4,7 ton/dia. À entrada do concelho do Porto o valor correspondente era de 1,4 ton/dia.
No relatório com o título Rede de Parques Metropolitanos na Grande Área Metropolitana do Porto atrás citado é proposto a criação do “Parque Rio Tinto e do Rio Torto” para “conferir qualidade ao ambiente urbano da zona oriental do Porto e da zona ocidental de Gondomar”. O relatório recorria ao Plano Diretor Municipal do Porto que estabeleceu o desenvolvimento do Parque Oriental do Porto, um espaço de lazer que resultará do aproveitamento e recuperação dos dois rios e dos espaços contíguos, que incluiria os Pólos da Azenha de Cima em Gondomar, o do Parque Oriental, o Agro - parque e a Zona Cultural do Freixo na freguesia de Campanhã. O primeiro passo foi dado em 2010  com a inauguração do Parque Oriental da Cidade que ocupa uma área de nove hectares ao longo do Rio Tinto. A área deste parque duplicará logo que seja concluído o processo de despoluição do Rio Tinto. É um belo parque que deve merecer a visita e o respeito dos portuenses e gondomarenses. A Zona Cultural do Freixo foi requalificada, tendo-se recuperado integralmente o Palácio do Freixo e o arranjo dos espaços envolventes que levou a criar um novo jardim público com cerca de 40.000 m2 de área.

O rio Torto tem uma boa capacidade de recuperação. A foto mostra que a água próximo da foz é bastante clara.

Segundo as Memórias Paroquiais na Divisão Administrativa do Porto, transcrita em “Campanhã – Monografia”, “são as águas desta freguesia muitas, e muito salutíferas, e se tem averiguado, que a da Fonte da Igreja, a da Fonte da Granja, e a da fonte do Gorgulhão, em Contumil, são das melhores que há entre Douro, e Minho, se bem que não estão com a estimação que merecem. Há nesta freguesia a fonte de Bonjoia, na estrada que vem do Porto para ela, e para a freguesia de Fânzeres, de cujas águas se tem experimentado efeitos maravilhosos”. Exceto a Fonte da Igreja, desconhece-se o destino das outras três fontes.
A Fonte da Igreja, sita na Rua da Corujeira de Baixo, próximo da Igreja de Campanhã. Em 1943, esta fonte e a área envolvente foram recuperadas. A fonte encontra-se abaixo do nível do solo e muito abaixo da rua que lhe dá acesso. Para lhe chegar é necessário entrar por um portão que tem a indicação de “Fonte da Igreja” e descer uma escadaria. A fonte tem uma única bica e por cima a porta de acesso à sua mina.


O estado da Fonte da Igreja nos nossos dias.

A Fonte da Granja ficava, segundo J. Bahia Júnior, 1909, no lugar da Granja, não muito longe da Rua da Senhora da Hora, na estrada de S. Roque da Lameira, a seguir a uma Capela. Uma delas localizava-se junto à Fábrica de S. Roque da Lameira (Fábrica d’Antimónio), no lugar chamado Rio de Cartes. Tinha uma bica de ferro galvanizado e, junto dela, um tanque e lavadouro. Por cima da bica tinha a inscrição 1893 e, sobre a porta da nascente as iniciais C. M. P. A sua nascente era próxima e a sua água terá sido boa até à abertura da fábrica. A água desta fonte era bacteriologicamente má (Bahia Júnior, 1909, página 43). Velasques, 2001 e Marçal, 1968, referem a Fonte da Levada na rua do mesmo nome. Levada era também o nome do ribeiro a que chamavam rio da Granja que passava próximo da Fonte da Granja. Será Levada e Granja o nome da mesma fobte?


Fonte da Granja, indicando-se a sua nascente da água (N) (J. Bahia Júnior, 1909, pág. 63).

