segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

parte VI

O Manancial do Campo Grande, para além de alguns lavadouros, alimentava diversas fontes e chafarizes, começando pela Fonte de Mijavelhas e pelos lavadouros públicos que aí existiam, e continuando pelas seguintes fontes e chafarizes: Rua Garrett, Padrão de Campanhã, Rua das Fontainhas, Terreiro da Batalha, Batalha, Alameda (Cemitério do Prado), Largo da Polícia, e, os descritos anteriormente, como o Chafariz da Rua Chã, a Fonte do Largo de S. Sebastião e o Chafariz do Anjo (S. Miguel) ou do Largo da Sé. Como, em março de 1882, foi assinado um contrato para abastecimento de água ao domicilio entre a Câmara e a Compagnie Général des Eaux pour l'Etranger, a água desta companhia passou a abastecer fontes do Porto, entre as quais a das Fontainhas, Batalha, Rua Chã, S. Sebastião na Rua Escura e o Chafariz do Anjo S. Miguel.

A Fonte de Mijavelhas localizava-se junto à nascente do Ribeiro de Mijavelhas que se situava na área que fica por detrás do Balneário Municipal do Campo 24 de Agosto. Segundo H. Marçal, 1968, ela era uma fonte de chafurdo devido à sua localização abaixo do nível da rua. Esta fonte já existia em 1402 atendendo a que foi ordenado, em 12 de setembro daquele ano, em sessão da Câmara Municipal, a sua reparação[1].

Na Revista o Tripeiro[2] pode ler-se que a “Arca do Poço das Patas sofreu, no ano de 1868, uma reparação, e que, à beira da fonte de duas bicas, construíram um tanque provido de três canecas de folha de flandres, presas por cadeias, para uso dos moradores da vizinhança que iam buscar água destinada aos usos domésticos. Isto é, só as ditas canecas é que mergulhava no tanque, evitando-se assim, como manda a boa higiene, a conspurcação da água pelo constante submergir das vasilhas, nem sempre limpas… Para Noroeste, nas traseiras do Balneário Municipal, em ponto fundo borbulhava uma copiosa nascente, cuja água alimentava uma fonte de chafurdo ou de afoga caneco, abastecia um lavadouro grande e outros mais pequenos (destruídos em 1899 aquando da peste bubónica); e, em volumoso regato, deslizava para as bandas do Sul com direcção ao Monte do Seminário, onde se despenhava no Rio Douro. Poder-se-á depreender deste texto que terão existido duas fontes no Campo que hoje é 24 de Agosto? Este relato aponta nesse sentido, mas é importante a confirmação desta hipótese.. Segundo J. Bahia Júnior, a Arca do Campo Grande recebia, depois do desaparecimento do Manancial de Mijavelhas, água do próprio Manancial do Campo Grande, do de Montebelo e algumas minas. A fonte e os tanques associados ao Manancial do Campo Grande foram aterrados e desaparecerem em meados do século XIX.

Figura 1 - A Arca do Campo Grande presente na Estação de Metro do Campo 24 de Agosto

A Fonte da Rua Garrett, localizava-se na Rua que lhe deu o nome – actual Rua de Padre António Vieira, em Campanhã. Era alimentada pela água da mina da Póvoa ou de Gaspar Cardoso, cuja entrada se situava na Calçada da Póvoa. A água era conduzida da mina até à fonte pela Travessa da Póvoa, Avenida Fernão de Magalhães, Rua Ferreira Cardoso, Rua do Heroísmo e Rua Padre António Vieira, antiga Rua Garrett. O trajeto a partir do Campo 24 de Agosto era feito em cano de chumbo. A fonte, reconstruída em 1848, está atualmente nos jardins da empresa municipal Águas do Porto. Desconhece-se a data da sua construção. Na caracterização da água desta fonte efetuada por J. Bahia Júnior, em 1908-1909, verifica-se que a sua qualidade microbiológica era muito má, imprópria para consumo humano. J. Bahia Júnior testemunhou que os cantos abrigados do alpendre da fonte serviam de mictório e, num deles encontrou fezes, concluindo que “...as boas qualidades de recato (do alpendre), o público porco aproveita, para servir dos seus recantos como sentinas e mictórios”.
                                                                   
