3ª Parte - Os parques
Nas últimas décadas algumas cidades cresceram
desmesuradamente reduzindo a qualidade de vida do cidadão. No nosso país, as
urbes próximas da costa atlântica atraíram as populações dos campos e do
interior, transformando-se em monstros de betão armado com as suas ruas
preenchidas por todos os tipos de veículos motorizados que lançam para a
atmosfera os sues infames gases. Nos países mais desenvolvidos e mais cultos
cedo se percebeu a necessidade de reservar espaços com o seu ambiente natural
preservado, garantindo um refúgio natural para o “relaxamento físico e
emocional, o convívio social” e a possibilidade de permitir a “aprendizagem de
valores ecológicos, biológicos e paisagísticos, tão relevantes para a vida em
meio urbano”.
A expansão da atividade industrial no Porto
deu-se na segunda metade do século IXX, atraindo muita gente de outras terras.
Entre 1864, ano em que se iniciaram os recenseamentos gerais da população, o
número de habitantes da cidade, com a área administrativa atual, aumentou de
89.349 para 167.955 em 1900, crescendo até 303.424 em 1960. Como a construção
de habitações dignas não acompanhou o crescimento populacional e como as
condições de vida dos operários e suas famílias roçava a miséria, os impiedosos
especuladores desenvolveram as “ilhas” que garantiam a criação de riqueza a
partir da pobreza. Para além do trabalho, para uma boa parte da população pouco
mais restava do que o sonho de uma vida melhor. Os movimentos sociais que
surgiram ao longo do séc. XIX nos países então mais desenvolvidos apelavam à
criação de meios que garantissem aos operários, camponeses e aos pobres em
geral, melhores condições de vida, onde se incluíam, entre outras, a criação de
áreas verdes. No Porto, as alamedas e jardins surgiram antes do século XX, mas
destinavam-se sobretudo às classes mais abastadas. A vontade de construir
Parques na cidade do Porto apenas surgiu na segunda década do século XX quando a
CMP admitiu a construção de um parque urbano para o qual reservou uma área de
terreno em Aldoar. Todavia, o primeiro parque a ser aberto ao público foi o de
São Roque, em 1979. Felizmente, que a atitude dos tripeiros e o empenhamento
dos órgãos autárquicos fez com que o número de parques tenha aumentado nos
últimos quarenta anos para gáudio dos portuenses.
PARQUE URBANO DA CIDADE
A primeira planta de demarcação do Parque da
Cidade foi apresentada, em 1928, à Câmara Municipal do Porto pelo vereador Dr.
Sousa Rosa. Quatro anos mais tarde, Ezequiel de Campos
mostrou no Plano da Cidade do Porto de 1932 a necessidade de dotar a cidade de
um parque urbano para todos os habitantes da cidade. Em 1945, a Comissão de
Estudo da Valorização Turística da Foz do Douro não acreditava que a construção
do parque fosse possível, embora considerasse como essencial para o
enriquecimento cultural das gentes do Porto. O Plano Diretor da Cidade de 1961
localizou o parque e para ele reservou a área de cerca de 80 hectares de
terreno em Aldoar, ocupado por lameiros, campos de semeadura, um choupal,
pinhal, uma lixeira e um núcleo rural em ruína. Paulo Valada, presidente da CMP
considerou como prioridade da Câmara a concretização do Parque Urbano da
Cidade, tendo sido nomeado, em 1985, o Vereador Carlos Brito como responsável
pela condução política do processo do parque, criando para o efeito um Gabinete
Técnico que foi instalado em 1988. No ano seguinte, durante o mandato como
Presidente da Câmara de Fernando Gomes, foi a condução política do processo
entregue ao Vereador Orlando Gaspar que indigitou, para a direção do Gabinete
do Parque, Francisco Sendas, acontecendo a sua nomeação em 1990.