A Fonte da Cana ficava, segundo J. Bahia Júnior, 1909, na estrada de S. Roque da Lameira, a seguir a uma Capela. Uma delas localizava-se junto à Fábrica de S. Roque da Lameira, no lugar chamado Rio de Cartes (fig. 111). Tinha uma bica e, junto dela, um tanque e lavadouro. A sua nascente era próxima e a sua água terá sido boa até à abertura da fábrica. A sua água era bacteriologicamente má (Bahia Júnior, 1909, página 43).


Fonte da Cana (J. Bahia Júnior, 1909, pág. 66).

A Fonte do Gorgulhão, referida na “Descripção da Igreja e da Freguesia de Santa Maria da Campanhã, no ano de 1758[13] é localizada, neste documento, em Contumil. Não é conhecida nenhuma outra referencia a esta fonte. J. Bahia Júnior, 1909, descreve a Fonte de Contumil que se localizava na Travessa da Fonte, mo lugar que foi conhecido por “Rio do Gorgulho”. Era uma fonte de chafurdo, com o charco protegido por uma abóbada. A água nascia no meio do charco, juntando-se água que vinha de uma mina próxima. As vertentes seguiam para uns tanques com lavadouros. Os ensaios microbiológicos sob a direção do Professor Souza Júnior demonstraram que a água desta fonte era de má qualidade e, devido à sua natureza, levava à frequente contaminação da água com imundícies, sobretudo nos dias chuvosos..
A Fonte de Bonjoia ou de Nossa Senhora de Campanhã, que se encontra na rua de Bonjoia (fig 117) debaixo de um dos viadutos da Via de Cintura Interna, encostada ao aqueduto que levava água de uma mina existente não muito longe da estação de Campanhã para aquela quinta. Segundo a lenda[14], em 1742 ou 1722 segundo a lápide que se encontra no Monumento da Senhora que está junta à capela, ano de grande seca, percorria aquele sítio a procissão em honra de Nossa Senhora de Campanhã a quem pediam chuva. A dada altura caiu a imagem do andor partindo dois dedos de uma mão. No dia seguinte, no lugar da queda, brotou milagrosamente água de uma rocha que está próxima da fonte. Aí se levantou, em 1862, um monumento descrito por J. Bahia Júnior, 1909, em cujo plinto da coluna constavam os seguintes dizeres:
(LADO SUL)
À MEMORIA DE N. S. DE CAMPANHÃ EM RECONHECIMENTO DA GRANDE SECA Q HOUVE EM MARÇO NO ANO DE 1742. NO DIA 23 DE MARÇO DO ANO DE 1742 (sic) INDO N. S. DE CAMPANHÃ EM PROCISSÃO À SÉ POR CAUSA DA GRANDE SECCA Q. HOUVE N'AQUELLE ANO NA OCAZIÃO EM Q. N. S. REGREÇAVA A
(LADO POENTE)
IGREJA CAHIO AQUI O ANDOR BATENDO A S. COM O SEU SANTÍSSIMO BRAÇO ESQUERDO NA ROCHA FRONTEIRA QUEBRANDO DOIS DEDOS COMESOU LOGO A BROTAR A ÁGUA Q AÍNDA HOJE SE FAS MENÇÃO OS DEVOTOS JOÃO COELHO DA ROCHA E JOSÉ PEREIRA CAMPOS MANDARAM COLLOCAR ESTE HUMILDE MONOMENTO EM RECONHECIMENTO DE TÃO GRANDE MILAGRE.

Em honra da Santa o povo construiu, em 1959 - 1961, uma capela a Ela dedicada, a da Senhora da Fonte, e recuperou a fonte.
No espaldar da fonte havia uma legenda onde se podia ler: "Esta obra mandou fazer D. Lourenço d'Amorim da Gama Lobo em memória e reconhecimento do milagre por ocasião da grande seca que houve em março do ano de 1724 (sic)” (J. Bahia Júnior, 1909). Segundo Silva, 2000, a água desta fonte tinha “efeitos milagrosos e que curava vária moléstias, nomeadamente doenças do estômago”. Contudo, a construção de um lavadouro ao lado do monumento acabou por estragá-la. A fonte tem uma bica a um nível baixo devido ao nível a que se encontra a mina. Junto da nascente fizeram um lavadouro que terá estragado a água que antes era de boa qualidade. Bahia Júnior, 1909, considerava a água como bacteriologicamente má.