Figura 2 – A Fonte da Rua Garrett, como se pode apreciar agora nos Jardins da Águas do Porto

Figura 3 – A Fonte da Rua Garrett, que ficava na rua daquele
nome ao lado do prédio n.º 21. A letra F indica a presença
 de fezes (Fonte: J. Bahia Júnior, 1909, pág. 34)

A Fonte do Padrão de Campanhã, segundo Horácio Marçal, 1968, localizava-se em frente à Capela do Heroísmo e foi substituída pela Fonte da Rua Garrett. A Fonte da Rua das Fontainhas é referida por vários autores, como Sousa Reis[3], J. Bahia Júnior, que a localizam na embocadura da rua que lhe dá o nome, abaixo do Hospital de São Lázaro, segundo Marçal, 1968. Esta fonte foi designada por J. Bahia Júnior, 1909, como Fonte do Regato, “colocada antigamente à esquina dessa rua e da rua de S. Lazaro, ao lado do Recolhimento das Órfãs”. Note-se que a Rua das Fontainhas se denominou, primitivamente, de Rua do Regato.

A Fonte Exterior ou da Alameda do Cemitério do Prado do Repouso está localizada no Largo Soares dos Reis, à esquerda de quem entra no cemitério pelo portão norte. A fonte deve ter sido inaugurada em simultâneo com o cemitério, ou seja, em 1839. Esta fonte tem uma única bica situada no centro de um medalhão, caindo a sua água numa taça. A água e a taça são usadas pelas floristas que fazem o seu negócio à entrada do cemitério. As vertentes desta fonte são encaminhadas daquela taça para dois tanques semicirculares com três metros de diâmetro existentes no interior do cemitério, junto ao muro. A água destes tanques é usada para rega e limpezas no cemitério. A fonte é abastecida pelo Manancial do Campo Grande. Tendo como base os resultados dos exames bacteriológicos realizados, J. Bahia Júnior considerou a água como sendo de qualidade má.

Figura 4 - Foto Fonte da Alameda no cemitério do Prado do Repouso

Na Praça da Batalha, no passado uma das mais importantes entradas da cidade, no exterior da Muralha Fernandina e junto da Porta de Cimo de Vila (Silva, 2000), existiram dois chafarizes: um, apelidado do Terreiro da Batalha, era conhecido, pelo menos, em 1678[4]. Era um chafariz triangular[5] que foi remodelado no final do século XVIII e início do XIX, e demolido, em 1830, durante a renovação daquele Largo que deu origem à Praça da Batalha. Com esta alteração, foi então construída, em 1831, a Fonte da Batalha (Marçal, 1968). Tanto o Chafariz como a Fonte foram abastecidos pela água do Manancial do Campo Grande. As vertentes deste chafariz seguiam para o Quartel General, mais tarde e até há pouco tempo Comando da Policia de Segurança Pública, para o Recolhimento das Meninas Desamparadas, edifício atualmente ocupado pela Universidade Lusófona, para o Hospital dos Entrevados e para o Convento das Religiosas de Santa Clara. Segundo Velasques, 2001, e atendendo a fotografias, das quais reproduz uma na sua obra, terá existido, sem precisar datas, um fontenário em ferro fundido, semelhante ao instalado na Praça Carlos Alberto. Próximo dos nossos dias, a Praça da Batalha foi, mais uma vez renovada no âmbito dos projetos da Sociedade Porto 2001, cabendo-lhe uma nova “fonte” com recirculação de água. Tendo nascido “torta”, com perdas notáveis de água, a fonte deixou de funcionar em 2001, Depois de reabilitada, ela regressou à sua função em dezembro de 2004.

