segunda-feira, 20 de setembro de 2021

As quintas e jardins do Porto e a água


1ª Parte - Alamedas


Nos aglomerados populacionais os primeiros espaços dedicados a reuniões do povo foram a rua, os locais das feiras, dos mercados, e os edifícios de culto religioso com as suas áreas envolventes e do convívio da nobreza. A origem desses espaços perde-se nos tempos e acompanha a história da civilização humana. Na cidade do Porto as capelas e igrejas e os seus adros terão sido os primeiros espaços de reunião. Mas a sua condição de ponto de partida e chegada das trocas comerciais pelo rio e pelo mar levava uma boa parte da população do Porto para a Ribeira que era, também, o ponto do início dos caminhos que levavam as mercadorias para o interior e para o norte do país.

Quando o Porto se resumia, praticamente, a um pequeno burgo limitado por uma cerca, nas áreas extramuros predominavam grandes espaços verdes com vegetação autóctone, com uma pequena parte transformada em hortas que abasteciam a cidade com produtos frescos. Na cidade muralhada os quintais resumiam-se a pequenos espaços situados nas traseiras de cada prédio, restando algumas áreas de maior extensão nos Conventos - São Francisco, São Domingos, Santa Clara e São Bento de Ave Maria. A área correspondente à atual Praça do Infante D. Henrique era, então, o único espaço verde de uso público ocupando a área das antigas cercas dos conventos de São Francisco e de São Domingos, confiscados depois da Revolução Liberal. Circundam o jardim, o edifício do antigo Mercado Ferreira Borges (1885), onde hoje funciona a sala de espetáculos do Hard Club, o Palácio da Bolsa, propriedade da Associação Comercial do Porto, e as Igrejas de São Nicolau e São Francisco. O ajardinamento da Praça do Infante foi feito a partir de 1864. No centro do jardim encontra-se a imponente estátua do Infante D. Henrique que viveu ali bem perto e que olhava o rio que corria apressado para o Atlântico, oceano que alimentou os sonhos do Infante. A estátua foi esculpida por Tomás Costa, em 1894, apesar do escândalo provocado pelo afastamento da obra de Teixeira Lopes e porque importantes membros que consideraram o júri de incompetente ao escolher, segundo Guerra Junqueiro, um projeto que era “abaixo de medíocre (...) Um Infante D. Henrique de Ópera-Cómica, vocalizando uma ária...” .

Os espaços propositadamente destinados ao comércio, a reuniões do povo e lazer surgiram, nos finais do século XVI, fora da Muralha Fernandina, mas próximos das portas e ao longo das principais vias para a periferia. Desses campos, o primeiro localizou-se entre a Porta dos Carros e a Fonte da Arca, e o segundo junto à Porta do Olival . Como o primeiro espaço era um ponto de confluência de águas, existiam excelentes condições para a sua arborização e para a construção de uma das mais importantes fontes do Porto, a Fonte da Arca. Terá sido junto desta que se desenvolveu o primeiro mercado fixo para aproveitar a visita daqueles que procuravam a frescura dos choupos ali plantados e de bancos de pedra que proporcionavam o descanso. A qualidade do espaço foi uma das razões que levou a transferir a centralidade da cidade da Praça da Ribeira para a Praça Nova quando o comboio chegou à estação de S. Bento. 

Acompanhando a revolução científica que teve início no século XVI, o estudo da água começou a ser feito tendo em conta o seu movimento e a sua dinâmica. O desenvolvimento da hidráulica foi bem aproveitado, a partir do século XVII, para transformar o jardim do barroco mais atraente, mais fresco, com uma componente cultural nunca antes conseguida. Escreveu Heinrich Wölfflin , que era “inconcebível uma “villa” barroca sem água. Ela é o elemento preferido do século, o ruido é indispensável ao barroco: massas rumorosas de folhagem, correntes rumorosas de água”. A água passou a ser incorporada nos jardins na forma de fontes, cascatas, jogos de água, etc. O plantio de árvores e a existência de água antecederam, quase sempre, a criação de espaços públicos de comércio, prazer e ócio. Disso são exemplos, na cidade do Porto, a Cordoaria, fora da Porta do Olival, onde veio a ser instalado o chafariz do Olival, e a Batalha, fora da Porta do Cimo de Vila onde foram plantadas diversas espécies de árvores e onde havia um chafariz – o de Nossa Senhora da Batalha. No século XVIII começaram a florescer quintas de recreio em terrenos férteis e de águas abundantes, como aconteceu em Campanhã ao longo dos rios Tinto e Torto, particularmente próximo da foz destes rios.