O Plano Diretor Municipal (1991) apostou fortemente na criação de grandes parques urbanos, tendo-se iniciado pelo Parque Urbano da Cidade (Ocidental) que começou por ocupar, numa primeira fase que terminou em 1993, a área de 45 hectares. Na segunda fase foram requalificados mais 45 hectares, perfazendo os noventa previstos. Na última requalificação o parque foi estendido até ao mar, conferindo-lhe a continuidade que a beleza do parque exigia. Mais conhecido como Parque da Cidade, ele é o maior "pulmão" verde do Porto e o maior parque urbano do país. Projetado pelo arquiteto Sidónio Pardal e inaugurado em 1993, o parque acompanha a parte final da Avenida da Boavista, lado norte, e estende-se até ao Atlântico, a sua frente marítima. Concluído em 2002, no Parque da Cidade encontra uma paisagem rural e campestre, com lagos e cerca de dez quilómetros de bons caminhos que apelam a longas caminhadas. Os bandos de aves deliciam as crianças e movimentam os fotógrafos amadores ansiosos por captar uma cena digna de registo. Os equipamentos desportivos completam um fabuloso espaço onde é fácil criar uma “mente sã em corpo são”. O Parque da Cidade é reconhecido pelo programa Green Flag Award como estando entre os melhores parques e espaços verdes do mundo.
Parte deste parque é ocupada pelo
Pavilhão da Água que esteve presente na Expo’98 e depois oferecida pela então Unicer
à CMP que o instalou no Parque da Cidade, junto à Estrada da Circunvalação,
tendo sido aberto ao público em dezembro de 2002. O Pavilhão procura, através
de lúdicas experiências revelar a importância que a água representa para a
Humanidade e para a vida de todos os seres vivos, e divulgar a invulgaridade
das suas propriedades físico-químicas. A sua relação com a sociedade não se
manifesta apenas pelas visitas, mas também com divulgação através da internet
ou de sessões presenciais na escola ou onde for necessário.
PARQUE ORIENTAL
O Parque Oriental foi definido no Plano
Geral de Urbanização de 1987. Em 1993, a CMP lançou, no âmbito do plano de
requalificação e renovação urbanística e ambiental do Porto Oriental, um
concurso de ideias para o então Parque Oriental, Freixo e Complexo
Lúdico-Tecnológico. Está implantado numa área da freguesia de Campanhã por onde
passam os rios Tinto e Torto, ocupando terrenos agrícolas e arborizados com, no
final do projeto, cerca de 80 a 100 hectares. Este parque toca antigas e
importantes quintas como a da Revolta e de Vilar d’Allen. Inaugurado em 2010, o parque desenvolve-se ao longo
da margem esquerda do Rio Tinto. Desenhado pelo arquiteto Sidónio Pardal, o
parque contempla uma grande área com relvados, áreas arborizadas e caminhos que
garantem que a visita ao parque dê a possibilidade de praticar desporto e
lazer. Uma particularidade deste parque reside na harmonização dos espaços
verdes com o granito, rocha predominante e característica da cidade do Porto,
particularmente nos seus tradicionais edifícios e pavimentos de ruas. A visita
a este parque é compensadora. O seu sossego e a sua beleza libertam o
visitante.
Partindo da estação da Levada do Metro do Porto
pode-se chegar ao Parque Oriental seguindo, para sul, o passadiço do Rio Tinto.
PARQUE DE SÃO ROQUE
O Parque de S. Roque ou Quinta da Lameira resultou da aquisição pela CMP, em 1979, de parte da Quinta da Belavista que pertencia à família Calém. O Parque de São Roque tem, para além da casa apalaçada e terrenos envolventes, incluindo os formosos jardins, uma bem cuidada mata com sebes labirínticas, repuxos, lago, mesas e bancos de granito, uma capela para ali transferida vinda do Largo Ator Dias, etc. A Quinta de São Roque da Lameira, separada da Quinta da Bela Vista, tem entradas pela rua de S. Roque da Lameira, a sul, e pala Travessa das Antas, a norte. Dela foi separada uma parcela onde se construiu, em 1759, a Casa Ramos Pinto, hoje de São Roque, bela mansão com pavilhão de caça remodelada e ampliada, entre 1900 e 1912, pelo arquiteto Marques da Silva com o apoio, para o desenho do jardim de inverno da casa, de Jacinto de Matos, com merecida fama nos projetos de jardins. A Casa de São Roque pertenceu, no séc. XIX, à família de Maria Virgínia de Castro que, em 1885, sobrinha e herdeira da proprietária da quinta Delfina Hermínia Coelho Louzada, se casou com António Ramos Pinto, importante produtor de vinho do Porto.