Figura 5 – Alçado, corte e planta para a arca de água da Fonte
da Batalha, por Luís Inácio de Barros Lima. 
Documento do Arquivo Municipal do Porto  https://goo.gl/2pqAFH

O Chafariz do Largo da Policia, atualmente do Largo Ator Dias[6], estava colocado ao lado do Recolhimento das Meninas Desamparadas, próximo do local onde se situava a Porta do Sol da Muralha Fernandina. O chafariz recebia a água do Manancial do Campo Grande em cano de chumbo (J. Bahia Júnior, 1909). Os resultados dos exames microbiológicos apresentados na obra deste autor, mostraram que a água tinha qualidade sofrível.

Figura 6 – O Chafariz do Largo da Polícia, ou do Largo Ator Dias,
como hoje é denominado

A água do Manancial da Póvoa de Cima, ou do Bispo e das Freiras, que alimentava o Chafariz de S. Crispim, reunia-se inicialmente com a água vinda da Arca do Campo da Espinheira que pertencia às religiosas de Santa Clara. Mais tarde, essa reunião passou a fazer-se na Pia da Fonte da Rua Firmeza, donde saíam três canos que alimentavam: um a Fonte da Praça ou Mercado do Bolhão; o segundo, a Fonte do Canavarro, onde servia a bica sul; o terceiro, a Arca do Manancial da Cavaca ou da Duquesa de Bragança que pertencia aos Religiosos Mendicantes da Província de Santo António (Capuchos). O Manancial da Cavaca ou da Duquesa de Bragança[7] fornecia 12 penas de água ao Recolhimento de Nossa Senhora da Esperança das Órfãs, ou de S. Lázaro, à Fonte da Rua de Santo Ildefonso colocada no antigo Largo das Almas, ao Chafariz do Convento de Santo António da Cidade e à fonte e ao lago que se encontram no interior do Jardim de S. Lázaro. Herdou o nome de Cavaca da alcunha que o povo atribuiu à família proprietária do terreno onde se encontrava o manancial. A Câmara Municipal, em 1839, tomou posse da arca, da água e do extinto Convento de Santo António, atribuindo ao manancial o nome da rua próxima da arca, ou seja, Duquesa de Bragança. A Arca, que recebia aquela água, a que vinha dos campos de Leira Longa e Malmerendas na Póvoa de Baixo, e o excesso da água dos mananciais do Bispo e das Freiras vindo da Arca da Rua Firmeza, pertenceu aos Religiosos de Santo António, cujo convento é o atual edifício da Biblioteca Municipal do Porto. O aqueduto partia da Quinta da Cavaca, atravessava os Campos de Malmerendas até chegar à rua das Oliveirinhas, passava pela Rua Direita de Santo Ildefonso, ou 23 de Julho, que incluía o Padrão das Almas, e chegava a uma pia existente na Rua Murta, atual Morgado de Mateus, que dividia a água para o Recolhimento de Nossa Senhora da Esperança das Órfãs, para o Hospital dos Lázaros e Lázaras, da Rua das Fontainhas, e para a Fonte do Jardim de São Lázaro. Esta fonte dava as vertentes ao Recolhimento das Órfãs. Em uma outra nota, J. Bahia Júnior afirma que “a parte da água que ainda crescia desta distribuição, ia juntar-se no encanamento que nesse ponto passava do Manancial do Campo Grande.  Esta junção ainda hoje se faz, mas, em lugar de ser neste ponto, é na esquina da Rua do Visconde de Bóbeda, tendo portanto a canalização uma direcção contraria à antiga”. O sistema composto pela arca e canalizações começou a ser utilizado em 1891. Os exames microbiológicos obtidos em amostras recolhidas nas duas fontes servidas por este manancial demonstraram que a água deste manancial era de má qualidade (J. Bahia Júnior, 1909), imprópria para consumo humano.