A Fonte de Bonjoia, que pode ser vista sob a Via da Cintura Interna.


Capela construída em 1959-61, memória da Fonte da Senhora.



Monumento da Senhora junto da Fonte de Bonjoia, construído no séc. XIX, muito antes da capela.


A Fonte de Bonjoia em 1909. Repare-se no aqueduto que alimentava a Quinta de Bonjoia, hoje parcialmente destruído e coberto pela Via de Cintura Interna. J. Bahia Júnior, 1909, pág. 68

A Fonte de Azevedo de Campanhã estava localizada no início da rua do mesmo nome, próximo da Circunvalação e do então existente Posto Fiscal de Campanha. Tinha a inscrição de 1871. Está registada por J. Bahia Júnior, 1909, pág. 15, que indica que a água vinha de uma “boa nascente”. Ficava numa descida para o Parque Oriental. Atualmente, existe um fontanário ao lado de uma pequena capela com as características de “alminhas”.
A Fonte de São Roque, assim chamada porque se encontrava próxima da Capela com aquele nome, estava situada, segundo  Souza Reys, no lado sul da estrada de Valongo. Esta fonte é descrita por J. Bahia Júnior, 1909, que a situa na rua de S. Roque da Lameira, junto ao prédio que então tinha o n.º 1812. A água desta fonte era, em 1909, abundante, de boa qualidade e tinha origem em uma nascente próxima. A fonte, de duas bicas e tanque, estava integrada num amplo espaço semi-circular limitado por um muro com a altura do espaldar da fonte. Em 1912, foi solicitada à Câmara Municipal do Porto a instalação de um fontanário e lavadouros na Rua de São Roque da Lameira, ao Ilhéu, pedido que foi cumprido em 1914. A Fonte do Ilhéu, de chafurdo, esteve localizada em S. Roque da Lameira, no local onde se encontra atualmente o Bairro do Ilhéu. Em 1899, na rua de S. Roque da Lameira, antiga estrada Real n.º 33, ano em que os moradores da zona impediram que fosse levantado um muro que cortava o acesso à fonte (J. Bahia Júnior, 1909, pág. 19). O terreno aonde a fonte se situava foi cometido, em 1908, à CMP. A sua água, em 1909, tinha qualidade bacteriológica aceitável. Segundo um testemunho local, esta fonte terá sido desmantelada por volta de 1960, vítima da urbanização.

Fonte de São Roque. Fonte: Bahia Júnior, 1909, pág. 67.


Fonte do Ilhéu. Fonte: Bahia Júnior, 1909, pág. 20.

A Fonte da Presa Velha, talvez a mais antiga da freguesia (Souza Reys), ficava na Rua da Presa Velha, no antigo lugar da Formiga e não muito longe da Capela da rua do Heroísmo. A fonte ficava num fundão, sendo acessível por uma escada. A água desta fonte, que. na realidade, não passava de um charco, era, em 1909, de muito má qualidade microbiológica, das piores da freguesia de Campanhã, segundo os registos de J. Bahia Júnior.

Fonte da Presa Velha. Fonte: Bahia Júnior, 1909, pág. 60.

A Fonte da Agra (charco) ficava um pouco abaixo da Fonte da Presa Velha, na Travessa da Agra, próxima da linha de caminho de ferro a ocidente da Estação de Campanhã. Era um charco em forma de gruta (JBJ, pág. 43) A água desta fonte, que exalava um cheiro horrível e estava coberta por uma crosta imunda, era, segundo Bahia Júnior, bacteriologicamente péssima. A fonte era, na realidade um poço que, por não estar protegido, recebia enxurradas e o refluxo da sua presa. Em 1928, para garantir água com qualidade à população daquela zona foi inaugurado o fontanário da Rua da Presa Velha.

A Fonte da Agra com a sua presa e lavadouros. Fonte: Bahia Júnior, 1909, pág. 61.

