MASSARELOS
Em 1148, D. Afonso Henriques doou à Colegiada de Cedofeita
um vasto território no qual se incluía “Maçarelos” que era um povoado de
pescadores que viviam na margem do rio Douro, na praia de “Maçarelos”, onde exploravam
o sal que secavam em tábuas ali colocadas (salinas) e praticavam a agricultura nas
encostas que pendiam para o rio, quer as do encaixado vale da ribeira de
Massarelos ou de Vilar, quer na encosta poente do morro onde hoje se encontra o
Palácio de Cristal. Nesta encosta e, principalmente, no Campo de Rou foram
encontrados vestígios arqueológicos da época romana e medieval. Era a primeira
povoação fora de portas, por onde passavam aqueles que seguiam para Lordelo e
Foz do Douro.
Formalmente, Massarelos derivou da antiga freguesia de Nossa
Senhora da Boa Viagem, santa a quem terá sido dedicada uma capela que se
situava no lugar do Bicalho e que terá sido a primitiva matriz do lugar, talvez
do século XVI[1].
Esta capela foi demolida e substituída pela igreja de S. Pedro de Massarelos.
Em 1636, o Julgado de Massarelos já pertencia ao concelho do
Porto, pelo menos, segundo os livros da Câmara. A freguesia de Massarelos foi
anexada ao concelho do Porto em 1789, tendo pertencido, até então, à Comarca e
Terra da Maia. Durante os séculos XVIII e XIX, surgiram em Massarelos “belas
quintas de regalo”[2],
como a Quinta dos Pacheco Pereira. No século XIX instalaram-se na freguesia
algumas industrias como a têxtil, a de fundição e a de refinação de açúcar. Entre
1854 e 1856 foi instalada a Companhia do Gás e, em 1907-08 a Central Térmica do
Ouro, obra importantíssima na difusão do uso da eletricidade na cidade do Porto
e no desenvolvimento do transporte urbano.
Massarelos espalha-se por uma zona ribeirinha, uma zona alta
e planáltica com os bairros de Vilar, Campo Alegre e Bom Sucesso, e uma zona
intermédia com as suas quintas em socalcos, como é exemplo a da Macieirinha
onde se situa o Museu Romântico e os Jardins do Palácio de Cristal. Este jardim
foi desenhado, pouco tempo depois de 1865, por Émile David, que seguiu o modelo
que então se espalhava pela Europa, com alamedas, bosque, lago e grutas. Nele
foi construído o Palácio de Cristal destinado a acolher a Exposição
Internacional do Porto. Em 1933, a CMP adquiriu o terreno onde, depois de demolir
o Palácio, mandou construir o Pavilhão dos Desportos no qual se realizou, com
chuva e sem a cúpula, o Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins de 1952. O
Pavilhão sofreu duas remodelações nos últimos anos, tendo adotado, depois da
primeira, o nome da grande e acarinhada atleta da cidade do Porto Rosa Mota.
Massarelos (ver figura 1) tem a área de 1,9 km2. Segundo
o Livro Memórias Paroquiais de 1758 do Distrito de Porto, viviam nesta freguesia
cerca de 800 pessoas. Em 1911 a população da freguesia era de 7.613 habitantes,
tendo baixado, em 2011, para 6.789 almas. O índice de envelhecimento é de 235,
superior ao do Porto e ao do pais.
Figura 1 – Limites da antiga freguesia de
Massarelos. Fonte: Google maps
Escreveu Manoel de Pillar Lobo nas Memórias Paroquiais de
1758 que “nesta terra (Massarelos) não há
lagoa, nem fonte com celebridade especial, por que há todas as salutíferas e
gostos excelentes, essas fontes são muitas e com quantidade de coisas atrás,
tanto que com o maior obelisco de atrás, que corre pelo meio deste lugar de
Norte a Sul direito […][3]
”. Havia, no entanto, o ribeiro de Massarelos que ainda hoje está vivo e corre
a céu aberto no seu troço final (ver capítulo V). Massarelos teve, antes de
1909, treze fontes[4].