Em 1978, a CMP adquiriu-a a António Eugénio de
Castro Ramos Pinto Calém, neto de Maria Virgínia e António Ramos Pinto. No ano
seguinte, o Parque de São Roque foi inaugurado e aberto ao público. O Parque,
que está aberto ao público desde 1979, e tem excelentes condições para a
prática de desporto ao ar livre e lazer, para não falar das belas vistas que se
alcançam da parte mais alta da quinta. É,
sem dúvida, um dos parques mais interessantes do Porto. Ocupa uma área de
quatro hectares e meio e está muito bem equipado para receber os visitantes
mais exigentes. Tem, desde 2002, um Centro de Educação Ambiental, boas casas de
banho, bastantes bebedouros, parque infantil, três fontes e um lago com jatos
de água, bancos e mesas de pedra que apoiam bons piqueniques. O seu esplêndido
jardim, desenvolvido com o benefício das mãos do conhecido Jacinto de Matos,
tem uma notável flora onde se destacam uma boa coleção de idosos eucaliptos, o
labirinto de Buxus sempervirens, e as
cerca de duzentas camélias.
PARQUE DA FUNDAÇÃO DE SERRALVES
O Parque de Serralves ocupou o espaço que foi da
Quinta de Lordelo, na Rua de Serralves, com a sua casa burguesa e jardim
romântico. A propriedade passou a pertencer, no final do séc. XIX, a Diogo José
Cabral, empresário têxtil no Vale do Ave, que deu início a um conjunto de
alterações no sentido de a adaptar aos seus gostos. A renovação da quinta foi
continuada por seu filho, Diogo José Cabral Jr., 1.º Conde de Vizela, a
partir de 1900. Em 1923, o comando da quinta e das unidades industriais passou
para as mãos de Carlos Alberto Cabral, 2.º Conde de Vizela, que aumentou a área
da propriedade para os atuais 18 hectares, por aquisição de terrenos adjacentes
e integrando, por permuta, a Quinta do Mata-Sete, propriedade da família
herdada pelo seu irmão. Foi então mudado o nome da propriedade para Quinta de
Serralves.
Homem culto com visão modernista, Carlos Cabral
convida os arquitetos José Marques da Silva e Jacques Gréber para desenvolver
os projetos para a Casa e o Parque, tendo o cuidado de neles ser integrada a
estrutura dos jardins preexistentes. Tendo sido concluído, em 1932, o desenho
dos jardins, a totalidade das obras do Parque terminou em 1940. Em 1953, Carlos
Cabral vê-se obrigado a vender a sua joia, o que fez a favor de Delfim
Ferreira, Conde de Riba d’Ave, também grande industrial em várias áreas,
incluindo a têxtil, que conservou, com os seus herdeiros, o património até à
sua aquisição, em 1986, pelo Estado Português, com o intuito de aí instalar um
espaço de lazer, de cultura e de manifestações artísticas. A primeira
iniciativa foi concluída com a abertura ao público, em 1987, do Parque de
Serralves.
Em junho de 1989, foi instituída a Fundação de
Serralves, constituída pelo Estado, empresas e particulares, cujos estatutos
estabelecem a “promoção de atividades culturais no domínio de todas as artes”. O
Plano Diretor Municipal do Porto de 1990 considerou o Parque de Serralves como
zona de proteção paisagística, urbanística e arquitetónica, que levou a
desenvolver os princípios orientadores das ações de recuperação e as regras de
gestão e manutenção do património para abertura do espaço ao público. Da revalorização do Parque destacam-se a
construção do Museu do Centro de Arte Contemporânea, projetado por Siza Vieira
e inaugurado em 1996, e a instalação do Jardim das Aromáticas. Foram
conservados e beneficiados os Jardins da Casa, a Alameda dos Liquidâmbares, os
Parterres Central e Lateral, o Roseiral, o Jardim do Relógio e o das Camélias,
e os bosques: Arboreto, Bosque das Faias e Bosque do Lago. A conservação da
mata e dos campos de semeadura, particularmente o campo de Mata-Sete, permitiu
a associação da prática agrícola à criação de alguns animais domésticos
autóctones como o burro de Miranda e os bovinos das raças Arouquesa, Barrosã e
Marinhoa. Esta atividade tem como objetivos essências o desenvolvimento de ações
didáticas e pedagógicas. Há poucos anos, foi construído o “Treetop Walk”, um
passadiço de madeira instalado junto à copa das árvores que permite observar o
parque numa perspetiva diferente.