A cidade do Porto foi-se expandindo a partir do núcleo urbano limitado pelos muros que o cercavam, o último dos quais a Muralha Fernandina, com a sua área fortemente ocupada e com reduzida área verde. Se considerarmos que a área do burgo correspondia um anel, o seu crescimento para fora dos seus muros acrescentou-lhe um segundo anel com a área que corresponde à expansão da cidade nos séculos XVII e XVIII, sobretudo no “Período dos Almadas”. Esta ampliação da cidade baseou-se na definição na zona exterior da Muralha, entretanto demolida a pouco e pouco, de cinco vias de saída da cidade que demarcavam linhas de expansão da habitação. Na primeira década do século XIX, foram definidas duas áreas para urbanização: uma, a norte do Hospital de Santo António, que incluía as atuais ruas de Adolfo Casais Monteiro, Miguel Bombarda, Rosário e do Breyner; a segunda era limitada pelas ruas de Santa Catarina, da Alegria, Formosa e Fernandes Tomás. Foram, então, desenvolvidos os traçados dos arruamentos, com projetos de fachadas uniformes ao longo de ruas inteiras. Os lotes para construção eram obrigados a obedecer às regras impostas pelos planos, tendo-se estabelecido o lote padrão com a largura de cinco ou seis metros e comprimento variável que podia chegar aos cem metros.

Como era bom, ainda há poucos anos, aceder a uma janela das traseiras da rua do Rosário e estender o olhar através dos quintais que ocupavam toda a área limitada pelas traseiras dos prédios das ruas do Rosário, Miguel Bombarda, de Cedofeita e do Breyner. Esses quintais, muitos deles com poços, representavam importante riqueza pelos produtos agrícolas que forneciam e pela retenção da água da chuva que repunha os mananciais. Infelizmente, uma boa parte desses quintais foram impermeabilizados pelo aparecimento de garagens e outras estruturas, entre as quais as “ilhas do Porto”, de construção desordenada, quiçá clandestina, de muito mau gosto e dando um injusto proveito a quem delas era dono. Não restam dúvidas que o ataque desenfreado a essas enormes áreas verdes terá enchido o bolso de alguns, mas empobreceu a cidade e os tripeiros. Só as crises económicas mais recentes é que vieram dar algum descanso aos cidadãos que não aceitam o princípio de a selva de betão ser o melhor refúgio do homem.

Como em muitas outras cidades europeias, foram os campos fora de portas onde se realizavam as feiras e outros encontros da população que deram origem a muitos dos jardins que chegaram aos nossos tempos, sobretudo aqueles que estavam mais próximos do núcleo. A construção dos jardins públicos como de muitas outras estruturas públicas ligadas à higiene, ao conforto e ao descanso, pretendiam também contribuir para o desenvolvimento pessoal da classe operária que tinha emergido com a revolução industrial que desabrochou no final do século XVIII. Por isso, para além de obras de arte, muitos coretos se instalaram nos jardins que foram nascendo. Do Campo do Olival nasceu o Jardim da Cordoaria, o das Hortas na Praça Nova, o dos Ferradores na Praça Carlos Alberto, o de Santo Ovídio na Praça da República que adotou o nome Teófilo Braga, o de São Lázaro no jardim de São Lázaro, o de Mijavelhas no Jardim do Campo 24 de Agosto, o da Aguardente no Jardim do Marquês de Pombal, a de Arca d’Água (1928), etc. 

