Acompanhando a hidrografia da cidade do porto,
passámos pelos talvegues onde a cidade do Porto teve origem: aquele que ocupa
uma área entre as faldas ocidente dos montes das Antas e do Alto do Bonfim e a oriente
do monte dos Congregados e o talvegue onde corre o rio Frio. Associado a este
rio encontramos o manancial das Virtudes constituído por um conjunto de minas
que alimentam diversas fontes, entre as quais as do Horto das Virtudes, das
Virtudes, de S. João Novo e a do Convento dos Religiosos de Santo Agostinho.
Diz Baltasar Guedes, citado por Teixeira, 2011, que uma fonte ali existente em
que a água nascia em rocha viva era miraculosa e tinha virtude. Por isso, lhe
tomou o nome. Naquele tempo podiam existir inúmeras nascentes de água porque
hoje, apesar da impermeabilização do solo que ocorreu em toda a bacia e o
encanamento da água da chuva levando-a diretamente para o rio Douro, ainda se
podem observar nas encostas das Virtudes algumas nascentes e que o rio Frio
leva um bom caudal de água mesmo nos verões dos anos secos como o de este ano
de 2017.
Figura 1 - O Vale do Rio Frio e o Horto das Virtudes. |
Se a
partir do rio Frio, seguindo o curso
histórico da expansão da cidade, caminharmos para oriente, o primeiro curso de
água que encontramos é a Ribeira de Vilar para a qual ainda é possível imaginar
um parque ecológico que preserve, perto do centro da cidade, uma linha de água
a céu aberto. Na sua margem esquerda
estende-se, até ao Seminário do Vilar, uma encosta em socalcos, rica em água,
onde resistem algumas hortas. A margem direita, com a sua Rua dos Moinhos, luta
desesperadamente contra os grandes edifícios com frente para a Rua D. Pedro V.
O que não é razoável é manter a ribeira no estado em que está, apenas visível
em poucos metros porque o matagal a oculta quase completamente. É um pequeno
desafio para a Câmara Municipal do Porto. A invasão do mau progresso na
Rua D. Pedro V, já muito próximo das suas margens, faz-nos recear pelo seu
futuro.
Figura 2 - O Vale da Ribeira de Massarelos. |
A ribeira de Vilar ou Massarelos, ou Rio de Miragaia corre, no seu percurso a céu aberto, paralelamente à Rua de D. Pedro V no vale que tomou o nome do próprio ribeiro. Neste percurso, o ribeiro fez mover, no passado, moinhos de que é memória a rua que o acompanha. Segundo Furtado de Antas, 1902, “nos terrenos entre as ruas de Santa Isabel, Boavista, Carvalhosa[1] e Torrinha, existia uma bacia” onde se reuniam as águas escorridas pelas vertentes dos montes circundantes. Um deles, com origem no Campo da Regeneração ou de Santo Ovídio, atual Praça da República, seguia paralelamente, pelo lado Norte, a rua dos Bragas e da Torrinha, sendo cortado pelas ruas Cedofeita e Aníbal Cunha. Outra linha de água vinha dos monte Pedral e do Monte Cativo, seguindo entre aquele monte e a rua de Antero de Quental, antiga rua da Rainha, que era atravessada pelas ruas da Constituição e da Boavista, e seguia para a travessa do Priorado. Uma terceira linha (Horácio Marçal, 1968) iniciava-se nos terrenos da avenida de França, passando pelos terrenos da Praça Mouzinho de Albuquerque. O encontro dos três riachos dava origem a uma zona pantanosa, um lameiro, entre a Praça Pedro Nunes e o Largo Sá Pinto. O ribeiro seguia, então, aproximadamente, na direção da rua da Piedade e, depois, paralelamente e à esquerda da rua de D. Pedro V, desaguando no rio Douro na Alameda de Basílio Teles. No seu troço final uma parte da água do ribeiro é encaminhada para o coletor municipal de Massarelos que desce pela rua D. Pedro V. O ribeiro tem, ou teve, uma extensão de, aproximadamente, 3,94 km, uma grande parte (97,6%) encanada.
Em 2001, Paula Reis (2002), qualificou a água do ribeiro de Massarelos num ponto
de amostragem próximo da sua foz, verificando que ele transportava, em média,
cerca de
2,4 ton/dia de carga orgânica (com valores pontuais variando entre 1,1 e 3,4 ton/dia). A CQO da água deste ribeiro era igual ou superior aos valores normalmente encontrados em águas residuais domésticas. A instalação de um moinho tradicional permitiria recuperar parcialmente a qualidade deste ribeiro.
2,4 ton/dia de carga orgânica (com valores pontuais variando entre 1,1 e 3,4 ton/dia). A CQO da água deste ribeiro era igual ou superior aos valores normalmente encontrados em águas residuais domésticas. A instalação de um moinho tradicional permitiria recuperar parcialmente a qualidade deste ribeiro.