O
Parque de Serralves alberga um museu de arte contemporânea e a Fundação de
Serralves, perto da entrada do parque. O museu expõe obras vanguardistas de
artistas modernos com as instalações a mudar constantemente. Não tem exposição
permanente.
PARQUE MUNICIPAL DAS VIRTUDES
O Horto das Virtudes, herdeiro da Quinta das Virtudes, foi construída na
segunda metade do séc. XVIII. Era seu proprietário José Pinto de Meireles que,
no séc. XIX, a vendeu a Pedro Marques Rodrigues que transformou a quinta para a
produção de produtos hortícolas e plantas ornamentais para jardins. Em 1844,
Pedro Rodrigues contrata José Marques Loureiro que rapidamente se transformou
num excelente horticultor e rapidamente promovido a gestor do Horto,
transformando-o num “centro difusor do conhecimento botânico e da
horticultura ornamental”. O auge deste horto foi
atingido em 1865 quando foi nomeado como fornecedor da Casa de Sua Majesta a
Rainha D. Maria Pia. Em 1890, Marques Loureiro funde o Horto das Virtudes com o
estabelecimento de Jeronymo Monteiro da Costa, registando a nova sociedade com
o nome de Real Companhia Hortícola-Agrícola Portuense.
O atual Parque Municipal das Virtudes fica nos terrenos da antiga Companhia
Hortícola-Agrícola Portuense, desenvolvendo-se em socalcos encosta abaixo, bem
no centro do Porto e a poucos metros da Torre dos Clérigos. Foi comprado em
1965 pela Câmara Municipal do Porto e alvo de obras de recuperação em 1998.
Oferece uma panorâmica única sobre o edifício da Alfândega do Porto, o Rio
Douro e a cidade de Vila Nova de Gaia.
Este parque tem uma disposição única, já que
não é plano, mas sim vertical, ou seja, é composto por socalcos encosta abaixo.
Para quem o visita, é um encanto escondido em plena cidade do Porto e com uma ótima
localização, visto que está muito perto do centro histórico. Com muitas árvores
altas, o seu maior tesouro é uma
árvore – a maior Ginkgo Biloba do país, com cerca de 35 metros de altura.
Considerada uma das maiores árvores da Europa, em janeiro de 2005 foi
classificada como árvore de interesse público pela Direção Geral das Florestas. Existe uma entrada na Rua Azevedo de
Albuquerque e outra atrás do Palácio da Justiça. Com muitos espaços verdes,
este jardim tem várias estátuas modernas e um chafariz.
PARQUE DE NOVA SINTRA ou QUINTA
DO BARÃO DE NOVA SINTRA
A
Quinta das Oliveiras ou Vilar das Oliveiras pertenceu ao Barão de Nova Sintra,
José Joaquim Leite Guimarães, “brasileiro de torna-viagem”, que fundou, em
1863, o “Estabelecimento d’artes e ofícios do Barão de Nova Sintra” que não
teve aceitação na sociedade de então. Não esmoreceu e criou, em 1863, um
estabelecimento para a educação de rapazes. Após a morte do Barão ocorrida em
1870, o estabelecimento passou para a Santa Casa da Misericórdia que ainda o
mantém com o nome de Colégio Barão de Nova Sintra. Entretanto, a quinta foi
adquirida, em 1867, pela família Reid, negociantes ingleses que se
estabeleceram no Porto. A família recuperou a propriedade, mantendo um
palacete, um magnífico jardim e uma mata que ainda hoje resistem. Em 1922, a
família Reid vendeu a propriedade à sociedade de joalheiros Almeida Miranda
& Companhia que, em 1932, foi adquirida pela Câmara Municipal do Porto a fim
de nela alojar os serviços da Companhia das Águas, depois Serviços
Municipalizados de Águas e Saneamento do Porto e atualmente Águas do Porto, E.