Figura 7 – O lago do Jardim de São Lázaro, na atualidade

O Chafariz de S. Crispim, também conhecido por Fonte de S. Jerónimo ou por Fonte do Largo da Póvoa, hoje Praça Rainha Dona Amélia, foi construído pela Câmara Municipal do Porto em 1891. Ele estava situado quase em frente da Capela de S. Crispim e São Cipriano, no alto da rua de S. Jerónimo, denominada, a partir de 1913, como Rua de Santos Pousada. Aquela fonte, que agora se encontra no Jardim do Palácio de Cristal, “tem duas bicas em direcção oposta e a água chega até elas subindo pelo meio do chafariz e lançando-se no fundo de uma pia, aberta na sua espessura” (J. Bahia Júnior, 1909). Os exames bacteriológicos registados por J. Bahia Júnior mostraram que a água era de má qualidade, estando, por isso, condenada como bebida.

 
Figura 8 – Chafariz de São Crispim ou do Largo da Póvoa, presentemente no Jardim do Palácio de Cristal

A Fonte da Rua Firmeza resultou da reedificação da Fonte da Praça da Trindade, lado poente, desmontada em 1853 (J. Bahia Júnior, 1909). Ela estava situada á esquina da Rua Firmeza e a Rua D. João IV, primitivamente  Rua Duquesa de Bragança e depois Rua Heróis de Chaves, era abastecido pela água do Manancial da Cavaca ou Duquesa de Bragança.  De acordo com J. Bahia Júnior, 1909, eranas costas desta fonte que havia uma espécie de cano de esgoto onde se reuniam varias águas imundas e que correspondia precisamente ao óculo da abóbada da mina do Manancial da Cavaca donde caíam grossas gotas sobre a caleira e onde as infiltrações eram abundantes”. Apesar disso, a água desta fonte foi considerada por J. Bahia Júnior de qualidade bacteriológica sofrível. Na década de 1950, durante a construção da Escola Soares do Reis, hoje Escola de Turismo do Porto, esta fonte foi transferida para a Praça Dr. Teotónio Pereira, mais conhecida como Praça das Flores.

Figura 9 - Esquina da rua Firmeza com a rua D. João IV, local onde existiu a Fonte da Rua Firmeza

 
Figura 10 - A Fonte da Rua Firmeza (J. Bahia Júnior, 1909, pág. 39)

O nome de Bolhão deriva do copioso bolhão de água que brotava num fundo pantanoso, onde mais tarde se construiu o edifício da Fábrica da Fundição de Metais do Damásio, ou seja, a nascente da entrada da atual Rua do Bolhão. O Mercado do Bolhão começou a ser construído em 1837, mas só em 1851 começaram a ser construídas as suas primeiras barracas. Rodeada por duas rampas que davam acesso à Rua Fernandes Tomás (Marçal, 1968), foi instalada a fonte e o respetivo tanque onde os animais bebiam e as peixeiras lavavam as suas mal cheirosas canastras e oleados (Silva, 2000). Desta fonte há notícias no ano de 1793.

Figura 11 – O tanque do Bolhão, segundo um original de Alberto Ferreira reproduzido em https://goo.gl/xnteIS

J. Bahia Júnior, 1909, refere que a Fonte do Bolhão “tem também a sua nascente própria que, juntamente com esta fonte, fornece alguns consortes. A sua nascente não é visitável e está situada na rua da Duquesa de Bragança, nas traseiras do prédio n.º 160, cujo poço lhe corresponde. Segue deste ponto a sua canalização em grés atravessando a rua em direcção a poente até á Rua do Malmerendas e descendo esta até ao encontro da Rua de Fernandes Tomás, seguindo-a, pelo lado norte, até à pia divisória colocada ao lado da Capela das Almas, em que se vê um óculo fechado com tampa do ferro. Não foi fotografada esta pia por falta de luz e por haver aí dentro um grande extravasamento de gás de iluminação e temermos algum desastre se quiséssemos fotografar à luz do magnésio. Descendo esse óculo, vemos imediatamente por baixo dele uma pia rectangular de 1 metro proximamente por lado e 0,80 m de profundidade, recebendo de um lado o cano de grés aferente e partindo do lado oposto o cano eferente que lança a água em uma segunda pia de pequenas dimensões, seguindo depois em cano de chumbo até á fonte. A pia está completamente desprotegida, podendo cair dentro dela a água que em ocasião de chuvas possa passar entre a porta de ferro e as pedras em que esta assenta. Da Fonte do Bolhão que era alimentada por quatro bicas, restam hoje apenas duas em actividade e metade do seu tanque acha-se também destruído em consequência das projectadas obras a fazer neste local”. Em setembro de 1864, Gavand, no seu estudo sobre a qualidade das águas do Porto, verificou que a água desta fonte era macia, com uma dureza total de 31 mg/L CaCO3. Sob o ponto de vista bacteriológico, J. Bahia Júnior considerou a qualidade da água como má, devido, sobretudo, à sua conspurcação na pia existente ao lado da Capela das Almas. Refere ainda que a qualidade daquela água piorou a partir de 1899.