Figura 3 – Trecho curto e sujo da ribeira de Vilar |
Os vales do rio Frio e da
ribeira de Vilar são ricos em pequenas nascentes com origem em mananciais que
reservam grandes quantidades de água, muito menos hoje do que no passado. Esta
água alimentava fontes e chafarizes dos quais ainda resistem alguns. Mais não
foram porque o rio Frio serviu de fronteira à expansão da cidade do Porto que
preferiu seguir os caminhos que levavam e traziam as mercadorias, como os que
seguiam para Viana do Castelo, Braga, Guimarães e Valongo. Muitas das fontes e
chafarizes que serviram a população que viveu nesta área desapareceram e delas
há muito pouca informação: o Chafariz
dos Frades Antoninos do Vale da Piedade[2], particular,
dentro de muros, no Hospício que aqueles frades possuíam junto ao Mercado do
Peixe; a Fonte do Touro, junto à
Porta Nobre, e a da Rata ou Tanoaria, na Rua dos Arménios, “em cujo tanque os tanoeiros amoleciam as
aduelas usadas para construir as pipas e tonéis” (Horácio Marçal, 1968). O portal
da Junta de Freguesia de Miragaia faz referência à Fonte da Rua do Paço[3],
entretanto desaparecida, que recebia água encanada vinda diretamente do Rio
Frio quando este não estava poluído.
Procuremos percorrer os dois vales em procura
das sua fontes e chafarizes. Partindo da Cooperativa Árvore, e com o seu
edifício nas nossas costas, estamos a olhar para as traseiras do Palácio da
Justiça, exatamente na área onde se encontrava a atual Fonte do Monte dos Judeus, de espaldar, que pertenceu ao antigo Mercado do Peixe que existiu no local
onde hoje se encontra aquele Palácio, no Jardim da Cordoaria, antigo Campo do
Olival. Esta fonte terá sido construída ao mesmo tempo que esse mercado e que
foi inaugurado em 8 de março de1874. A fonte estava no lugar onde vendiam as
sardinheiras que tinham, a um nível inferior, uma torneira para lavar as
canastras das sardinhas (Silva, 2000). A fonte foi transferida para a Rua do
Monte dos Judeus quando o mercado foi demolido em 1952.
Seguindo pela Rua de Azevedo de Albuquerque em
direção ao Hospital de Santo António, devíamos encontrar a Fonte dos Fogueteiros, construída antes de 1820, que ficava
perto do Hospital Real de Santo António da Cordoaria, da Santa Casa da
Misericórdia. No início ela encontrava-se junto aos alicerces do hospital e, em
1843, deslocada para a rua dos Fogueteiros, atual rua Azevedo de Albuquerque,
por debaixo de um, o central, dos três arcos do paredão[4]
que sustentam a rua da Restauração ao lado do Hospital de Santo António. Esta
fonte, que tinha apenas uma bica e um grande tanque, recebia a água e, de
acordo com a opinião de Souza Reis, as suas impurezas de uma mina localizada
por baixo do Hospital junto das sentinas (Tito de Noronha, 1885[5]),
resultando, como disse Furtado de Antas, em 1902, a fecalização da água da
fonte. J. Bahia Júnior descreve a mina e realça a existência de infiltrações
extensas, brancas e negras. Ele próprio, durante a visita que fez à mina, teve
um ameaço de síncope, desconhecendo se ela se deveu ao cansaço ou a
intoxicação. A mina estava associada ao manancial das Virtudes, bastante
contaminado com esgotos domésticos. Alguns autores, poucos e sem fundamentação,
consideram que a água da fonte tinha origem direta no rio Frio. Em 1890, a água
desta fonte foi considerada imprópria. Tito de Noronha classificou-a como das
piores água da cidade, sensivelmente salobra, pesada e de gosto desagradável,
com matéria orgânica em proporção elevada, aconselhando não a usar para a
alimentação. Atualmente o espaço da fonte está vedado e parece ser usado por
alguém sem outro abrigo, senão esse. Espreitando pelas frinchas, nada se vê. A
fonte foi substituída há anos por um fontenário que a C. M. do Porto instalou
no Largo do Viriato. Neste Largo resiste um dos últimos balneários
públicos do Município do Porto
Figura 5 – Alçado e planta do
paredão da rua da Restauração, encostada ao lado sul do Hospital Real de Santo
António da Cordoaria, por Joaquim da Costa Lima Sampaio, aprovada pela Junta de
Obras Públicas em 14 de março de 1828. Fonte: Arquivo Municipal do Porto, Gisa,
Gestão integrada de sistemas de arquivo, descarregada em 13/8/17 de Goo.gl/oLPnEf.
Figura 6 – Imagem atual do muro de suporte da Rua da Restauração. No arco central esteve a Fonte dos Fogueteiros. |
Figura 7 – Fontenário do Largo do Viriato que substituiu a fonte dos Fogueteiros |
Em frente aos arcos do paredão da rua da Restauração, apresenta-se a entrada para o Horto das Virtudes. Apesar de algum desleixo, aquele Horto é um espaço que o tripeiro não deve esquecer, pela sua beleza e pelo que se vislumbra. Desenvolvido em socalcos pelo horticultor José Marques Loureiro, a partir de 1844, o Horto é, hoje, propriedade da C. M. do Porto que o adquiriu em 1998. Com o rio Frio por perto, literalmente por baixo, a água é abundante e desliza por caleiras e tanques em granito. O percurso de uma boa parte da água tem origem numa romântica fonte construída durante o período em que Marques Ribeiro esteve à frente do Horto, a Fonte da Quinta das Virtudes, que a lança numa larga concha por meio de uma bica que ocupa a boca de uma carranca. O estado da água nos tanques que acompanham o fio de água mostra bem a sua qualidade. O desenvolvimento intenso de algas é mais do que uma evidência da presença na água de contaminantes, sobretudo de nitratos e compostos amoniacais. De resto, há mais de um século que está bem registada a falta de qualidade da água do manancial das Virtudes.