M. Com
uma grande diversidade botânica e com um ambiente
calmo e tranquilo, o Parque de Nova Sintra tem um denso
arvoredo, uma mata frondosa e numerosas alamedas e veredas. As antigas fontes e
chafarizes do Porto dos séc. XVII, XVIII e XIX que
foram recolhidas de diversos pontos da cidade entre 1930 e 1960 e
deslocados para este espaço verde na altura da progressiva canalização da água
na cidade, são outro motivo de interesse. “O Universo
(4+3), de 1987, tem a autoria de Irene Vilar. Trata-se de uma escultura em
bronze. Simboliza a totalidade do espaço e a totalidade do tempo. Associando o
número 4, que simboliza a Terra, com os seus 4 pontos cardeais e o número 3,
símbolo do céu, e o número 7, a totalidade do Universo em movimento.”
O palacete da quinta é hoje ocupado pela Águas do Porto e respetivas infraestruturas. Há
poucos anos, o parque ganhou a denominação “Jardins Românticos de Nova Sintra”
e foi integrado no Roteiro Cultural da Cidade do Porto.
PARQUE DA PASTELEIRA
O
Parque Urbano da Pasteleira ocupa
uma parcela arborizada de sete hectares e meio que resistiu à ocupação por
prédios com habitações de luxo da área total dos Pinhais da Foz. Porém, a
própria Câmara Municipal reduziu aquela área quando ali construiu um bairro
residencial. Este parque público está rodeado pelas Ruas de Diogo
Botelho e de Bartolomeu Velho muito próximo do Bairro da Pasteleira. A beleza
do muro que limita aquele espaço de lazer justifica uma visita. O seu arvoredo
distingue-se pela presença de pinheiros-bravos, rododendro, e sobreiros,
fazendo com que seja considerado como a última parcela de vegetação natural do
Porto.
O Parque da Pasteleira nasceu da reconversão,
segundo o projeto da arquiteta Marisa Lavrador, da antiga Mata da Pasteleira,
tendo sido construído entre 2004 e 2009. O parque tem duas parcelas separadas
por uma via rodoviária e ligadas por três passagens superiores, e dispõe de um
Centro de Educação Ambiental. Em 2009 foi criada uma ciclovia com uma extensão
de dois quilómetros ligando o Parque da Pasteleira ao Parque Oriental da
Cidade.
PARQUE DA QUINTA DO COVELO
A Quinta do Covelo, antes do
Lindo Vale ou de Quinta da Bela Vista enquadrada a poente pela rua
Faria Guimarães, a sul pela rua de Bolama, a norte pela Rua do Monte de São
João e a oriente pela Travessa do Monte de São João e Rua de Álvaro de
Castelões, foi fundada, em 1720, pelo capitão geral da cidade Paes de Andrade,
fidalgo da Casa Real. Mais tarde (1829 – 1830), a quinta, com nove hectares,
foi vendida a Manuel José do Covelo que, aproveitando a abundante água que
então nela nascia, a desenvolveu cultivando-a e ajardinando-a, chegando a “produzir
40 pipas de vinho, além de muitos carros de cereal”. A água da nascente
desapareceu devido às construções e escavações que se fizeram à sua volta.
Adquirida por Manuel da Rocha Paranhos, passou a ser conhecida por quinta dos
Paranhos.
Uma boa parte da quinta foi
doada, por Isidro António Pereira Rocha Paranhos, ao Ministério da Saúde para
ali ser construído um hospital dedicado à receção de doentes com tuberculose.