A Fonte, ou, como lhe chama J. Bahia Júnior, 1909, a presa de Noeda, situa-se na Rua ou Largo da Noeda, localizado à esquerda de quem desce a Rua do Freixo. Na realidade, ela passou a ser fonte quando, em 1914, a C. M. do Porto a reconstruiu, restaurando-a mais tarde, em 1942. A qualidade da água desta nascente e da fonte era bacteriologicamente sofrível ou mesmo má, em 1909. Neste ano saía de uma bica que recebia a água da nascente que ficava à distancia de 10 m. J. Bahia Júnior revela que o trajeto da caleira estava pejado de bolos fecais. A água da fonte alimentava um tanque lavadouro. Em fevereiro de 1914, a Junta de Freguesia de Campanhã pediu à CMP a instalação de um marco fontanário no lugar de Noeda, o que aconteceu algumas semanas depois. Atualmente, subsistem os seus tanques lavadouros.

Fonte de Noeda com o seu tanque lavadouro. J. Bahia Júnior, 1909, pág.61


A Fonte da Lameira de Cima estava situada na rua do mesmo nome (Velasques, 2001, J. Bahia Júnior, 1909). Na fotografia seguinte vê-se, na face da pedra em que está sentado o indivíduo de chapéu, a torneira que servia para encher os cântaros. Ainda na figura, a caleira que se vê encaminha a água em excesso para o tanque com lavadouro. Bacteriologicamente, a água desta fonte era péssima (Bahia Júnior, 1909, pág. 43) porque a mina tinha infiltrações que a contaminavam. Em 1921, A Junta de Freguesia opõe-se a um pedido da Fábrica de Serração para a construção de lavadouros junto desta fonte, alegando que a empresa pretende aproveitar essa água. A CMP concordou com a posição da Junta. Um ano depois, os moradores queixaram-se à junta que a fonte deixou de ter água, responsabilizando a fábrica.

A Fonte da Lameira de Cima. Fotografia de J. Bahia Júnior, 1909, pág. 67.

Terá existido a Fonte da Praça das Flores? Encontra-se no meio do jardim da Praça das Flores aquilo que parece ter sido parte de um de dois espaldares de uma fonte que aí terá existido. Ouvimos um testemunho que conheceu aquela fonte na década de 1960, afirmando que o que resta dela corresponde a pouco menos de metade da fonte. Estranhamos que não existam referencias na literatura disponível, mas este não é um caso que nos leve a desistir de encontrar a verdade.

Será este espaldar o que resta de uma fonte que terá existido a Praça das Flores?

A Fonte do Pego Negro, segundo Velasques, 1991, terá existido na rua do mesmo nome. Na pesquisa que fizemos encontrámos aquilo que pode ter sido essa fonte (ver figura seguinte) localizado num muro de suporte que se encontra do lado direito da rua, junto de uma habitação com o número 735, poucos metros antes da ponte sobre o rio Tinto onde existem vestígios de um antigo moinho.

Será a Fonte de Pego Negro?

A Fonte ou Charco do Lagarteiro ou Ribeirinho ficava esta fonte a ladear a estrada da Circunvalação e a propósito dela, escrevia J. Bahia Júnior: “Seguindo de novo pela Estrada da Circunvalação, pouco antes de chegarmos ao Posto Fiscal de Tirares, vemos á nossa direita uma rampa, á maneira da que já descemos para a Fonte dos Cantoneiros, pela qual, seguindo e atravessando a estrada exterior á da Circunvalação, entramos em um caminho que leva á Ponte da Lagarteira, logo abaixo desta estrada. A meio caminho da Ponte temos, á nossa direita, a Fonte do Ribeirinho, na rua do mesmo nome”. (fig 109 JBJ). Segundo J. Bahia Júnior, a água era de qualidade duvidosa porque a contagem de bactérias totais era elevada (Bahia Júnior, 1909, pág. 43).
A Fonte dos Cantoneiros foi assim batizada por J. Bahia Júnior, 1909 porque tinha sido feita pelos profissionais com aquele nome. Localizava-se numa estrada paralela e exterior à Circunvalação, não muito longe do Posto Fiscal do Freixo. Esta fonte era simplesmente um tubo de barro inserido num dos lados da valeta. A água da bica encharcava a valeta e, atravessando por baixo da estrada, abastecia uma presa que existia do lado oposto. Será esta fonte a referida por Marçal, 1968, como Fonte do Freixo?