Figura 8 – Fonte da Quinta das Virtudes. |
Figura 9 – Carranca da Fonte da Quinta das Virtudes. |
Descendo os socalcos da
quinta, sai-se por um portão deparando-se com o Chafariz das Virtudes à esquerda e de um grande tanque lavadouro à
direita. Francisco Henriques[6] deu
relevo a esta fonte a que chamavam das Virtudes porque a sua água era “de muita utilidade em várias queixas” e,
por isso, a mandavam “buscar de outras
terras”. Baltazar Guedes cita o
cronista Agostinho que indica a presença de uma relíquia do mártir Santo
Estevão junto de uma fonte miraculosa com virtuosa água que surgia de uma rocha
viva e se distribuía por dois canos de bronze, com o débito de meia anilha de
água cada um. A água caía num tanque que atraía as lavadeiras da cidade. Esta
fonte chamou-se de Nossa Senhora das Virtudes, assim mencionada em 1580,
segundo Eugénio da Cunha e Freitas[7],
e encontrava-se no lugar onde existiu a Torre e o Postigo das Virtudes da
Muralha Fernandina, construídos em 1376. A água desta fonte provinha de minas
existentes naquele terreno que constituíam o manancial das Virtudes. A sua água,
para além de límpida e cristalina, tinha comummente, propriedades medicinais.
Este manancial abastecia também a Fonte da Rua de S. João Novo e o Convento dos
Religiosos Eremitas de Santo Agostinho.
Inserido num programa
camarário de abastecimento de água à cidade, em 1619, a Câmara Municipal do Porto mandou abrir a Calçada das Virtudes
e construir a Fonte do Rio Frio, mais tarde Chafariz das Virtudes,
com desenho atribuído a Pantaleão de Seabra e Sousa, fidalgo da Casa
Real e Regedor da Cidade. A
construção do chafariz foi financiada pela Imposição do Vinho. Atualmente, é um
ponto integrante da Rota Urbana do Vinho. Foi classificado como Monumento Nacional por Decreto de 16 de junho de 1910.
Figura 11 – O Chafariz das Virtudes em todo o seu esplendor. |
Rebelo da Costa descreve o
chafariz das Virtudes como composto “de
um alto frontispício adornado de antigas pirâmides, e firmado em bancos de
pedra, que o rodeiam. A copiosa água que dela sai por duas carrancas
gigantescas lavradas na mesma pedra, enche em menos de um minuto o maior
cântaro. Ao seu lado estão dois profundos tanques em que diariamente lavam
roupa de vinte até trinta lavadeiras. Em uma lâmina de mármore vermelho tem
gravados estes versos[8]”:
POSTERITATI.
FONS SCATET
ILLUSTRI VIRTUTUM NOMINE DICTUS:
QUIT SITIT, HAS
LYMPHAS ABSQUE TIMORE BIBAT.
ANTE CAVERNOSO DE PUMICE DEGENER IBAT:
OBSTABANT PIGRA LIMUS ET UMBRA MORA.
PUBLICA CONSPICUAS EXPENSA DUXIT IN AURAS,
UT QUE LOCO FLUERET COMMODIORE DEDIT.
INDE VIAM STRAVIT, DEJECITQUE ORDINE SEDES:
GRATIA TAM GRATIAS MAIOR UT ESSET AQUIS.
ANNO MDCXIX.
Existem
diversas traduções deste texto. A do Professor Doutor Fausto Sanches Martins,
transcrita por Aguiar Branco & Cardoso, 2016[9],
diz o seguinte:
Fonte com o nome honroso das virtudes brota com
abundância:
Quem tiver sede, beba sem temor esta água.
Até há bem pouco tempo, a água nascia entre as
pedras:
O barro e as silvas impediam o acesso.
O empenho público colocou as águas ao alcance de
todos.
Possibilitou que corressem por melhor caminho.
Depois aplanou o caminho, e colocou ordenadamente
assento.
Para que as águas agradecidas pudessem correr
livremente.
Ano 1619.
Horácio Marçal[10]
apresenta uma versão bastante mais simples, que diz: “aqui flui a fonte dita das Virtudes; quem tiver sede já pode beber sem
receio. Estas águas nasciam de uns penedos cavernosos, e andavam por aqui
perdidas em charcos imundos e sombrios. A Câmara Municipal as expôs como vedes,
fazendo esta majestosa fábrica e, para lhe dar maior realce, abriu esta estrada
e fez estes assentos no ano de 1619”
Embora alguns autores
enalteçam os passeios que os portuenses faziam às Virtudes no século XVII e
XVIII, os roubos que foram ocorrendo ao longo dos tempos demonstram bem o
isolamento em que ela se encontrava, tal como acontece nos nossos dias. Horácio
Marçal, 1960, afirma que ”desde há compridos anos que o passeio das
Virtudes, já não falando da área fundeira onde permanecem as ruínas da fonte –
que essa, infelizmente encontra-se num estado calamitoso – deixou de ser
frequentado pelas famílias gradas cá da nossa terra. Está, o que pode dizer-se,
num abandono verdadeiramente confrangedor”. Devido a este abandono, a zona das
Virtudes, em especial a calçada e a fonte, eram muito frequentados por gatunos,
malfeitores e prostitutas. Desapareceram os bancos de pedra, as pirâmides
e, para cúmulo, a imagem de Nossa Senhora das Virtudes. Pinho Leal, 1875, citado
por Horácio Marçal, 1960, sublinha: “causa dó uma obra de tanto preço votada ao
abandono, pois há muito que o público não faz uso da água desta fonte,
preferindo, por maior comodidade, a do Chafariz das Taipas; e mesmo porque a
das Virtudes era mal saborosa. Lá se conservam ainda os dois tanques das
lavadeiras, aumentando progressivamente o número destas com o desenvolvimento
da cidade. Depois das Fontainhas, são estes os lavadouros públicos de maior
movimento que há hoje (1875, como dissemos) no Porto".