Como o controlo desta doença eliminou a necessidade de construir aquele
hospital, aquele Ministério entregou o terreno doado à Câmara Municipal do
Porto que o transformou num esplendido espaço verde, uma parte na forma de mata
onde se pratica adequado desporto em circuitos de manutenção, e outra para
lazer onde as crianças passam horas inesquecíveis nos equipamentos ali
instalados. Da quinta primitiva apenas restam as ruínas da casa, da capela
dedicada a Santo António, uma fonte, um moinho de vento,
e uma casa de caseiro, ainda habitada, que continuam a pertencer aos últimos herdeiros.
Os recursos hídricos existentes são relevados através de lagos, de tanques
revestidos de azulejos e espelhos de água para fazer a transição entre o
construído e a natureza.
A Quinta do Covelo está
ligada à história de um importante clube da cidade: o Sport Comércio e
Salgueiros. Fundado em 1920, este clube alugou, em 1922, um terreno nesta
quinta onde construiu o seu primeiro campo para futebol, o Campo do Covelo. Ali
se manteve até 1930, mudando-se então para o campo de Augusto Lessa, instalado
num terreno oferecido por Alexandre Vidal Pinheiro, que foi mais tarde homenageado
pelo clube que atribuiu o seu nome aquele Campo.
Por se encontrar à cota mais elevada do Porto,
156 metros, esta quinta foi um importante campo
militar durante o Cerco do Porto (1832 - 1834), tendo sido ocupada, pelos
realistas que ameaçavam as tropas liberais que, por isso atacaram e
conquistaram aquela posição em 16 de setembro de 1832. Pouco tempo depois, as tropas realistas contra-atacaram e
recuperaram o monte. A resposta dos liberais não se fez esperar, e as tropas de
D. Miguel sofreram uma pesada derrota e abandonaram aquele espaço grandemente
destruído. Os liberais apenas reocuparam o Covelo em abril de 1833.
PARQUE CENTRAL DA ASPRELA
O Parque Central da Asprela começou a ser
construído em 2020 e foi concluído e aberto ao público em maio de 2022. O
Parque aproveita os recursos naturais existentes na área ocupada pelo futuro
parque, nomeadamente parte da vegetação e a ribeira da Asprela, tão escondida e
sacrificada nos últimos 50 anos. Ele ocupará uma área aproximada de seis
hectares, o projeto por à vista de todos, para além da Ribeira da Asprela que
ficará parcialmente descoberta, a Ribeira da Manga será desencanada. Para
prevenir alagamentos, o parque terá uma estrutura para contenção de água com a
capacidade para reter cerca de dez mil metros cúbicos de água.
Este parque foi finalmente inaugurado em 20 de
março de 2022. É um belo “pulmão verde” que recebe de braços abertos todos os
que trabalham ou estudam na área de influência do parque. Servido pelas
estações do IPO e do Pólo Universitário do Metro, o Parque da Asprela é um
excelente atrativo para a população da cidade devido à excelência dos seus
acessos.
PARQUE DA ALAMEDA DE
CARTES
OS CEMITÉRIOS DO PORTO
Na identificação das áreas verdes da cidade não
se podem esquecer os cemitérios que, por vezes, são autênticos jardins e museus
públicos onde se revive a história da cidade dos últimos duzentos anos. Este
reconhecimento não choca aqueles que alguma vez visitaram um cemitério com o
objetivo de usufruírem da paz e tranquilidade que ali se sente e enriquecer a
sua cultura com o que se vê e lê. Foram os ingleses que, nos finais do século
XVII, passaram, como medida sanitária, a sepultar os seus mortos em áreas
abertas denominadas inicialmente como campos santos e, mais tarde, cemitérios.
Assim foi no Porto, em que o primeiro cemitério a receber as suas inumações,
desde 1788, foi o Britânico da Igreja de Saint James, com acesso pelo Largo da
Maternidade. Antes desta data, a colónia britânica do Porto
fazia os seus enterramentos na margem esquerda do rio Douro, no lugar do Cais
do Cavaco, muitos deles no areal com a maré baixa.
Segundo Nuno Cruz, existiam, em 1514, campas num terreno
localizado em parte da rampa que liga a Rua Mouzinho da Silveira à Praça de São
Domingos. Essas campas deviam pertencer ao cemitério dos Frades Pregadores.