Fonte do Conselheiro Brandão. J. Bahia Júnior, 1909, pág. 64.

A Fonte do Campo (JBJ) ou da Memória, situou-se na Estrada de Valongo e foi mandada construir por D. António d’Amorim da Gama Lobo (Souza Reys). Seguindo pela Circunvalação e chegando ao antigo Posto Fiscal de Campanhã, existia um caminho que levava ao lugar de Azevedo de Campanhã. Neste caminho, encontrava-se à direita a Fonte do Campo, que tem a sua nascente dentro da Circunvalação a 80 metros da fonte. Tinha uma bica e um tanque, e uma inscrição onde constavam as iniciais C. M. e indicava a data de 1871. (fig 108 ). A água desta fonte era, em 1909, era, com algumas dúvidas, boa. J. Bahia Júnior, 1909 descreve uma fonte, muito próxima daquela, que baptizou como do Conselheiro Brandão que teria sido mandada construir poucos anos antes e para a qual teria cedido a água de uma mina situada perto dela. Essa fonte localizava-se próximo da Estrada da Circunvalação ao chegar ao Posto Fiscal de Campanhã. Bacteriologicamente, a qualidade da água desta fonte era aceitável.

Fonte do Campo, em 1908 (J. Bahia Júnior, 1909, pág. 64)


A fonte do Campo, em 2018.

Bahia Júnior, 1909, localiza a Fonte da Rua do Freixo ou do Esteiro de Campanhã ou do Padrão de Campanhã, na rua do Freixo no início da Rua da Senhora da Hora, próxima do Esteiro de Campanhã. Ainda aí se encontra abandonada, servindo de recipiente para o lixo. A nascente que a abastecia situava-se no sítio da Granja, depois da Capela de S. Pedro e  próxima da Rua da Senhora da Hora. Esta fonte foi construída por subscrição entre os habitantes do lugar que também compraram a mina que a abastecia (Souza Reys). Como o valor obtido não foi suficiente, foi pedido o apoio da C. M. do Porto, que o concedeu em 1860 (Bahia Júnior, 1909).  A construção da fonte deve ter ocorrido no ano seguinte. Nos anos de 1940 aquela fonte sofreu melhorias que facilitaram o acesso à fonte que se encontra a um nível inferior ao da estrada. Em 1909, a água desta fonte apresentava boa qualidade bacteriológica.

A abandonada Fonte do Esteiro de Campanhã, receptáculo de lixo.

A Fonte do Fontelo era, segundo J. Bahia Júnior, 1909, um charco desprotegido situada no lugar então denominado de Fontelo a que se chegava pela Rua Vasquez de Mesquita, próxima da Rua Fernão de Magalhães e do nó das Antas da Via de Cintura Interna. A água nascia no granito e era retida numa presa com lavadouro ao lado do charco. A sua água era de péssima qualidade.
A Fonte do Rego do Lameiro (JBJ) estava situada no lugar do Rego do Lameiro, na Estrada da Circunvalação, junto à margem do rio e fronteiro ao . A água era lançada de uma bica para um tanque que ocupava toda a largura da abóbada. A fonte estava sob a abóbada aberta no muro da antiga fábrica de telha “A Marselhesa” A mina que abastecia a fonte encontrava-se a um nível superior à bica. Aparentemente, a água desta fonte parecia bacteriologicamente boa (Bahia Júnior, 1909, pág. 43).
J. Bahia Júnior localiza o Charco de Godim na lugar e rua do mesmo nome que atualmente nasce na rua do Bonfim e termina pouco depois da rua do Monte da Estação. Não era mais do que um dique que retina água da chuva e de uma mina de pouca água. Apesar da sua fragilidade, este charco servia para o abastecimento do povo das redondezas.
Segundo Souza Reys, a Fonte do Cais estava assente inferiormente ao muro da Quinta do China, na Marginal do rio Douro. A água repuxa de um pequeno pedestal de pedra, caindo numa pia onde matavam a sede os animais que por ali passavam. O mesmo autor refere a Fonte do Padrão de Campanhã, “quase em frente da Capelinha ereta à imagem do Senhor Crucificado”, a Capela da Rua do Heroísmo. Esta fonte recebia a água do Manancial do Campo Grande.
A literatura refere um conjunto de fontes deste freguesia, que se apresentam no quadro seguinte. Infelizmente, pouco ou nada se encontrou na pesquisa efetuada que as descrevesse. Esperemos poder vir a fazê-lo no futuro próximo.