Sobre o abandono deste
chafariz, Aguiar Branco & Cardoso, 2016, escreve que ele “está tão escondido que até o crescimento
urbano se esqueceu de o demolir, e essa omissão dá-nos a oportunidade única de
nos deleitarmos a comemorar os quatro séculos desta relíquia”. Os autores
defendem a intervenção pública na sua reabilitação que passaria, entre outras
coisas, pela reconstrução do tanque que ela teve e devolver-lhe a água que no
passado lhe retiraram. Os autores salientam dois importantes aspetos:
1.
O brasão nacional não é
encimado pela coroa real. Contrariando a tese mais comum de a coroa ter sido
destruída por vandalismo, eles defendem a hipótese de ele estar incompleto
porque o chafariz foi construído durante a ocupação do País pelos Filipes de
Espanha, situação semelhante à ocorrida por outros edifícios construídos
durante aquele período;
2.
O elemento central que emoldura
as “lâminas” de mármore vermelho onde estão transcritos os versos em latim vêm
sendo atacados pelas chuvas ácidas e, dentro de poucos anos, já nada restará
daquela mensagem se elas não forem recolhidas e colocadas cópias no espaldar do
chafariz, e com uma placa encostada ao muro com a respetiva tradução.
Como atrás referimos, Manoel Nepomoceno
declarou que a água do manancial das Virtudes, que alimentava o chafariz, não era
boa para os usos domésticos. Segundo
Noronha, 1885, o Chafariz das Virtudes, que antes mereceu, pela sua água, ser
descrito no Aquilégio Medicinal, “tinha
muita arquitetura, muita inscrição latina e muita impureza”,
classificando-a como “má, salobra,
desagradável e imprópria para a alimentação, e só tem a virtude de ser a pior
de todas”. A caracterização química que este autor fez da água das Virtudes
provou que ela era bastante salina (resíduo seco – 1259 mg/L), com elevadas
concentrações de cloretos (702 mg/L NaCl), e de nitratos (81 mg/L NO3).
A sua oxidabilidade ao permanganato apresentava também um elevado valor (28
mg/L O2) e elevado grau hidrotimétrico (29 º franceses). Em 1928,
Laroze obteve resultados mais modestos, mas ainda elevados, para cloretos (204
mg/L NaCl) e para o grau hidrotimétrico (20 º franceses). Larose assinala que
os nitritos são pouco abundantes e os nitratos abundantes.
Figura 12 – Carrancas do Chafariz das Virtudes |
Deixando o Chafariz e descendo para Miragaia
pela Calçada das Virtudes, chega-se à rua de S. Pedro de Miragaia onde as lajes
de granito cobrem o rio Frio. Mesmo num mês de agosto de um ano seco como o de
2017 ouvem-se, pelas frinchas das lajes de granito, os chios de alegria do rio
que corre lesto para abraçar o Douro. Nesta
rua, junto à Igreja Paroquial de Miragaia, encontra-se num pequeno nicho a Fonte
do Bicho, do Borges ou de S. Pedro[11], com uma bica,
que coincide com a boca do golfinho, que lança, quando ela corre, a água num
pequeno tanque. A fonte terá sido construída, no século XIX, na sequência da
cedência de uma pena de água ao capitão António Borges, da Marinha Mercante,
cuja escritura impunha a construção, na frente da sua casa, de um chafariz de
serventia pública. J. Bahia Júnior indica que esta fonte “está marcada com o seu triângulo negro[12] e tem a sua nascente
na Quinta do Espírito Santo, por baixo do Muro das Virtudes, em um imundíssimo
recinto”, brotando num ponto muito próximo de um “enorme chiqueiro, todo encharcado de água e urina, coberto de fezes de
suínos que aí se vêm passeando no monturo e que se recolhem na casa ao lado,
onde vivem em comum com umas vacas e os seus donos”. Pelo estado da boca do
peixe, a sua água, quando corre pela bica, deve ter qualidade semelhante à da
Fonte da Quinta das Virtudes.
Figura 13 – A Fonte do Bicho nos nossos dias. |
Deixando a fonte do Bicho e entrando no Largo
de S. Pedro de Miragaia encontra-se, à esquerda, a rua Arménia que, a poucos
metros do início se separa, pela direita, da rua de Tomás Gonzaga. Nesta rua
existiu a Fonte da Rua da Arménia ou
dos Borges, edificada na frontaria
de uns armazéns de António José Borges situados então na rua da Esperança,
atual Rua Tomás Gonzaga, na zona de Miragaia (Tito de Noronha, 1885, Gomes
Leite, 1836). Segundo J. Bahia Júnior, a fonte não era mais do que uma pequena
bica emergindo da parede entre os números 76 e 78, com uma pequena mesa em
pedra para sustentar as vasilhas a encher. Ela recebia a sua água de uma
nascente aberta no interior de um dos armazéns aí existentes. Tito de Noronha
considerou a água desta fonte como má, pesada, pouco límpida, desgostosa e, por
vezes, com cheiro.
