2ª Parte - Os Jardins
Jardins
Em 1890, veio para o Porto o arquiteto
paisagista belga Florent Claes para orientar a construção de um parque anexo à
moradia do brasileiro Braguinha, sita na rua do Heroísmo, que acabou por ser
destruído pelas ampliações da Escola de Belas Artes do Porto. A mais antiga
gruta e cascata junto a um lago deve-se a Florent Claes que os desenhou para a
Quinta da Prelada, seguindo-se-lhe o lago e gruta do jardim do Palácio de
Cristal. Desenhados por este arquiteto, em associação com Émile David, foram os
jardins das Casas das famílias Andresen e Burmester no Campo Alegre, das Antas
de Cima, da Quinta Amarela, do Espanhol à Rua Oliveira Monteiro, dos Pestanas
(1878-88) à rua Gonçalo Cristóvão e outras em diversas ruas como a da
Restauração, da Torrinha, etc..
A criação de jardins inseriu-se numa política do
município de ajardinamento de espaços públicos, desenhando-os com um ambiente
de carácter romântico. Nascem, assim, os jardins de São Lázaro, do Carregal, do
Passeio Alegre, o de Arca d’Água ou Praça Nove de Abril, transformado em jardim
em 1928, o do Largo ou Alameda da Aguardente (Marquês de Pombal), o da Rotunda
da Boavista e o da Praça da República, aberta ao público em outubro de 1914, e
onde se inaugurou, em 6 de fevereiro de 1918, a escultura Baco de Teixeira
Lopes. No Jardim
de Arca d’Água pode encontrar um
lago com peixes, uma gruta artificial, plátanos de grande porte e uma escultura
de Charters de Almeida, inaugurada em 1972, com o nome de ‘A Família’.
Jardim de São Lázaro
A construção do Jardim de S. Lázaro, oficialmente Jardim Marques de Oliveira, foi decidida, em 1830, pela Câmara Municipal do Porto. O mais antigo jardim da cidade ocupou, como começou a ser uma tradição, o espaço do Campo da Feira ou de S. Lázaro onde abundavam frondosos carvalhos e castanheiros. Foi desenhado segundo um plano de Baptista Ribeiro feito em 1833, e plantado por João José Gomes, primeiro jardineiro municipal da Câmara Municipal. Apesar de inaugurado em 1834, o jardim, na forma mais simples, apenas foi concluído em 1841. A sua arborização apenas se realizou a partir de 1857. Ao contrário dos outros que vieram a ser construídos mais tarde, era, e ainda é, cercado por uma grade de ferro que é fechada no período noturno. Este jardim sofreu remodelações pela mão de Émile David, o arquiteto paisagista alemão que foi convidado pelo Visconde de Vilar d’Allen para desenhar e orientar a execução de passeios públicos para a cidade, designadamente o do Palácio de Cristal e o da Cordoaria. Fica próximo da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e da Biblioteca Pública Municipal do Porto.
A massa de água que ocupa o centro do jardim é
rodeada por doze magnólias que ampliam, com as suas sombras, a frescura que é
conferida ao jardim pelo pequeno lago. O coreto, que terá animado o jardim em
festas e nas tardes de domingo, aguarda que o gosto pela música e a ação da
Câmara lhe restaure a vida. Não é situação única, acontecendo o mesmo em outros
jardins públicos. Duas esculturas, uma de Soares dos Reis e outra de Barata
Feio, prestam homenagem, respetivamente, aos pintores Marques de Oliveira e
Silva Porto.
Jardim do Carregal
O Jardim do Carregal ou de Carrilho Videira ocupou uma boa parte daquela que foi a Praça do Duque de Beja e terrenos para o efeito oferecidos pela Santa Casa da Misericórdia à CMP, e foi construído em 1897. O termo carregal deriva de carrega, que é uma planta que abunda nos terrenos pantanosos. Aquela zona era, em tempos idos, atravessada pelo rio Frio, e os terrenos eram campos de lavradio pertencentes ao Hospital de Santo António. Existiu uma nascente cuja água foi canalizada para a Fonte do Paço, em 1850, esta fonte permanecia na Rua do Paço, mas a água era de má qualidade. Uma outra nascente no Carregal abastecia a Fonte dos Fogueteiros[1].