Fontes da freguesia de Campanhã referidas, mas não descritas, na literatura.
Fonte
Referências
Observações
Aguada
 -
Ver capítulo 2
Águas Férreas
Marçal, 1968;

Coura
Marçal, 1968; Velasques, 2001

Lagarteira
Marçal, 1968; Velasques, 2001
Ficava na Rua da Lagarteira
Freixo
Marçal, 2001;
Desaparecida
Pinheiro
Marçal, 2001
Localizava-se na Rua do Pinheiro de Campanhã, próximo da moagem Céres
Currais
Monografia de Campanhã

Pedrinha
Monografia de Campanhã
Próxima da Roteia da Espadaneira
Covelo
Monografia de Campanhã
Próxima da Roteia da Espadaneira. Era propriedade do Cabido
Barcos
Monografia de Campanhã

Boavista
Velasques, 2001
Localizada na rua das Antas, era abastecida com água da Quinta do Fojo
Maleda
Velasques, 2001

Casa da Água
?
?
Levada
Velasques, 2001

Rua da Estação
Velasques, 2001

Rua Garrett
Velasques, 2001,
Ver capítulo 5
Rabadas
Velasques, 2001

Pinheiro
Velasques, 2001

Chafariz municipal da Paróquia de Santa Maria Campanhã
Arquivo Municipal do Porto
Ver figura seguinte



Aspecto do chafariz municipal da Paróquia de Santa Maria da Campanhã, 1963.Arquivo Municipal do Porto, GISA, descarregado de https://goo.gl/Qb2zKD em 23/6/18.

A expansão da rede de abastecimento de água ocorreu com bastante lentidão no período em que ela dependia da Compagnie Générale des Eaux pour l’Étranger. Mesmo que ela crescesse mais depressa, o elevado custo das ligações impedia que os menos favorecidos fossem servidos com a água da rede pública. O problema agravava-se nas freguesias limítrofes onde as áreas a cobrir pela rede eram maiores e onde as populações tinham menos poder de compra. A CMP foi fazendo um esforço em servir as populações instalando marcos fontanários servidos pela rede, em substituição das fontes que apresentavam água de má ou péssima qualidade. Na freguesia de Campanhã, para além dos marcos fontanários atrás referidos, muitos outros foram colocados, quer a pedido dos moradores quer da Junta de Freguesia de Campanhã, como são os seguintes casos referidos pelas Memorias de Campanhã:
·         Recuperação dos fontanários da Corujeira, nos quais foram instaladas duas torneiras em dezembro de 1921;
·         Lugar de S. Pedro, inaugurado em outubro de 1925;
·         Em 1927, a JFC pede a instalação de um fontanário na Rua do Falcão, reiterado em 1936 pelos moradores do Falcão e Corujeira;
·         Em 1928, a JFC pede um fontanário para a rua da Formiga;
·         Em 1929, é pedido o fontanário para a Rua de S. Roque da Lameira, frente à rua de Pinheiro Grande, inaugurado em 1930;
·         Em 1930, a JFC pede a colocação de um marco fontanário na Rua de Vila Meã. Este pedido é reiterado pelos moradores em 1932, que voltam a insistir com o pedido em 1950;
·         Em 1943, os moradores pediram a transferência do fontanário existente na Rua do Freixo, respondendo os SMAS que ele iria ser colocado na Rua de Miraflor; porém, em 1951, os moradores pedem a colocação de um novo marco fontanário na Rua do Freixo;
·         Em 1946, a CMP colocou um marco fontanário na Rua da Ponte de Contumil;
·         Em 1948, é inaugurado o marco fontanário da Rua da Igreja.