Na rua da Arménia, ocupando os números 12 a 16
existe um conhecido restaurante com o nome “Verso em Pedra” no qual se servem
enormes francesinhas. Na parede de fundo da sala desse comedor, tapada por uma
vidraça, está uma mina da qual não conseguimos informações concretas. Em frente
a este restaurante abre-se o Largo Artur Arcos dominado pela fonte de Hulsenbos, aí instalada em
1907. Tem quatro torneiras nas faces da coluna, e dois tanques, um num ponto mais
alto e de dimensões mais reduzidas, e outro, maior e mais abaixo, que servia
para dar de beber aos animais. É abastecida com água da rede pública, isto é,
“água da companhia”. De acordo com as inscrições existentes nas quatro faces da
coluna, esta fonte foi oferecida por D. Alice Hulsenbos à Sociedade Protetora
dos Animais em honra de seu pai, cônsul da Holanda no Porto.
Figura 14 – A Fonte da rua Arménia ou dos Borges, segundo uma imagem de J. Bahia Júnior, 1909 |
Figura 15 – A Fonte de Hulsenbos que ainda serve para dar de beber a muitas aves |
Se seguirmos pela rua
Nova da Alfândega em direção à Ribeira encontramos, percorridas poucas dezenas
de metros, a rua de O Comércio do Porto, antiga Rua da Rosa, e depois Ferraria
de Baixo ou Ferraria Nova (Silva, 2000), onde existiu a Fonte da Rua de O
Comércio do Porto, primeiro Fonte do Reguinho, que substituiu a
Fonte dos Banhos que se localizava na rua do mesmo nome, dentro da Muralha e em
frente ao postigo dos Banhos. Este postigo situava-se no lugar onde hoje se
encontra o parque da Alfândega. Foi construída em 1890, com materiais que
vieram da fonte da Praça da Batalha, substituindo a dos Banhos demolida naquela
data. A fonte da rua de O Comércio do Porto era servida por água dos mananciais
de Paranhos e Salgueiros num ramo que saía da Arca do Anjo.
Figura 16 – A Fonte da Rua de O Comércio do Porto, segundo A. Fontes, 1909. |
Voltemos para trás, para a rua da Arménia.
Caminhando em sentido inverso e, virando à esquerda, entremos e percorramos a
rua de Miragaia na direção da foz do rio Douro. À esquerda, e num plano
superior, o austero edifício da Nova Alfândega e o espaço onde existiu a
estação de caminho de ferro que ligava a Alfândega à estação de Campanhã,
garantindo o transporte das mercadorias sem atravessar o centro da cidade. Bem em
frente aos Arcos e ao Largo de S. Pedro de Miragaia, à altura da esquina
oriental do primeiro edifício da Alfândega (A. Fontes, 1909), logo a seguir à
extinta estação do caminho de ferro, encostada
ao muro de suporte do seu patamar existiu a Fonte de Miragaia que terá sido construída pela C. M. do Porto,
em 1865, substituindo a Fonte da Colher. Recebia água dos mananciais de
Paranhos e Salgueiros. Tinha no frontispício três pias servidas por três bicas,
e o remate deste chafariz era uma pirâmide do espaldar que pertenceu ao tanque
da Praça de D. Pedro Fontes, 1908. Foi removida quando se abriu a segunda
rampa, a ocidental, para acesso de automóveis e outras viaturas à Rua de
Miragaia. Nas análises químicas realizadas no laboratório da Escola Médico –
Cirúrgica, em 1905, a água da Fonte de Miragaia, com origem na mistura da água
dos mananciais de Paranhos e Salgueiros, apresentava uma elevada concentração
de sais dissolvidos, particularmente cloretos, que lhe conferiria sabor. Pelos
resultados de uma análise bacteriológica realizada pelo Professor Souza Júnior,
Dr. Manuel Pinto e Adriano Fontes entre 1902 e 1907, a água seria classificada
de má qualidade, e nos nossos dias como imprópria para consumo.
Figura 17 - A Fonte de Miragaia, segundo A. Fontes, 1909. |
Seguindo a rua de Miragaia, deparamo-nos, no seu termo, a envergonhada
e escondida Fonte da Colher. Esta fonte, que já existia em 1491, foi
construída a custas de uma parte de um imposto, chamado de “colher”, aplicado
aos géneros alimentícios que entravam na cidade através da porta Nobre, que não
era mais do que uma colher por alqueire do artigo transportado. Adriano Fontes
admitiu, recorrendo a uma nota do Livro Grande, fol. 81 v.º do Arquivo
Municipal, que a sua construção tenha coincidido com “a fundação da povoação de Miragaia em 1276 e que em 1296 já tinha
setenta e cinco casas”. Era, nessa época, uma das melhores águas da cidade.