No levantamento que Bahia Junior[5]
fez ele reconheceu que uma delas fora destruída, a Fonte da Rua da Fonte, e
outra, a Fonte de D. Pedro V, estava seca. Restavam, então, a Fonte das Bicas
de Vilar ou Bicas de Massarelos, Chafariz da Alameda de Massarelos, estas
recebendo a água do manancial das Bicas, e as Fontes do Bom Sucesso, do Caco ou
Azenhas, de Vilar, do Campo Alegre, da Póvoa, do Bicalho, Nova do Bicalho e a
da Macieirinha ou Masseirinha, estas com nascente própria. A fonte de Vilar
descrita por J. Bahia Júnior foi substituída, em 1910, por outra que agora
decora a entrada de um prédio existente na esquina da rua do Vilar com a rua de
D. Pedro V. Estas fontes estão descritas no capítulo 7. Para além dessas
fontes, o autor refere ainda as Fontes do Bom Sucesso e do Campo Alegre.
Velasques[6],
refere a fonte da rua dos Moinhos, mas nada adianta sobre ela.
O Convento da Madre de Deus de Monchique foi fundado em 1535
e instalado, em 1538, na Casa Conventual que resultou da adaptação da
residência de Pedro Cunha Coutinho (Ferreira-Alves, 2002: 129[7]).
O Convento foi encerrado, em agosto de 1834, por Decreto de 30 de maio que deu
cobertura à extinção de todos os conventos e outras instituições das ordens
religiosas. Os bens do convento foram incorporados nos Próprios da Fazenda
Nacional, levando à ruína os edifícios que faziam parte do espólio. No centro do Claustro principal, ao lado da
capelinha do Senhor dos Passos, existia um chafariz
que brotava água límpida e pura. Existia um segundo chafariz no outro claustro,
que devia receber água da mesma mina.
Figura 2
- Desenho do Claustro do Convento de Monchique, com o seu chafariz e a capela
do Senhor dos Passos. Desenho de Joaquim Cardoso Vitória Vilanova, reproduzido
em Ferreira-Alves, 2002: 134
Figura 3 – As ruínas do Convento de Monchique
que num futuro próximo incorporarão mais um hotel para a cidade do Porto
A Fonte do Campo
Alegre situou-se na rua do Campo Alegre, no espaço entre as atuais ruas de
Gonçalo Sampaio e Prof. Abel Salazar, encostada ao muro de uma quinta que
existiu em frente ao atual número 462 daquela rua, no local onde hoje existe um
parque automóvel limitado pelas ruas do Campo Alegre, Entrecampos e do Gólgota.
Segundo a descrição de J. Bahia Júnior, a fonte consistia num poço incorporado
numa arca em alvenaria (ver figura 3), do qual a água era enviada, por meio de
bomba, para a única bica da fonte. Depois de o poço ter secado e entulhado, a
fonte foi removida em 1945 e instalada nos jardins do SMAS a pedido da
proprietária da quinta que reclamava das poucas vergonhas ali praticadas.