[1] História da Freguesia de Campanhã da Junta de Freguesia de Campanhã, consultada, em 21 de agosto de 2017, em https://goo.gl/WBwT4B.

[2] Junta de Freguesia de Campanhã, “Campanhã – Monografia”, página 12, https://goo.gl/fQkLMs, consultado em 23/6/18.
[3] Alguns autores referem o ano de 920 da era cristã.
[4] O Devoniano é a quarta divisão da era Paleozóica, compreendendo o período entre 416 e 345 milhões de anos atrás, aproximadamente.
[5] Meireles, M. F. & Rodrigues, A. B. V. (coordenadores), Campanhã – Monografia, publicação da Junta de Freguesia de Campanhã, https://goo.gl/hBRFLp.
[6]Andressen, T. (Coordenadora), 2009, Rede de Parques Metropolitanos na Grande Área Metropolitana do Porto, Anexo A do Relatório Final realizado pelo Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Energéticos da Universidade do Porto para a Área Metropolitana do Porto.
[7] Hernâni António Neves Fernandes, 2009,
[8] Os rios portugueses têm sido desprezados pelo poderes públicos e privados, com o povo assistindo passivamente ao seu entubamento e ocupação das suas margens com todo o tipo de construções e das infra-estruturas a elas associadas. Muitas vezes, o desaparecimento dos rios e ribeiros resulta da necessidade que os governantes têm de esconder a má qualidade da sua água. O rio Tinto, como muitos outros foi vítima desses princípios quando, em 1997, a Câmara Municipal de Gondomar  entubou o rio na zona da Quinta das Freiras, quiçá para servir, entre outros, interesses imobiliários, e que levou a população local a reclamar com revolta. O rio está mesmo encanado nessa zona.
[9] Ana Sofia da Silva Azevedo, 2014, As saídas de campo pelo modelo de Nir Orion (1993): um estudo de caso sobre a avaliação da qualidade da água do rio Tinto”, relatório de estágio apresentado no âmbito do Mestrado em Ensino da Biologia e da Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto
[10] - https://goo.gl/jSgpbK, consultado em 3 de julho de 2016.
[11] O nome Campanha pode ter tido origem em “Villa Campaniana”, uma propriedade rural de tradição romana que ocupava as atuais freguesias de Campanhã do concelho do Porto, e Rio Tinto e Valbom de Gondomar.
[12] Andressen, 2009
[13] Publicado na Revista Literária – Periodico de Litteratura, Philosofia, Viagens, Sciencias, e Bellas-Artes, Tomo 11º, 6.º anno, Porto, 1843:pág. 447, https://goo.gl/WfoZAy, consultado em 7/72018.
[14] Memórias Paroquiais na Divisão Administrativa do Porto. Freguesia de Campanhã, transcrição de Campanhã - Monografia, https://goo.gl/s9ajht: «... Há nesta freguesia a fonte de Bonjoia, na estrada que vem do Porto para ela, e para a freguesia de Fânzeres, de cujas águas se tem experimentado efeitos maravilhosos; porque dizem os naturais antigos, que aquela fonte brotava de repente de entre as pedras de que salte; sucedendo cair do andor naquele sitio a Imagem de Nossa Senhora de Campanhã, recolhendo-se da Cidade do Pana, onde tinha ido (como outras vezes) a pedir chuva; e que, nessa é a razão de Ter a Senhora num braço encastoado, que então lhe quebrara, para ter hoje as mãos rotas para nos despender os seus beneficias por meio da água daquela fonte». A água teria rebentado miraculosamente por alturas de uma grande seca em 22 de Março de 1742.
.