Terá sido reconstruída em 1629, segundo a inscrição da lápide frontal em
granito. Depois de ter sido praticamente abandonada por má qualidade da água e
por ter ficado, em parte, soterrada pelas obras da Nova Alfândega (Souza Reis,
1984), foi mudada para o sítio onde agora está em 1871. Foi restaurada em 1940.
Tem apenas uma bica. No brasão existente na parte superior e no bloco granítico
acima da bica insere-se uma legenda com caracteres imperceptíveis que, segundo
a transcrição de Bahia Júnior, diz” “Louvado
seja o Santíssimo Sacramento e a puríssima Conceição da Virgem Nossa Senhora,
concebida sem pecado original, 1629. A água desta fonte é desta cidade”.
Figura 18 – A Fonte da Colher, um pouco esquecida de quem passa. |
Figura 19 – Legenda da Fonte da Colher. |
Continuemos o nosso passeio. Subindo pelas escadas
alcançamos a rua Nova da Alfândega. Prossigamos em direção a Massarelos. Depois
de ultrapassado o edifício da extinta Guarda Fiscal vale a pena parar à porta
do Museu do Vinho do Porto. Olhando para o seu interior vê-se, logo à entrada
do lado direito, um poço coberto com uma proteção em vidro. Assim está porque a
sua água, que terá sido útil no passado, está fortemente contaminada com esgoto
doméstico. Andando pela rua de Monchique, que poucos pisam desde que abriu o
Viaduto do Cais das Pedras, e antes de chegar ao Cais das ditas, vira-se à
direita e sobe-se um pouco até à Rua do Cristelo para procurar saber onde
estava e quando deixou de existir a Fonte
da Rocha ou de Cristelo, situada nessa rua, encostada a um prédio onde estava
a sua nascente. Souza Reis lembra que o proprietário desse prédio, Ignacio
Smyth de Vasconcellos, terá pretendido tomar posse da água daquela mina,
privando o povo desse usufruto. Não o conseguiu. Infelizmente, a rua está, em
agosto de 2017, vazia de vizinhos, sem ninguém que possa dar qualquer notícia
do passado, e o casario transformando-se velozmente numa sucessão de hotéis e
outros tipos de alojamento de passantes. Apenas poucos operários cruzam a rua
quando começa ou acaba a jornada e quando têm necessidade de buscar ou levar
qualquer material. Ao que parece, os valores culturais estão esquecidos –
veja-se o estado do Senhor dos Aflitos. Da fonte, nem rastos...
Figura 20 - O Senhor dos Aflitos, da Rua do Cristelo |
Após passagem pela Igreja do Corpo Santo, que nasceu da
Capela do mesmo nome construída em 1394, descemos ao Cais das Pedras que também
foi Cais dos Insurretos quando Filipe II confiscou, para os integrar na
Invencível Armada, dois barcos da Confraria do Corpo Santo. As tripulações
desses barcos responderam queimando as velas e a bandeira de Espanha. Daí
resultou a renomeação passageira do Cais. Chegados à Alameda Basílio Teles, enquadrada
por esplanadas, encontra-se o Chafariz da
Alameda de Massarelos, ou apenas de Massarelos. De acordo com a inscrição
nela existente, terá sido construído pela C. M. do Porto em 1885. Foi
recuperado em 1940. É constituído por uma coluna quadrangular inserida num
tanque de quatro lados e com duas bicas colocadas em faces opostas da coluna. Atualmente
não deita água e, mesmo que o fizesse, não seria pelas bicas ou torneiras que
terá tido porque, como tem acontecido na grande maioria dos chafarizes e
fontes, foram roubadas.
Figura 21 - O Chafariz de Massarelos, que agora não cumpre a sua missão. |
Nesta Alameda, antes de
chegar ao entroncamento com a Rua de D. Pedro V, encontra-se a Rua da Fonte de
Massarelos que segue paralelamente à oculta ribeira de Vilar. Esta rua
chamou-se das Bicas de Vilar devido à presença da Fonte das Bicas de
Vilar, agora chamada de Fonte da Rua
de Massarelos ou das Bicas de
Massarelos, que terá sido construída em 1637. A fonte das Bicas de Vilar
tinha duas bicas e as suas vertentes alimentavam dois tanques com lavadouros,
agora abastecidos com água da rede pública. Esta fonte, ainda existente mas com
as bicas secas, recebia a água de um manancial com nascente nessa rua. Segundo
J. Bahia Júnior, o manancial das Bicas de Vilar, localizado na quinta do
Castanheiro, era contaminado com as águas residuais de uma fábrica, caindo, por
vezes, das bicas da fonte, água corada. Esta classificação é bastante diferente
da indicada por Souza Reis que caracterizava a água como excelente em tudo.