Figura 4 – A Fonte do Campo Alegre no tempo de
J. Bahia Júnior. Fonte: Bahia Júnior, 1909: 86. Na parede lateral da arca
realça-se a torneira que enchia os cântaros
Figura 5 – A fonte do Campo Alegre instalada,
desde 1945, nos Jardins do Barão de Nova Sintra. Na parede à direita da porta
vê-se a abertura que permitia movimentar o braço da bomba de êmbolo que
aspirava a água do poço
Figura 6 – Azulejos e peixe da parede frontal
da Arca da Fonte do Campo Alegre instalada nos Jardins do Barão de Nova Sintra
No lugar onde se encontravam os caminhos que vinham de
Vilar, de Lordelo e de Cedofeita existiu, nos finais do século XVII, uma quinta
onde se construiu casa com uma capela barroca dedicada a
Nossa Senhora do Bom Sucesso e que
veio a pertencer a António de
Almeida Saraiva. Este abastado proprietário mandou construir, em 1748, a Fonte do Largo do Bom Sucesso encostada
àquela capela. Ela era toda em pedra, ostentando no alto a imagem de Nossa
Senhora do Bom Sucesso colocada em nicho com grades de ferro. A água era
lançada por um golfinho para uma concha em granito. A mina que a abastecia
ficava perto da rua Oliveira Monteiro e o seu aqueduto atravessava a Rotunda da
Boavista e seguia pela rua do Bom Sucesso até entrar na quinta de António
Saraiva e alimentar a bica da fonte. Embora a fonte fosse particular, ela era
de uso público, obrigando-se os donos da quinta a fornecer a água que
entendessem. Na rua do Bom Sucesso, a cobertura com lajes graníticas da caleira
por onde circulava a água servia de passeio. As fendas entre lajes permitiam a
entrada de água contaminada e outras imundícies que afetavam a qualidade da
água da fonte. A curta descrição de Gomes Leite, 1836, indica a nascente na
própria quinta, para onde revertiam as vertentes da fonte. Júlio Couto[8]
refere que, durante a construção do Mercado do Bom Sucesso e arruamentos
envolventes, a fonte foi removida para o
interior da quinta que pertencia, então, à família de Oswaldo Lopes Cardoso Rocha
Ferreira, e, em 1982, foi transferida, juntamente com outra fonte interior e o
portão para outra quinta situada na freguesia de Martim, em Barcelos, de que
este senhor era dono. Da quinta do Bom Sucesso e seus edifícios, restam a casa
e a capela em boa hora restauradas. A casa é hoje um bom restaurante e a capela
reabriu ao culto em dezembro de 2005.
Figura 7 – A fonte de Bom Sucesso. Fonte: shorturl.at/cgA24,
descarregado em 3/12/19
LORDELO DO OURO
A semelhança do que aconteceu com
Massarelos, pelas terras de Lordelo do Ouro e Cantareira viveram comunidades
que cresceram em consonância com o trabalho do campo, da pesca, dedicando-se
aos trabalhos de madeira - construção de barcos/naval - tradição que as gentes
destas localidades, com garbo, fizeram chegar até hoje. Escavações
arqueológicas levadas a cabo na calçada do Ouro (Senhor da Boa Morte) e nos
terrenos do Centro Paroquial e Social de Lordelo do Ouro mostraram estruturas
relacionadas com a ocupação romana. A área investigada abrangia a zona de
acostagem dos barcos que faziam a travessia entre a Afurada e o lugar do Ouro
donde seguia uma via em direção a Bouças. A primeira referência a Lordelo do
Ouro consta na doação feita, em 1144, ao Abade João Cirita, do Mosteiro de
Alcobaça, do “Cimo de Santa Ovaya”, no termo de Bouças junto a Lordelo (Santos
Castro, 2012).
A construção naval foi uma das importantes atividades de
Lordelo do Ouro, restando hoje alguns resistentes que a preservam. Com boas
condições para a promoção da agricultura, formaram-se, em Lordelo do Ouro, nos
séculos XVII/XVIII, várias quintas, parte das quais vieram a ser ocupadas mais
tarde pela indústria. Aproveitando as condições naturais, em especial a passagem
da ribeira da Granja e seus afluentes, instalaram-se na freguesia de Lordelo do
Ouro, na segunda metade do século XIX e uma boa parte do século XX, inúmeras
empresas industriais, algumas das quais se arrastaram até bem próximo dos
nossos dias: a Sociedade Nacional dos Fósforos, Aluminia, Parafusos, Lanifícios
de Lordelo, Sisol, A Veludo[9],
etc., tendo-se destacado a Fundição da Arrábida e a Fundição do Ouro que
difundiram a arquitetura do ferro[10]
na cidade do Porto. No século XX foi instalada a Central Termoelétrica do Ouro
que teve um papel decisivo na expansão da iluminação pública e do consumo
doméstico de eletricidade.
De entre os espaços verdes da cidade do Porto destaca-se o
dos Jardins do Parque de Serralves que integra a Fundação de Serralves, criada
em 1989, reconhecida internacionalmente pelos serviços que presta à comunidade
no âmbito da arte contemporânea e do ambiente[11].