O jardim
situa-se a norte do Hospital de Santo António, entre as ruas Dr. Tiago de
Almeida e a de Clemente Menéres. O seu desenho é da autoria de Jerónimo
Monteiro da Costa, então diretor dos jardins municipais. A área ajardinada é
envolvida por um lago com recorte irregular, atravessado por uma pequena ponte.
Dos canteiros elevam-se enormes exemplares de coníferas, cedros e sequoias que
oferecem, no verão, a sombra e a frescura para aqueles que descansam nos seus
bancos. Num dos canteiros foi colocada uma estátua da autoria do escultor Hélder de
Carvalho, de Abel Salazar, Professor e Investigador da Faculdade de
Medicina da Universidade do Porto, afastado da docência, em 1935, pelo regime
de Salazar.
Jardim do Largo da Maternidade Júlio Dinis
O Largo da Maternidade Júlio Dinis, antigo Largo do Campo Pequeno, tem um pequeno Jardim dominado por um chafariz construído entre 1825 e 1828, abastecido com água do manancial de Paranhos. As vertentes desta fonte eram recebidas pela Casa da Torre da Marca, que adiante se descreve. Aquele chafariz foi demolido, em 1894, e levantado outro mais elegante e com maior dignidade, fazendo jus à Capela e Cemitério dos Ingleses que se encontram a poente do chafariz. Por ação do Professor Doutor Alfredo Magalhães, foi inaugurado neste Largo, o edifício da Maternidade Júlio Dinis, onde nasceram muitos dos atuais tripeiros. O jardim, muito elementar, tem um arvoredo que inclui a Tília-argêntea, a Amargoseira, Agreira e Acer-negundo que produz a sombra para aqueles que ali esperam pela boa nova.
Jardins do Palácio de Cristal
A primeira Exposição
Agrícola do Porto realizou-se, em 1857, nos campos da Torre da Marca e em parte da vizinha Quinta do Sacramento num “abarracamento” para o efeito construído. A
exposição foi organizada pela Sociedade Agrícola do Distrito do Porto, formada
em 1854, impulsionada por Alfredo d’Allen, Visconde de Vilar d’Allen. Ela, e a
que se seguiu dois anos depois, tinham como objetivo contribuir para a melhoria
da agricultura portuguesa. O reconhecido sucesso daquela exposição levou
o visconde de Vilar d’Allen e o professor da Escola Médico-Cirúrgica do Porto,
António Ferreira Braga a impulsionarem a formação de uma sociedade que
assumisse a responsabilidade de construir um edifício com a necessária
dignidade para a concretização de eventos que, pela sua importância, levassem
bem longe o bom nome da cidade do Porto. Em
1861 foi publicado o projeto dos Estatutos da Sociedade Palácio Agrícola,
industrial e artístico, cujo fim era construir um palácio destinado a
exposições feiras e espetáculos. Começou, a sociedade, por adquirir terrenos
onde se construíssem um parque, jardins e gaiolas para aves e animais
domésticos. Em 30 de agosto de 1861 formalizou-se no Palácio da Bolsa a criação
da sociedade Palácio de Cristal, tendo sido eleitos para a sua direção Alfredo
Allen, Francisco de Oliveira e Francisco Pinto Bessa. Dias depois, a 3 de
setembro, foi lançada a primeira pedra do Palácio de Cristal, sob a presidência
de D. Pedro V. Todavia, a obra só se iniciou quase um ano depois[2],
nascendo, assim, o Palácio de Cristal, inaugurado em 1865 com a presença do Rei
D. Luís e a família real. O Palácio de Cristal, imponente edifício de ferro e
vidro, foi projetado pelo arquiteto Thomas Dillens Jones, contratado
propositadamente para esse fim, e o arranjo do espaço exterior foi entregue a
Emílio David[3].