Figura 22 – A fonte de Massarelos segundo J. Bahia Júnior, 1909. |
Continuando a subir
passa-se a rua Casal do Pedro e, mais ou menos a meio, entra-se na travessa do
Campo do Rou que se percorre até encontrar a Rua do Campo do Rou e a das
Macieirinhas. Nesta zona existiu a Fonte
das Macieirinhas, segundo J. Bahia Júnior, 1909, “na rua das Macieirinhas à direita de quem sobe e fronteira ao prédio
n.º 7”. Esta fonte está seca, escondida no muro e sem o prédio n.º 7 à
frente, e, se as suas pedras não desaparecerem, vai ser engolida pelo silvado. A
sua água, nascida num quintal próximo da fonte, era de má qualidade. Para Souza
Reis a fonte era fornecida com água de boa qualidade, tão boa como a da fonte
das Bicas porque tinham origens muito próximas, se não a mesma. Estas
diferentes caracterizações não são antagónicas porque num período de 60 anos
mudaram os critérios de classificação da qualidade da água, e porque esse
período de tempo viu o “progresso” industrial e os efeitos da contaminação do
subsolo por resíduos sólidos e líquidos da indústria. No cimo da rua da
Macieirinha tem início a Rua de Entre Quintas onde se localiza o Museu
Romântico que ocupa a antiga casa senhorial da Quinta de Macieirinha. Nela
viveu, até à morte, o Rei Carlos Alberto da Sardenha. Nos seus jardins
destaca-se um chafariz com um tanque octogonal e, no seu centro, uma taça por
onde a água é lançada.
Figura 24 – A Fonte da Macieirinha, sem água nem bica, e com o silvado a abraçá-la. |
Figura 25 – O Chafariz da Quinta da Macieirinha |
Voltando à rua Casal
do Pedro, agora com a ribeira de Vilar à direita de quem sobe, alcança-se a rua
dos Moinhos cujo nome pode indicar a existência de unidades para moagem
aproveitando a água e o declive da ribeira de Vilar. No cimo desta rua depara-se
com a Fonte do Caco ou das
Azenhas[13], que
está resguardada numa cave com abóbada em arco construída em granito e junto ao
qual foi construído um moderno edifício. Tem uma bica no meio de uma concha e a
água é recolhida em dois tanques com lavadouros. As suas vertentes são
recolhidas pela ribeira de Vilar que aparece a céu aberto debaixo da mesma
abobada, em frente à fonte. Pela inscrição existente no frontispício, ela foi
construída, em 1899, pela C. M. do Porto. A água desta fonte tem origem numa
nascente localizada nas suas traseiras, rompendo dos rochedos do monte da Pena
(Souza Reis). A água é recebida por uma arca com cerca de um metro de altura de
água (J. Bahia Júnior). Com a impermeabilização dos solos a água armazenada no
manancial é, agora, muito menos, fazendo com que a fonte não deite pinga de
água em grande parte do ano. Souza Reis considerava a sua água como de excelente
qualidade. As suas vertentes seguem para dois tanques lavadouros. J. Bahia
Júnior regista a existência de fezes e urina junto à porta da arca.
Figura 26 – A Fonte do Caco ou das Azenhas, segundo J. Bahia Júnior |
Figura 27 - A Fonte do Caco em agosto de 2017. |
Subindo a escadaria que liga a rua dos Moinhos
à de D. Pedro V, e, aqui virando, andam-se alguns passos até ao entroncamento
da rua do Vilar, aí encontrando a fonte
de Vilar, construída em 1910 (Velasques, 2001). Hoje apenas serve como
elemento decorativo do conjunto habitacional aí construído. Esta terá
substituído outra do mesmo nome que existiu num “recinto profundamente colocado para o qual se desce por meio de uma
escada de pedra, à esquina que forma a rua do Vilar com o Beco de S. Macário”
(j. Bahia Júnior, 1909). Esta fonte tinha uma única bica, caindo a água num
tanque e lavadouros. A água tinha a sua nascente no próprio local, num cubo de
pedra fechado no qual a bica estava cravada.
Figura 28 – A Fonte de Vilar que apenas serve de elemento decorativo. |
Em frente à fonte de Vilar, para ocidente,
nasce a rua da Pena que, atualmente, liga a de D. Pedro V à Faculdade de
Ciências. Ela era muito conhecida por aqueles que em tempos tinham que fazer na
sua rampa a inversão de marcha no exame para obtenção da carta de condução. Que
martírio representava aquela manobra! Pois nessa rua houve a Fonte da Póvoa estava situada na rua da
Pena. A sua água vinha de uma mina, cuja nascente se localizava num quintal
próximo, e caía por meio de uma caleira de pedra num tanque. Souza Reis
atribuía à sua água qualidades especiais. A fonte já não existe e pessoas que
vivem naquela rua há bastante décadas desconhecem-na.
Figura 29 - A Fonte da Póvoa, segundo imagem de J. Bahia Júnior, 1909 |
Regressando à rua de D. Pedro V, descendo-a
pelo lado direito, encontra-se a fonte
da Rua D. Pedro V que se localiza a meio desta rua no lado direito de quem
desce. Tem apenas uma bica, entretanto desaparecida, inserida num medalhão em
alto relevo, e a água cai num tanque rectangular. Esta fonte teve um brasão que
foi deslocado para o jardim da Quinta do Barão de Nova Sintra. Foi restaurada
em 1941. Raramente tem água. Segundo J. Bahia Júnior, 1909, a água nascia numa
enorme rocha existente nas costas da fonte (morro da Pena). Dada a sua origem,
os riscos de contaminação eram reduzidos, podendo-se admitir que a água era de
boa qualidade. Uma análise bacteriológica realizada no início do século XX pelo
laboratório da Repartição Municipal de Saúde e Higiene e pelo Laboratório de
Bacteriologia do Porto provava-o (J. Bahia J., 1909).