A Fonte do Largo do Padrão, do Senhor do Padrão das Almas, do Padrão, do Poço das Patas ou de Santo Ildefonso, localizava-se no Largo do Padrão, na esquina das ruas de Santo Ildefonso (antiga 23 de Julho) e a antiga Rua do Meio, atual Coelho Neto. Esta fonte, que apenas tinha uma bica, era abastecida pela água do Manancial da Cavaca ou Póvoa de Cima (Velásquez). Desconhece-se a data da sua construção, sabendo-se que foi reconstruída em 1891, tendo sido reinaugurada com ruas iluminadas e com uma festa na qual atuou a banda de música de Matosinhos (Marçal, 1968). Para Silva, 2000, “foi muito utilíssima não só para os moradores do sítio mas até para os próprios animais que por ali passavam em abundância especialmente de manhã na vinda para os trabalhos da cidade e ao anoitecer, no regresso ao campo”. Em 1909, devido a seca prolongada, o manancial secou e a fonte passou a ser abastecida com água da companhia. Como noutros casos, esta fonte tinha duas bicas, uma para a população em geral e a outra para os aguadeiros. Enquanto servida pela mina da Cavaca, a água desta fonte era bacteriologicamente muito má (J. Bahia Júnior, 1909).

Figura 12 - Fonte do Largo do Padrão (J. Bahia Júnior, 1909, pág. 47)

O Chafariz do Convento de Santo António da Cidade localiza-se no Claustro daquele antigo Convento, ocupado, desde 1842, pela Biblioteca Pública Municipal. Naquele espaço funcionou, entre 1710 e 1789, o Hospício Franciscano. O convento, pertença dos frades menores reformados de São Francisco,  começou a ser construído em 1783 e, em 1832, data em que os frades o abandonaram como consequência da decisão do Governo Liberal de extinguir os Conventos, ainda não estava completo. O Chafariz ostenta a data de 1789, ou 1831 segundo uma ficha do IHRU (Instituto Da Habitação e da Reabilitação Urbana[8].O chafariz tem um tanque quadrangular com semicírculos nas quatro faces que recebe a água de uma taça com forma equivalente à do tanque.

Figura 13 – O Chafariz do Convento de Santo António da Cidade, atual edifício da Biblioteca Municipal do Porto

 A Fonte do Jardim de S. Lázaro, possivelmente um lavatório onde os sacerdotes lavavam as mãos antes e depois dos atos litúrgicos (Silva, 2000), está esculpida em mármore branco e com tons rosados, com duas bicas que abrem para uma taça semicircular apoiada numa coluna central em forma de pêra. Na parte superior uma prateleira trabalhada de folhas suporta um vaso de flores. A pia está encostada e enquadrada por um suporte de mármore em que dois pilares se encimam por volutas que apoiam o frontão semicircular envolvido numa grinalda e tendo ao centro uma concha. A parede de granito onde o conjunto se encosta é encimada por dois pináculos e tem ao centro uma outra concha. Esta fonte pertenceu à sacristia do extinto Convento dos Religiosos Dominicos, cuja Igreja foi demolida para ampliar a rua Ferreira Borges (J. Bahia Júnior, 1909), tendo sido transferida, em 1838, para o Jardim de S. Lázaro. Sobre esta fonte há que fazer um sério aviso: ela está-se degradando intensamente porque o seu calcário está sendo atacado pela chuva acidificada pelo dióxido de carbono libertado pelos escapes de automóveis, camionetas e autocarros que passam permanentemente a seu lado. O mais aconselhável será revesti-la por uma película transparente.