Os Jardins de Serralves ocupam uma área de 18 hectares, com uma linha de água
resultante da intersecção de duas vertentes que encaminha a água do manancial
aí existente em direção à ribeira da Granja. A forte presença da água nos
jardins distribui-se por vários elementos, entre os quais se incluem uma fonte,
um lago, tanques e um espelho de água.
Figura 8 – A fonte dos jardins de Serralves
Figura 9 – Pormenor do lago dos jardins de
Serralves
Outro espaço verde digno de uma visita é o Jardim Botânico
do Porto que foi instalado, em 1951, pela Universidade do Porto nos jardins que
foram da Quinta do Campo Alegre ou Casa dos Andressen, depois de esta
propriedade ter sido adquirida pelo estado português em 1949. O espaço ocupado
pelo Jardim Botânico é o que resta da Quinta Grande que pertenceu, no século
XVIII, à Ordem de Cristo. A mutilação da quinta ocorreu, em 1956, quando foram
construídos os acessos à Ponte da
Arrábida, ficando reduzida a um terço dos originais 12 hectares. Como acontecia
em muitas das quintas do Porto, existia um chafariz hoje conservado no Jardim
do Rapaz do Bronze, jardim que inspirou Sophia de Melo Breyner Andressen com o
título “Rapaz de Bronze”.
Nos últimos cem anos a antiga freguesia foi-se transformando
num dormitório de muitos que trabalhavam no Porto. A Câmara Municipal do Porto
construiu nesta freguesia dez bairros de habitação social que vieram a ser
ocupados em grande parte por habitantes deslocados do centro histórico de
Porto, onde se desenvolveram complexos problemas sociais, entre os quais a
venda e consumo de droga.
A freguesia de Lordelo do Ouro foi
anexada ao Porto em 26/11/1836, então com 2.000 habitantes. Em 1911, viviam na
freguesia 7.982 habitantes, número que se aumentou, em 2011, para 22.189.
Índice de envelhecimento: 139, inferior ao do concelho do Porto, 195, mas
ligeiramente superior à do pais, 129. Área: 3,6 km2. A freguesia era
limitada a norte pela freguesia de Ramalde, a oeste por Aldoar e Foz do Douro,
a sul pelo rio Douro, e a este por Cedofeita e Massarelos.
Figura 10 – Os limites da antiga freguesia de
Lordelo do Ouro
A antiga freguesia de Lordelo do Ouro, com a sua forma em
anfiteatro, recebe os ares húmidos vindos do estuário do Douro e do oceano Atlântico
que favorecem a formação de chuva que enriquece o subsolo em água. Das duas
encostas corriam pequenos ribeiros em direção à Ribeira da Granja que, no seu
percurso final, alimentavam importantes empresas industriais atrás referidas e
que acabaram por desaparecer, algumas há poucas décadas. Embora ainda estejam
preservadas importantes áreas verdes, a urbanização da área vai empurrando a
chuva para o rio Douro, impedindo-a de servir a natureza. Afinal de contas,
isto acontece em toda a cidade e ninguém se incomoda com isso.
Figura 11 – O rio Douro visto do local onde
desaguava a ribeira da Granja, no jardim do Cálem. Ainda existe alguém que não
acredita que o rio é d’ouro?
Entre os pequenos cursos de água que corriam na freguesia
constava o rio Escuro que repartia a sua nascente com a Fonte de Nossa Senhora da Ajuda, na Rua da Senhora da Ajuda. O nome
desta fonte invocava o de uma capelinha existente no local que está associada a
duas lendas que animam a fé popular[12].
Conta a primeira lenda que a Senhora da Ajuda terá aparecido em sonhos a
Catarina Fernandes, ordenando-lhe que fosse a uma fonte que existia perto do
local onde se encontra a capela onde veria uma pomba branca e, com ela, a
imagem da santa. Cumprindo o sonho, deslocou-se ao lugar marcado onde viu uma
pomba mas não a imagem, quiçá porque a fonte estava quase coberta com silvas.