Descendo a rua D. Pedro V até à Alameda de
Basílio Teles, caminhando alguns metros chega-se à rua da Boa Viagem, antes
Caminho da Boa Viagem. Nesta zona ficava a Quinta de Massarelos e encostada ao
muro da propriedade do Barão de Massarelos existiu a Fonte da rua da Fonte que, para Souza Reis, não era mais do que “um
poço cuja água vindo à flor da terra derrama-se pelas bordas do seu
receptáculo. Ela também é referida por J. Bahia Júnior que a apresenta como
destruída. Este autor apenas testemunhou vestígios da arca da sua nascente na
rua da Fonte, junto a uma capela. Subindo a rua da Boa Viagem, depara-se à
esquerda com a rua do Bicalho que nos
leva à rua do Ouro, ponto final deste passeio. Souza Reis[14]
refere a existência de três fontes no lugar do Bicalho: uma, situada no baixo
da calçada da Arrábida, que estava, então (1842 – 1848), desprezada e tinha na
sua traseira um lavadouro. A sua água vinha de uma mina que ficava na
propriedade, naquela data, dos herdeiros de Manoel Brawne. A segunda fonte,
denominada por J. Bahia Júnior como Fonte
do Bicalho, situava-se no cais do Bicalho em frente à Fundição do Cais do
Bicalho, por baixo da qual passava a mina que a abastecia. A fonte não era mais
do que uma caleira em pedra. A terceira fonte, com melhor e cristalina água,
ficava na rampa do sítio de Bicalho. Mais tarde, em 1901, C. M. do Porto construiu a Fonte Nova do Bicalho, situada ao fundo
da Calçada da Arrábida, antiga Calçada do Bicalho. Esta fonte tinha dois
tanques com lavadouros, mas agora tem só um que recebe água com abundância. Em
março de 2010, Freitas et al., 2010[15] caracterizaram a nascente da fonte Nova de
Bicalho cuja água é descarregada por um tubo para um tanque que debitava 0,3
L/s (9/3/2010). Os valores de pH e de condutividade da água determinados foram,
respetivamente, 7,9 a 15,1 ºC e 447 µS/cm.
Figura 31 – A Fonte Nova do Bicalho, em 1909 (J. Bahia Júnior, 1909) |
Figura 32 - A Fonte Nova do Bicalho em agosto de 2017. |
[1] Atualmente Largo da Carvalhosa.
[2] Os frades Antoninos do Vale da Piedade
fundaram o Hospício de Santo António da Cordoaria destinado a recolher os
frades, para descanso e convalescenças, do seu convento localizado em Gaia,
junto ao rio Douro. Aquele hospício localizava-se nos terrenos onde existiu,
até 1952, o Mercado do Peixe.
[4] Um desses arcos dá acesso às caves do
Hospital de Santo António.
[5] Tito de Bourbon e Noronha, 1885, As
Águas do Porto, Dissertação Inaugural apresentada à Escola Médico-Cirurgica do
Porto, Porto
[6] Francisco da Fonseca Henriques, 1726,
Aquilégio Medicinal, Oficina da Música, Lisboa.
[8] Segundo Silva, G., 2000, estes “versos latinos foram escritos por Pantaleão
de Seabra e Sousa, fidalgo da Casa Real e poeta insigne”.
[9] Aguiar Branco, L. B., Cardoso, P. V.,
2016. Dar água à fonte das Virtudes, O
Tripeiro, 7ª Série, Ano XXXV, n.º 5: 153 – 155.
[11] Alguns autores também lhe chamam fonte
do Macaco.
[12] Sinal com que, no princípio do século
XX, sinalizavam as fontes e chafarizes com água imprópria para consumo.
[13] Souza Reys refere duas fontes, uma com
o nome de Caco, e a outra com o de Azenhas. Alguns autores denominam esta fonte
como do Caquinho
[14] Henrique Duarte e Sousa Reis, 1984,
Manuscritos inéditos da BPMP, Biblioteca Pública Municipal do Porto. Manuscrito
com data de 1853 que reproduz a Descrição Histórica das Arcas, Fontes e
Aquedutos da cidade do Porto, ordenada por João Evangelista Gomes Leite, 1836,
com um aditamento de Souza Reys.
[15] Freitas, L., Devy-Vareta, N., Gomes,
A., Santos Siva, R, Afonso, M. J., & Chaminé, H. I, 2010, Águas
subterrâneas na área urbana do Porto (séculos XIX – XXI): potencialidades da
análise geográfica de uma Base de Dados Espacial, VI Seminário Latino –
Americano de Geografia Física, II Seminário Ibero – Americano de Geografia
Física, Universidade de Coimbra.
Boa tarde
ResponderEliminarUma vez que já calcorreou os Caminhos do Romântico, conhece esta fonte?
https://www.google.pt/maps/place/41%C2%B008'53.1%22N+8%C2%B037'46.0%22W/@41.148071,-8.6299942,199m/data=!3m2!1e3!4b1!4m14!1m7!3m6!1s0xd2464557ed40f3f:0xb8d9fa216aecda7!2sR.+de+Cervantes,+Porto!3b1!8m2!3d41.1593769!4d-8.613942!3m5!1s0x0:0x0!7e2!8m2!3d41.1480707!4d-8.629447?hl=pt-PT
Cumprimentos
Hugo Martins
Perdoe-me tão grande atraso no agradecimento que lhe envio. Só hoje li o comentário. Vou tentar chegar à indicação que então me deu. Mais uma vez, muito obrigado.
ResponderEliminarCumprimentos,
Vitorino Beleza.