O art.º 47 do Regulamento do PDM de 2012 considera como “Espaços verdes com valor patrimonial” as quintas e jardins com valor histórico ou que, pela sua composição arquitetónica e vegetal, sejam relevantes para a história de arte dos jardins do município do Porto e promotores da preservação da identidade cultural da cidade. Segundo “Valores Patrimoniais - Relatório de Caracterização e Diagnóstico da Revisão do Plano Diretor Municipal do Porto, de abril de 2018, estavam registados na Carta do Património 49 espaços verdes com valor patrimonial, 20 jardins públicos (Alameda das Fontainhas, Rotunda da Boavista, Av. de Montevideu, Cordoaria, Praça da República, Praça Mouzinho de Albuquerque, Arca d´Água, Botânico (antiga casa da família Andersen), Carregal, Marquês de Pombal, S. Lázaro, Palacete do Visconde Villar de Allen e Casa das Artes, Palácio de Cristal, Passeio Alegre, Carlos Ramos, Serralves, Águas do Porto, E. M. (antiga Quinta do Barão de Nova Sintra), Rua de Serralves, Coordenação da Região Norte, Faculdade de Psicologia e Ciências Sociais), 14 jardins privados (Antiga Casa de Honório Lima e Casa do Barão do Seixo, Casa da Fundação Eng. António de Almeida, Casa da Viscondessa de Santiago de Lobão e Edifício sito na Av. Da Boavista, Casa de Pedra, Casa Nobre de Narciso José de Sousa, Habitação Unifamiliar na R. do Marechal Saldanha, duas Moradias na Av. da Boavista, Moradia na R. de Campo Lindo, Ordem dos Médicos (S.R.N), conjunto de casas na Av. Da Boavista, Hospital Conde Ferreira, e o jardim dos Ingleses) e 15 quintas (da Prelada, Casa de Ramalde, Casa Tait, Casa Villar d' Allen, Bonjóia, China, Revolta, Cepêdas, S. Roque da Lameira, Salgueiros, Covelo, Vilar ou Quinta do Pacheco Pereira, Viso ou do Rio, Horto das Virtudes, Palácio do Freixo). Para além destes, consideramos importante referir quatro parques e muitos outros pequenos jardins públicos espalhados pela cidade.

Como noutras áreas do desenvolvimento do Porto, a ação dos Almadas foi determinante na criação de espaços de lazer e passeio na segunda metade do século XVIII, favorecida pela prosperidade económica que então se vivia devido ao comércio de vinho do Porto. No entanto, a abertura da primeira Alameda, a do Campo do Olival, foi da responsabilidade de Filipe II à custa de um imposto lançado sobre o vinho. No período dos Almadas foram abertas as Alamedas das Virtudes, das Fontainhas, de Massarelos, as três com uma fonte ou chafariz e com um ponto em comum: delas contemplava-se o deslizar do Rio Douro e o movimento dos barcos rio acima, rio abaixo. Estas Alamedas tinham bancos para descanso ao longo do seu percurso e eram ladeadas por frondosas árvores que ofereciam a sua sombra aos passeantes.


Alameda das Fontainhas

No limite sul da freguesia do Bonfim e sobre a escarpa que desce para o rio Douro abre-se uma varanda com vistas para paisagens deslumbrantes, a Alameda das Fontainhas. Começando no Largo Actor Dias a alameda prolonga-se até à rua de Gomes Freire, antes de Wellesley. No fundo, desliza o imponente Douro que arrastou, nos séculos da sua história, a riqueza que deu valor ao Porto. Subindo os olhos pela escarpa de Gaia, depara-se com o Mosteiro da Serra do Pilar, majestoso vigilante observador da margem norte do rio. Ligando as duas escarpas, podem-se admirar quatro pontes, a de D. Maria Pia, construída em 1877 para que os comboios pudessem chegar a Campanhã e substituída, em 1991, pela moderna Ponte de São João, a Ponte de D. Luís I, idosa mas cheia de vida, e a Ponte do Infante que recebeu, em 2003, o trânsito automóvel que deixou de passar no tabuleiro superior da Ponte de D. Luís a troco da passagem do metropolitano. A Ponte do Infante juntou-se à existente ocupação do espaço pelos automóveis para desfigurar o Passeio e retirar-lhe a sua importância. 