Terá existido outro local para enterramento dos defuntos de pessoas pobres no
terreno doado, em 1675, à Ordem Terceira de São Francisco, terreno esse ocupado
hoje pela Igreja e a sua Sacristia. Os cemitérios públicos portugueses foram
oficialmente criados em 1835. Até essa data os católicos portuenses importantes
(burguesia e membros da igreja) eram enterrados no chão das igrejas e capelas.
Excetuava-se a Ordem Terceira de São Francisco que possuía um cemitério
catacumbal, hoje visitável, onde se enterravam os irmãos da Ordem falecidos a
partir da segunda metade do século XVIII. Estas catacumbas foram desativadas há
140 anos quando a Ordem Terceira de São Francisco abriu o seu Cemitério Privado
em Agramonte.
O cemitério privado da
Lapa foi construído, provisoriamente, em 1833, pela Irmandade de Nossa Senhora
da Lapa, num pedido dirigido a D. Pedro IV para enterramento dos inúmeros
cadáveres dos soldados mortos durante o Cerco do Porto e das vítimas da
epidemia provocada pelo cholera morbus. A inauguração formal apenas
aconteceu com a sua bênção em 1838. Um ano depois, no 1.º de dezembro, foi
inaugurado o primeiro cemitério público: o do Prado do Repouso, considerado por
Maximina Girão Ribeiro como um museu a céu aberto. Este cemitério foi o
primeiro a ser construído no Porto como consequência da publicação do Decreto
de 21 de setembro de 1835 que ordenava às Câmaras que construíssem cemitérios
para acabar com o costume anti-higiénico de enterrar os mortos nas igrejas. No cemitério do Prado do
Repouso eram sepultados, inicialmente, os mais pobres porque os mais ricos eram
enterrados no cemitério da Lapa, ou cemitérios de outras Ordens e Irmandades
que, entretanto, foram construídos juntos das suas igrejas. O primeiro exemplo
é o cemitério do Bonfim, atualmente propriedade da Irmandade do Santíssimo
Sacramento e do Senhor e Boa Morte, que se situa junto à Igreja de Nosso Senhor
do Bonfim, no alto de Godim. Foi aberto em 1849/50.
Face às deficientes
condições dos cemitérios privados, a CMP procurou impedir a sua utilização, mas
em vão devido a importantes resistências. Uma epidemia de cólera, em 1855,
criou as condições para que aqueles cemitérios fossem encerrados. Para cobrir
as necessidades, a CMP viu-se obrigada a construir, nesse ano, o segundo
cemitério municipal, o de Agramonte. Este cemitério ocupou os terrenos da
quinta que pertenceu, no tempo do Cerco do Porto, à família Correia de Pinho.
Esta quinta integrou o Campo de Agramonte de que era senhoria a Colegiada de S.
Martinho de Cedofeita, aforada, em 1741, ao cidadão inglês Sansão Estart, sendo
o prazo renovado, em 1767, ao Capitão José de Pinho e Sousa e a seu neto
Joaquim Maurício de Sousa, negociantes da praça do Porto.
As Ordens e Irmandades
reabriram mais tarde os seus cemitérios, mas acabaram, algumas delas, por
negociar com a câmara a aquisição de espaços nos cemitérios municipais. Assim
aconteceu com a Ordem Terceira de São Francisco, como atrás se refere, e com a
Misericórdia do Porto, a Ordem do Terço e Caridade e a Confraria do Santíssimo
Sacramento de Santo Ildefonso, que ocuparam terrenos no cemitério do Prado do
Repouso. Apenas os cemitérios privados da Lapa e o do Bonfim se mantiveram porque
possuíam boas condições para o cumprimento da sua função.
Com a expansão da cidade e
o aumento da população surgiu a necessidade de instalar na cidade outros
cemitérios que fossem atraentes para os portuenses, vencendo alguns credos
antigos. Foram assim criados os cemitérios que ocupavam espaços próximos das
igrejas paroquiais e afastados nas áreas habitadas. São exemplos os cemitérios
paroquiais de Nevogilde (1840), o de Ramalde (1862), o de Campanhã (1867), o de
Lordelo do Ouro (1872) e o de Paranhos (1872) e o de Aldoar (1924).