Procurou o marido a quem pediu ajuda depois de lhe ter contado o que
acontecera. Os dois voltaram à fonte e encontraram a imagem entre silvas. Na sua
posse, eles construíram uma ermida, no final do século XVI início do século
XVII, restaurada em 1919-20, a que deram o nome de Nossa Senhora do O. Conta a
segunda lenda que nove navios ingleses entraram na barra do Douro e procuravam
subir o rio. Um deles, ao passar defronte da ermida, encalhou e dali na saía,
apesar dos esforços aplicados pelos marinheiros. Como o barco transportava uma
imagem de Jesus Crucificado, os homens do mar admitiram que aquela situação era
um sinal divino que refletia a vontade da imagem ficar na capela da Senhora.
Desembarcaram com a imagem e dirigiram-se para a ermida. Mal a colocaram na
capela, o navio recomeçou a navegar e seguiu o seu caminho. Com a chegada da
imagem, a capela passou a albergar o Senhor e a Senhora da Ajuda, passando-se a chamar de Capela do
Senhor e Senhora da Ajuda, nome que se mantém nos nossos dias. Couto[13]
descreve outra história muito semelhante a esta, envolvendo um barco enviado
pelo Bispo de Tui que transportou uma relíquia de S. Pedro Gonçalves Telmo oferecida
à Confraria das Almas e do Corpo Santo que se tinha comprometido, em 1394, a
construir uma ermida dedicada àquele santo que salvou um barco seu de naufrágio
certo no Golfo da Biscaia. Entrando na barra do Douro, o barco subiu até ao
Cais das Pedras onde encalhou. Como o barco não arredava pé, um velho e
experiente marinheiro lembrou-se de sugerir o desembarque da relíquia ali
mesmo, operando-se logo o milagre: o navio voltou a flutuar. Em procissão, a
relíquia foi depositada na Igreja do Corpo Santo, atualmente Igreja Matriz de
Massarelos, donde desapareceu tempos depois sem deixar rasto.
Figura 12
- A Capela de Nossa Senhora da Ajuda
Para Sousa Reis[14]
a Fonte da Arcada era assim chamada
porque se situava nesse lugar da freguesia de Lordelo do Ouro, na Rua da Fonte
de Arcada que tinha início, nos primeiros anos do século XX, na Avenida da
Boavista. Outra possibilidade podia dever-se ao arco da entrada para a sua
arca. Segundo Bahia Júnior[15],
a fonte não passava de um charco metido no muro de uma propriedade agrícola,
com uma soleira que mal o protegia de receber escorrências de outras águas,
incluindo a da chuva, que deterioravam a água da “fonte”, chegando ao ponto de
ela representar, em 1909, a água com pior qualidade bacteriológica entre as
fontes da freguesia (J. Bahia Júnior, 1909: 110).
Figura 13
- A Fonte da Arcada, que estava a ser limpa, na data da visita de J.
Bahia Júnior, pelo pessoal da Câmara. Fonte: Bahia Júnior, 1909: 90.
Junto da Central de Produção de Eletricidade da Companhia
Carris de Ferro foi construída a Primeira
Fonte da Arrábida[16]
(Sousa Reis, 1984: 194). Esta fonte apenas tinha uma bica e um pequeno tanque
que recebiam a água da mina que existia na pedreira que se encontrava atrás da
fonte. Ela foi mandada construir pela
Companhia Geral das Agricultura das Vinhas do Alto Douro. A água, muito pura,
brotava diretamente da rocha. Em 1948, foi transferida para o Jardim da Quinta
do Barão de Nova Sintra. A fonte, em granito, tem apenas uma bica inserida num
espaldar muito simples. A Segunda Fonte
da Arrábida, estava localizada um pouco abaixo da Fundição da Arrábida, no fundo
encosta do monte com o mesmo nome próximo da linha que separava a freguesia de
Lordelo do Ouro com a de Massarelos. Esta fonte nunca chegou a ser acabada, A
água das duas fontes era, bacteriologicamente de excelente qualidade J. Bahia
Júnior, 1909: 110). BPMP, Velasques, 2001, H. Marçal, 1968
Figura 14 – A primeira Fonte da Arrábida. Na
legenda da figura 161 da obra de Bahia Júnior, página 88, realça-se o comum
fato de, no recanto ocupado pelas duas figuras, abundarem “os bolos fecais”
Figura 15 – A Primeira Fonte da Arrábida instalada
no Jardim do Barão de Nova Sintra
Figura 16 – A Segunda Fonte da Arrábida. Fonte –
Bahia Júnior, 1909: 89.