A Alameda das Fontainhas é um dos projetos do Plano de Modernização do Porto desenvolvido por João de Almada e Melo, aberta ao público em 1769, foi o pontapé de saída para a urbanização daquela área que se foi desenvolvendo ao longo do séc. XIX. O projeto foi seguido, no final do séc. XVIII, por Francisco de Almada e Mendonça, que aproveitou a abundância de água para ali construir a Fonte das Fontainhas e no parapeito inferior da alameda, os lavadouros. Cedo este espaço com o seu arvoredo despertou a atenção da burguesia do Porto que via naquele local uma boa área para lazer, esticar as pernas, desfrutar a bela paisagem e refrescar-se com a água da fonte, considerada então como a melhor da cidade. O Passeio Público e as suas vistas foram tão importantes para a cidade que levaram a CMP a proibir, em 1813, a construção de casas que iriam tapar as suas vistas. Aproveitando a sua posição estratégica, as forças liberais ali instalaram a sua artilharia para fustigar os miguelistas, em 1832, que se encontravam do outro lado do rio. O resultado foi o esperado - muitas das casas da zona foram destruídas pelos bombardeamentos, obrigando a reformar a área na qual se incluiu o fim do Matadouro das Fontainhas, autêntico espinho espetado na alameda. As Fontainhas estão associadas, desde meados do séc. XIX, aos festejos de São João. Existirá algum tripeiro que não tenha passado pelas Fontainhas na noite de São João?


Alameda das Virtudes

A Alameda das Virtudes nasceu no espaço ganho, no final do séc. XVII, com a construção de um alto e resistente muro em granito. Nesse espaço fez-se o plantio das árvores que vieram a dar a frescura à varanda que permitia olhar para o rio Douro e para o rio Frio, mais tarde coberto. Viu nascer o edifício da Nova Alfândega, inaugurado em 1869, e acompanhou o desenvolvimento do Horto das Virtudes, cujos socalcos ocupam a encosta defronte da alameda. Uma calçada de difícil subida acedia a uma das mais interessantes fontes do Porto, descrita em páginas anteriores, cuja água refrescava e, segundo alguns, era virtuosa.


Alameda de Massarelos

A Alameda de Massarelos, na outrora aldeia de “Maçarelos”, terra que era de homens que pescavam lampreia, sável, e outra pescaria, ocupa uma área onde existiram, no séc. XIII, salinas. A ampla alameda “sombreada de inúmeros olmos” que agora conhecemos apenas se concretizou quando o Barão de Massarelos cedeu uma parte da sua quinta. Perto desta alameda, existiu o cais das Pedras que foi uma estrutura importante que hoje não representa qualquer utilidade porque o viaduto construído para facilitar o trânsito automóvel barrou a passagem à maior parte dos barcos. A própria ribeira de Massarelos que atravessava a alameda e tantas lavadeiras serviu, foi encanada. O chafariz ainda lá está, mas a água foi substituída por lixo. Resta-nos o passeio, o Douro e a frescura da brisa que dele vem. A propósito, a alameda tomou o nome de Basílio Teles, que participou na Revolta de 31 de janeiro de 1891, mas não aceitou o cargo de Ministro das Finanças do Governo Provisório nomeado após a implantação da República.


Figura 1 - Estrada da Foz, na Alameda de Massarelos, vendo-se, à direita, os carris do carro americano. Gravura publicada no semanário Jornal de Domingo, em 1887. Fonte: Arquivo Histórico do Porto, descarregado, em 2 de maio de 2021 de shorturl.at/kpqMU.


Alameda da Lapa

A Alameda da Lapa já existia em 1800 quando a Junta de Obras Públicas cedeu os terrenos à Irmandade de Nossa Senhora da Lapa, parte deles ocupados pelo Hospital da Lapa, construído entre 1902 e 1904. A Irmandade ficou obrigada “a conservar limpo e desembaraçado para uso público e de o melhorar para dele fazer uma praça e espraiado para passeio, desafogo e retiro público, deixando livre a estrada que vai para a cidade de Braga e para a Rua do Olho Vivo, e também livres as pedreiras ali existentes, tanto para uso público como dos particulares ”. Para além do hospital, os automóveis acabaram por dominar o espaço. A CMP projeta construir, em espaço próximo, o Parque Urbano da Lapa que facilitará o acesso à estação do metro da Lapa. Prevê-se que a obra decorra em 2022.