Envolvendo o Palácio de Cristal desenvolveram-se
os magníficos jardins que chegaram, com alterações, aos nossos dias. Foram
concluídos, em 1865, quando da inauguração do Palácio de Cristal e abertura da
Exposição Internacional Portuguesa. Émile David aplicou no desenho dos jardins
algumas regras em voga na Europa da altura como a inclusão, a nascente, de
estufas, a poente, de uma alameda, a Avenida das Tílias, onde existe ou existiu
a Fonte dos Cavalinhos, um palco-coreto com concha acústica, onde se realizavam
espetáculos durante o verão, um “Chalet” com uma varanda com vistas para o rio
Douro, uma confeitaria e, anos mais tarde, ali se instalou o Real Velo Club, um
dos primeiros clubes desportivos do Porto, associado especialmente ao ciclismo
e natação, que terá servido de embrião à fundação do, então, Foot Ball Club do
Porto. Os jardins contemplavam também um bosque com veredas que levam o
visitante a lugares pitorescos, e varandas sobre o rio Douro.
Os jardins foram enriquecidos, em 1881, com o
lago e a gruta, sob projeto do engenheiro belga Class. A gruta foi demolida
durante a preparação da Primeira Exposição Colonial Portuguesa que se realizou
em 1934. Na encosta do lado sul do jardim construíram-se algumas gaiolas onde
viviam alguns animais exóticos. É o Jardim Zoológico do Porto que tem resistido
ao passar dos anos, embora com cada vez menos espécies. Ultrapassadas algumas
reservas, as visitas aos jardins do Palácio entraram nos hábitos dos
portuenses, gozando a frescura que o arvoredo garantia e disfrutando dos aromas
libertados pelos seus jardins.
Os Jardins e o seu palácio foram adquiridos, em
1933, pela Comissão Administrativa da Câmara Municipal do Porto, presidida por
José Alfredo Mendes de Magalhães. Neste mesmo ano, a CMP começou a desenvolver
o projeto do Pavilhão dos Desportos que incluía a construção de uma piscina de
33,33 metros com 18 metros de largura. Em 1951, foi o Palácio de Cristal
demolido para ser construído no seu lugar o Pavilhão de Desportos, atual
Pavilhão Rosa Mota, com projeto de José Carlos Monteiro. A obra do pavilhão
tinha um prazo muito curto porque ali se pretendia realizar os Campeonatos
Europeu e Mundial de Hóquei em Patins, a realizar em 1952. Como é habitual nas
obras públicas, a obra não foi concluída, mas o campeonato realizou-se naquele
espaço com a cobertura feita com uma lona, o que deu origem a bastantes
percalços porque a chuva quis assistir a alguns jogos. Durante o período da
construção do pavilhão os atuais jardins do Palácio de Cristal apenas sofreram
ligeiras alterações que deram origem à sua atual configuração.
Em 1991, a CMP tomou a decisão de reabilitar os
seus jardins, construir um parque automóvel subterrâneo e um edifício dedicado
à cultura que inclui a Biblioteca Municipal de Almeida Garrett, uma galeria de
exposições e um auditório com capacidade para 200 pessoas. Estas novas
valências tornaram os jardins do Palácio mais atraentes, onde se incluem os
jardins temáticos como o Roseiral, o dos Sentimentos (2007), um dos mais
bonitos e privilegiado pela magnífica vista sobre o Douro, o das Plantas
Medicinais, o das Plantas Aromáticas, e o das Cidades Geminadas (2009).
Jardim da Praça Mouzinho de Albuquerque
A Praça Mouzinho de Albuquerque, a maior Praça
do Porto, é mais conhecida por Rotunda da Boavista. Construída em 1868, esta
Praça foi, como outras atrás referidas, um Campo de Feiras. É dominada pelo
imponente monumento de homenagem aos Heróis da Guerra Peninsular, da autoria do
escultor Alves de Sousa e do arquiteto Marques da Silva. O monumento homenageia
fundamentalmente a Inglaterra, apoiante de Portugal, representada pelo leão que
prende a águia, símbolo das tropas invasoras de Napoleão Bonaparte, com as suas
patas. O seu jardim, pouco frequentado por estar bem cercado pelo trânsito
automóvel, ganhou alguma visibilidade desde que foi construída a Casa da
Música, emblemática obra do Porto 2001, que muito turista atrai.