Figura 14 - A Fonte do Jardim de S. Lázaro nos nossos dias

Figura 15 – Pormenor da Fonte de São Lázaro onde se reconhece o
desgaste provocado pela chuva ácida

A Fonte do Canavarro, ou Segunda Fonte de Santa Catarina foi reconstruída por volta de 1810, desconhecendo-se a data da sua construção. Encontrava-se à direita de quem sobe a rua de Santa Catarina, logo acima da esquina da rua Firmeza, no local que foi conhecido por Padrão das Almas de Santa Catarina (Marçal, 1968). Tomou o nome do proprietário da quinta que lhe era fronteira, Filipe de Souza Canavarro[9].  A fonte tinha um grande tanque e três bicas, embora apenas funcionassem duas. Uma delas era alimentada pelos Mananciais do Bispo e das Freiras; a outra, por uma mina sita no alto da mesma Rua de Santa Catarina. Desta mina era também abastecida a Fonte Seca, situada também na Rua de Santa Catarina, próxima da travessa do mesmo nome, que já estava seca em 1909 (J. Bahia Júnior, 1909). Bacteriologicamente, a água da Fonte do Canavarro era bastante má.

 
Figura 16 – A Fonte do Canavarro, situada no lado nascente da Rua de Santa Catarina (J. Bahia Júnior, 1909)












[1]Vereaçoens – anos de 1401-1449”. Documentos e Memórias para a História do Porto – XL Gabinete de História da Cidade. Câmara Municipal do Porto. 1980. p. 168.
[2] O Tripeiro, Série VI, Ano XII
[3] Sousa Reis, H. D., 1984, Apontamentos para a verdadeira história antiga e moderna da cidade do Porto, I Volume, manuscritos inéditos da Biblioteca Municipal do Porto – 2ª Série, Porto.
[4] Gomes Leite, 1836.
[5] Ferreira Alves, Joaquim Jaime B. 1988. O Porto na época dos Almadas – Arquitetura, Obras públicas (período 1757-1804). (Volumes I e II) Dissertação de doutoramento em História de Arte apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
[6] O actor António Dias Guilhermino, mais conhecido por Actor Dias, nasceu em Maiorca, Figueira da Foz, em 1837, em 1840. Actuou em todo o país, sobretudo em Lisboa e Porto, e trabalhou em vários teatros do Brasil. Por ser seu admirador, Camilo Castelo Branco adaptou para o actor a comedia francesa “O Assassínio de Macário” onde Dias interpretava o papel de “Velho”. Morreu, em 1893, fulminado por uma congestão cerebral quando representava a comedia “Solar de Barrigas” no Teatro Príncipe Real, do Porto. Fontes: Blog “Álbum Figueirense” de 26/10/2004  (https://goo.gl/rZGWnn) e Ilustração Portuguesa N.º 877 de 9/12/1922, pág 19 (https://goo.gl/mAhOjH), consultados em 1/1/2017. No sítio “Toponímia do Porto” (https://goo.gl/PDgUel), consultado na mesma data, afirma-se que o actor Dias nasceu no Porto.
[7] A descrição deste manancial condensa descrições de J. Bahia Júnior, 1909, Gomes Leite, 1836 e Sousa Reis, 1984.
[8] https://goo.gl/hU3h61, consultado em 24/12/2016.
[9] Filipe de Sousa Canavarro, tenente-general, Governador de Armas do Partido do Porto, exercendo este cargo até 24 de Agosto de 1820, altura em que se aclamou a Constituição Politica.

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