Alameda do Campo do Olival e Jardim da Cordoaria

No ano de 1611, Filipe II ordenou a plantação de uma alameda no Campo do Olival, onde, na Idade Média, existia a Cordoaria do Bispo. Como este campo era destinado a desfiles e revistas militares, aquela ordem encontrou forte resistência no meio civil e castrense que, com a concordância do Senado, acabou por contrariar nova ordem real feita em carta de junho do ano de 1612. Apesar da oposição, as árvores da alameda foram finalmente plantadas quando o rei nomeou, em 1612, quatro guardas da alameda, cada um com um vencimento igual ao que D. Sebastião concedeu a Luís de Camões.

Desconhece-se o ano em que se plantou nessa alameda o ulmeiro que veio a ficar com o nome de “árvore da forca” que, felizmente, nunca foi usado para esse fim. Todavia, ele assistiu à execução de muitos condenados, como quando foram decapitados, por ordem do Marquês de Pombal, em 14 de outubro de 1757, treze dos cerca de quinhentos elementos do povo que levantaram a sua voz e força contra os privilégios da recém-constituída Companhia Geral Agrícola das Vinhas do Alto Douro. Durante o cerco do Porto, escapou ao abate que aconteceu a outras árvores da Cordoaria para fornecimento de lenha ao Hospital Militar e ao Recolhimento dos meninos órfãos, mas foi parcialmente destruída pelas balas do canhão dos miguelistas. Em 1860, foi salva de um incêndio provocado pelas chamas de um fogareiro dos cordoeiros que queimou alguns dos seus ramos. Vítima de outros acidentes, aquela árvore integrou o imaginário popular e passou a ser protegida, a pedido do Provedor da Misericórdia do Porto a D. Pedro IV, dos machados camarários que retiraram as árvores vizinhas destroçadas. Um forte temporal, ocorrido em 10 de novembro, arrancou-lhe o ramo que justificava o seu encanto, levando o município a tentar curar aquela ferida cobrindo-a com uma chapa de zinco. Aquele ulmeiro, que recebeu então o título de “Árvore da Liberdade”, com mais de 350 anos, acabou por morrer em 1986.

O Jardim da Cordoaria, designado, desde 1924, por João Chagas, antes Mártires da Liberdade (1835), Passeio Público (1852), e Jardim das Mães (1914), foi construído por Alfredo Allen e projetado pelo paisagista alemão Emile David que trabalhava para a família Sandeman. Tendo a obra decorrido entre 1865/1866, o jardim foi aberto ao público em 1867. Uma boa parte do jardim ocupou terrenos pertencentes ao Hospital de Santo António oferecidos, em 1857, pela Santa Casa da Misericórdia. Desde a sua inauguração foi este o jardim preferido pela classe elegante do burgo dada a sua proximidade ao centro urbano. Poucos anos depois, após a abertura dos jardins do Palácio de Cristal e da expansão da cidade, o Jardim da Cordoaria entrou em decadência. Como consequência de um ciclone ocorrido em 1941 que derrubou uma boa parte do arvoredo, o jardim sofreu algumas alterações que não afetaram significativamente a sua estrutura, mantendo a sua forma triangular, o seu lago romântico e a interessante Alameda dos Plátanos. Pior foi a sua “renovação”, em 2001, importante prova do mau gosto que se instalou no Porto, não esquecendo o desprezo que alguns sentem pelo passado do povo do Porto.