Jardim da Praça do Marquês de Pombal
O Jardim da Praça do Marquês de Pombal, até 1882 Largo da Aguardente, assim denominado porque ali se realizava o mercado da aguardente, foi ajardinado com um projeto de Jerónimo Monteiro da Costa, inaugurado em 1898 e remodelado diversas vezes, a última das quais durante a construção, em 2006, da estação de metro do Marquês. De forma notável, a empresa Metro do Porto deve ser aplaudida pelo enorme esforço que fez para manter os velhos plátanos do jardim. Junto ao lado norte encontra-se o coreto de ferro, infelizmente sem música nos últimos tempos. A poucos metros do coreto encara-se com um edifício da autoria de Bernardino Basto Fabião onde, entre 1948 e 2001, funcionou a Biblioteca Popular Pedro Ivo. Vítima do atual desprezo pelos livros, o edifício albergou um café com esplanada que acabou por fechar. Mantém, a meio, duas fontes com reciclagem da sua água. Uma delas, a que melhor impressão causa, foi transferida da Praça D. João I. A praça a que pertence o jardim tem dois edifícios com algum carácter monumental e dignos de uma visita: a igreja Paroquial de Nossa Senhora da Conceição, mais conhecida como Igreja do Marquês, e a casa-atelier do arquitecto José Marques da Silva, hoje sede da Fundação Instituto Marques da Silva.
Jardim de Teófilo Braga
O Jardim de Teófilo Braga, construído em 1915-1916, ocupa a Praça da República, antes de Santo Ovídio. É um jardim muito simples, com espaço relvado com arvoredo e alguns canteiros floridos, mais usado como meio de passagem e menos para descanso ou contemplação. O antigo Campo de Santo Ovídio, que deveu o seu nome a uma capela dedicada a São Bento e Santo Ovídio que existiu junto à estrada que seguia para Braga. O Campo, que serviu durante muitos anos para desfiles e manobras militares do Quartel de Santo Ovídio, passou a chamar-se da Regeneração após a insurreição militar de 1851 que levou à queda de Costa Cabral, e, após a implantação da República em 1910, adotou o nome atual de Praça da República. Desta Praça saíram, em 1820, os revoltosos liberais, e, em 31 de janeiro de 1891, os militares que se revoltaram contra a humilhante cedência do Governo e da Coroa ao ultimato inglês de 1890, e chegaram a proclamar a República em frente ao edifício da Câmara Municipal. Ironicamente, os revoltosos foram parados na Praça da Batalha por uma força da Guarda Municipal posicionada na escadaria da igreja de Santo Ildefonso. O jardim esta enriquecido com algumas obras de arte, nomeadamente o Busto de Baco (1916), a figura do Padre Américo (1959) e uma estátua evocativa da República (2010), dos escultores, respetivamente, António Teixeira Lopes, Henrique Moreira, e Bruno Marques.
Jardim do Campo 24 de
agosto
O Jardim do Campo 24 de Agosto foi construído, entre 1912 e 1914, no local que teve a designação de Mijavelhas e antes Campo do Poço das Patas, no lado da Rua do Bonfim, e no Campo Grande que acabava na Rua de Montebelo, atual Avenida de Fernão de Magalhães. No terreno onde está o jardim existiu a arca de Mijavelhas exposta na estação do metropolitano do Campo 24 de Agosto, que alimentou algumas fontes da cidade. Também ali esteve, em tempos distantes, a Forca do Concelho na qual eram enforcados os condenados por roubo. Esta forca foi desmontada em 1714, ficando operacional apenas a nova Forca da Ribeira. A construção do metropolitano introduziu-lhe pequenas alterações, mas mantém a sua forma original de um triângulo com vértices arredondados. Louvando a importância que a água representou para aquele parque, um lago espreguiça-se pela altura do triângulo lembrando, se visto de cima, a letra S. Jatos de água nele plantados dão-lhe dinâmica, arejam e melhoram a qualidade da sua água. Envolvendo o lago, a área ajardinada é atravessada por caminhos pedonais muito bem conservados, ladeados por bancos que proporcionam um bom descanso à sombra de cedros e outras espécies de árvores. A área a norte do jardim foi cortada por uma faixa dedicada ao rei da cidade - o automóvel - deixando a estátua de Afonso Costa abandonada num pequeno triângulo relvado atravessado por uma passagem de peões.