A Fonte do Ouro ou do
Largo do Ouro terá sido construída
antes de 1735 porque nesse ano o Reverendo José Alves Coelho tentou
apropriar-se da sua nascente, tendo disso sido impedido pelo povo apoiado pela
Câmara (J. Bahia Júnior, 1909: 19). Outros autores (Velasques, 2001, Sousa
Reis, 1984: 194) defendem uma data indefinida no século XIX. A fonte era,
então, muito importante porque servia todos os que seguiam pela calçada que
pertencia ao caminho que ligava o Porto à Foz. Esta fonte localiza-se em frente ao Cais do Ouro, abaixo do
local onde esteve instalada a fábrica da Companhia do Gás. Tem duas bicas
inseridas num espaldar que lançam a água num grande tanque. Sob as bicas
existiam suportes em ferro para apoio dos cântaros. A água tinha origem numa
mina chamada do Ouro ou da Cardosa existente nos terrenos próximos, nas
traseiras da fonte (J. Bahia Júnior, 1909: 89). Essa mina estava sujeita a
muitas infiltrações que contribuíam para a sua má qualidade bacteriológica. A Fonte da Praia do Ouro, também
conhecida como Fonte da Félix,
estava muito próxima daquela defronte do local onde se encontra o prédio do MXM
ArtCenter, encostada ao paredão do cais, com escadas que garantiam que a ela
acedessem aqueles que por ali passavam. A fonte era composta de uma bica com
pequeno tanque tendo ao lado outro maior com lavadouros, alimentado pelas
vertentes do primeiro (Bahia Júnior, 1909: 90). Por cima da bica vê-se uma
pequena porta de ferro do muito reduzidas dimensões que ó a entrada da sua mina
que ficava a pouca distância, “na
propriedade do Bessa” (Velasques, 2001: 217, Sousa Reis, 1984: 195). Tinha uma característica muito própria:
a de ficar submergida durante as marés vivas. Em 2007, a fonte foi reconstruída
perdendo os seus tanques lavadouros e recebendo água da rede pública.
Figura 17 – A Fonte do Ouro. Fonte – Bahia
Júnior, 1909: 89.
Figura 18 – A Fonte do Ouro na atualidade
Figura 19 – A fonte da Praia do Ouro ou da Félix
- Fonte – Bahia Júnior, 1909: 89
A Fonte de Grijó foi construída antes de 1841 porque,
nesse ano, o proprietário da quinta a cujo muro estava encostada a fonte, a
quis incluir na sua propriedade. O povo reclamou e a Câmara defendeu os seus
direitos. Ela situava-se na Travessa de Grijó e era tão somente um charco
metido numa arca com uma pequena soleira de proteção. A água era recolhida com
as vasilhas que eram introduzidas na arca através da sua pequena porta. Consequentemente,
a água era de má qualidade bacteriológica. A Fonte de Mata Sete, ou da
Pasteleira, descrita por J. Bahia
Júnior, 1909: 91, situava-se junto da rua da Pasteleira e muito perto da
Fábrica dos Óleos, concretamente na Viela dos Mortos. A entrada para a sua
mina, fechada com portão, ficava por cima da bica da fonte. A qualidade
bacteriológica da água era um pouco abaixo do sofrível. A Fonte
de Mouteira tem o nome do local que a recebeu e que deu origem à rua da
Mouteira que entronca, atualmente, com a de Diogo Botelho.
Figura 20 – A fonte do Mata Sete ou da
Pasteleira - Fonte – Bahia Júnior, 1909: 91.