O jardim foi enriquecido com as estátuas de António Nobre (Tomás Costa, 1926) e Ramalho Ortigão (Leopoldo de Almeida, 1953), o monumento em homenagem a Marques Loureiro - A Flora (Teixeira Lopes, 1904), o "O rapto de Ganímedes" (António Fernandes de Sá,1915) que esteve durante quase um século no jardim Teófilo Braga foi transferida para o atual local em 2015, e, na Alameda dos Plátanos, o conjunto de esculturas de Juan Muñoz, de 2001, os "Treze a rir uns dos outros". É também digno de registo o facto de a árvore mais alta do Porto, com 40 metros de altura, ser uma Araucaria bidwilli Hooker que faz parte do património vegetal deste jardim.

Este jardim fica muito próximo da Praça dos Leões, oficialmente Gomes Teixeira, matemático e professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto da qual foi o primeiro reitor. O estranho nome deve-se ao Chafariz que nela existe, dos Leões, como o povo chamou à original Fonte Monumental, construída em 1885. Esta fonte substituiu o primitivo Chafariz do Colégio dos Meninos Órfãos. A menos de cem metros desta praça, a norte, encontra-se a Praça Carlos Alberto, antigo Largo dos Ferradores, com a sua área central ocupada por um pequeno jardim, do séc. XIX, já existente em 1892, mas recriado em 1899 por Jerónimo Monteiro da Costa. Com a construção do parque automóvel subterrâneo, o jardim foi sujeito a nova intervenção em 2001. Neste simpático jardim, os floridos canteiros estão envolvidos por uma bela calçada portuguesa. O jardim e a praça são dominados pelo Monumento aos Mortos da Grande Guerra, inaugurado em 1928, que está de costas para o Palacete dos Viscondes de Balsemão, onde viveu o rei do Piemonte e da Sardenha que se refugiou no Porto, em 1849, depois de destronado.


Alameda Eça de Queirós e Jardim do Conhecimento

Ao divulgar os jardins do Porto, a sua história não ficaria completa se não incluíssemos um Jardim do Conhecimento, cujo conceito se baseia na representação do saber através da forma, da cor da vegetação e da simbologia das plantas. Numa feliz iniciativa da Câmara Municipal de Ponte de Lima, realiza-se anualmente, desde 2005, o Festival Internacional de Jardins, interrompido, em 2020, pela pandemia provocada pelo Sars Cov 2. O Festival merece, pelo menos, uma visita ao seu “site” recorrendo ao endereço https://www.festivaldejardins.cm-pontedelima.pt/. Pois a cidade do Porto foi presenteada com um dos 12 projetos selecionados, em 2006, para o 2º Festival de Jardins de Ponte de Lima. A obra escolhida, do arquiteto paisagista Manuel de Carvalho e Sousa, é descrita pela organização do festival, como um espaço em que “a parte central tem o formato de um cérebro sobrelevado em relação ao percurso de visita, numa alusão à superioridade do conhecimento”, em que “toda a vegetação é cinzenta, numa relação com a massa cinzenta, à qual se associa o conhecimento”. Entre árvores e arbustos, predominam a oliveira e a alfazema. O jardim inclui um pequeno parque infantil que atrai as inúmeras crianças que, com os seus pais, passeiam pela Alameda Eça de Queirós, às Antas.

Figura 2 - Alameda Eça de Queirós


Figura 3 - Jardim do conhecimento

Alameda das Antas

O Estádio do Dragão foi inaugurado em 16 de novembro de 2003, para receber jogos do Campeonato Europeu de Futebol de 2004. Substituiu o Estádio das Antas, inaugurado em 1952, que não tinha condições técnicas para receber uma prova com a envergadura daquele campeonato. Foi, em 2002, desenvolvido o Plano de Pormenor das Antas que incorporava o novo estádio, e, nos terrenos onde se encontravam as instalações do F. C. Porto (estádio, quatro campos de treinos, dois pavilhões, e as piscinas), zona comercial e habitacional. Como acesso principal ao Estádio do Dragão foi construída uma alameda perpendicular à Avenida Fernão de Magalhães, com a particularidade de a sua parte central ser uma placa de betão que cobre um acesso à Via de Cintura Interna. A Alameda é uma via com 80 metros de largura e duas faixas de rodagem em cada sentido, um separador central relvado e arborizado, e amplos passeios também arborizados.