A Fonte
de Penoucos
situava-se no Largo de Penoucos que hoje não existe, conhecendo-se apenas a rua
de Penoucos que liga as ruas de Serralves com a de D. João de Mascarenhas. No
início do século XX aquele largo ficava muito próximo da Fábrica de Lanifícios
de Lordelo, também conhecida por Fábrica dos Panos, que aproveitava a ribeira
da Granja para o fornecimento de água para o processo e como força motriz. Esta
ribeira ainda corria a céu aberto naquela zona. Apesar de privada, a fonte
servia o público por concessão do seu proprietário. A sua água vinha de uma
mina existente no quintal limitado pelo muro onde se inseria a fonte. A
qualidade microbiológica da sua água era de sofrível a má. Segundo J. Bahia
Júnior (JBJ, 1909: ), a Fonte das Rãs, das Rabadas, ou da Raia, terá sido reconstruída, em
1861, na presidência da CMP do Visconde da Lagoaça conforme o refere uma
inscrição existente no seu espaldar: V. L. 1861. Situava-se esta fonte no Monte
da Arrábida, ao lado da fábrica da Companhia dos Fósforos. Em 1909 estava seca.
Figura 21 – A fonte de Penoucos - Fonte – Bahia
Júnior, 1909: 91.
Aqueles que se deslocam para o
miradouro de Santa Catarina passam, necessariamente, pela rua de Luís Cruz. No
gaveto desta rua com a travessa do mesmo nome encontra-se a singela Fonte de Santa Catarina ou Fonte da Rua
Luís Cruz, de reduzidas dimensões, com um espaldar cujo aspeto lembra uma
pequena capela (Velasques, 2001: 70). A fonte, atualmente sem água, tem apenas
uma bica à qual falta, como em muitas fontes e chafarizes do Porto, o tubo
metálico. O seu pequeno tanque serve agora com caixote de lixo. Como vale a
pena aceder ao miradouro para daí desfrutarem do estuário do rio Douro com toda
a sua magnificência e da sua antiga ermida mandada construir pelos marinheiros
portuenses do tempo do Infante D. Henrique (Silva, 2000: 156), parem dois
minutos junto desta fonte para lhe prestar homenagem.
Figura 22 – A fonte da Rua Luís Cruz no caminho
para o miradouro de Santa Catarina
[1]
Plano Diretor Municipal do Porto (revisão), 2018, Valores Patrimoniais –
Relatório de Caracterização e Diagnóstico, Câmara Municipal do Porto: 82
[2] Capela, J., Matos, H., Borralheiro,
R., 2009, As Freguesias do Porto nas
Memórias Paroquiais de 1758, Coleção “Portugal nas Memórias Paroquiais de
1758”, Braga: 66.
[3] Capela et al., 2009, transcrito por
Teixeira, 2011: 236.
[7] Ferreira-Alves, J. J., 2002, Elementos
para a história do Convento da Madre de Deus de Monchique, Revista da Faculdade
de Letras – Ciências e Técnicas do Património, Volume I, pp., 129-147.
[8] Couto, J., 1993, Monografia de Massarelos – Porto, Junta de Freguesia de Massarelos,
Porto: 320
[9] Pinto, R. S., 2015, Dia do Porto, - Lordelo do Ouro 2015, https://aciagemdosargonautas.ne,
consultado em 2/11/2019.
[10] CMP, 2017, ARU de Lordelo do Ouro,
Área de Reabilitação Urbana – Projeto de delimitação, Direção Municipal de
Urbanismo, Departamento de Planeamento e Ordenamento Urbano e Divisão Municipal
de Planeamento e Ordenamento do Território da Câmara Municipal do Porto: 4.
[11] Pinheiro Velho, S., 2012, O efeito dos
espaços verdes no conforto bioclimático – Os Jardins de Serralves, dissertação apresentada para a obtenção de
grau de Mestre em Sistemas de Informação e Ordenamento do Território da
Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
[12] Sítio da Paroquia de Nossa Senhora da
Ajuda, shorturl.at/myBKW, consultado em 7-12-2019.
[16] As fotografias apresentadas na obra de
J. Bahia Júnior das primeira e segunda fontes da Arrábida não têm qualquer
inscrição, ao contrário da fonte que se encontra nos Jardins do Barão de Nova
Sintra. O próprio Bahia Júnior diz que as duas fontes são muito semelhantes.
Coloca-se, então, uma questão: a fonte transferida em 1948 é a primeira ou a
segunda fonte da Arrábida?
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