Jardim de Arca d’Água
Até ao final do século XIX, o espaço hoje
ocupado pelo Jardim de Arca d’Água não era mais do que um descampado que se
tornara famoso pelo seu rico manancial que abastecia uma boa parte da cidade.
Atualmente tem o nome oficial de Praça Nove de Abril, desconhecendo-se se a
data evoca a tomada do Covelo pelos liberais em 1833, ou a Batalha de La Lys
travada, em 1918, na Flandes, onde morreram inúmeros soldados portugueses. O
Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) reconheceu o
interesse público de um conjunto arbóreo composto por 12 exemplares de
magnólia-sempre-verde que fazem parte da alameda que bordeja o arruamento
central do jardim.
Jardim da Avenida dos Aliados
O ritmo com que a cidade se expandia, no início
do século XIX, fez com que a Câmara Municipal do Porto se instalasse na casa de
Monteiro Moreira que fechava, a norte, a então Praça Nova, que se transformou
no novo centro cívico onde se desenrolavam os mais importantes acontecimentos
cívicos do Porto, entre os quais se destacam a revolução liberal e a
implantação da República. Por ali passaram os revoltosos que, em 31 de janeiro
de 1891 tentaram implantar, em vão, a República.
O Jardim da Avenida dos Aliados nasceu, em 1889,
no plano oferecido pela ‘Compagnie Générale des Eaux pour l’Etranger’, mais
conhecida por Companhia das Águas, com o título “Projecto d’embelezamento da
cidade do Porto para servir a edificação aos novos Paços do Concelho e outros
edifícios públicos…”[4]. Este projeto definia a criação de uma larga
avenida, com o eixo ligando a estátua da Praça de D. Pedro, que fora Nova, e o
centro da fachada da Igreja da Trindade. A avenida teria um separador central
ajardinado rodeado de passeios que permitiriam saudáveis passeios aos
portuenses. O plano considerava a demolição do edifício do Paços do Concelho
que passaria para o quarteirão limitado pela nova avenida e pelas atuais Ruas
de Elísio de Melo, do Almada e do Dr. Ricardo Jorge. Neste quarteirão ficariam
também os edifícios do Governo Civil, do Corpo da Guarda e Oficinas, e da
Biblioteca e Museu virados para a Rua do Almada, o edifício dos Bombeiros e o
edifício destinado à Administração dos Bairros.
Como aquele plano dava total visibilidade à
Igreja da Trindade, em detrimento dos edifícios públicos, a sua aceitação pela
CMP era impossível, o que levou o município a lançar, em 1914, um concurso
público para o “Plano de Melhoramentos e Ampliação da Cidade do Porto” baseado
nos novos conceitos da arte de construção das cidades modernas. O Vereador
Elísio de Melo orientou a 3.ª Repartição Técnica da CMP a elaborar o Projeto da
Avenida entre as Praças da Liberdade (nova denominação) e da Trindade, que foi
aprovado pela Câmara em 1915. O projeto foi reformulado pelo arquiteto inglês
Barry Parker que mantém o eixo inicial, mas muda a configuração do jardim e
coloca o edifício da Câmara à frente da Igreja da Trindade. Este estudo sofreu
algumas críticas do engenheiro Gaudêncio Pacheco e do arquiteto Marques da
Silva, aceites, em parte, por Barry Parker que reformulou o seu projeto.
A abertura da Avenida da Cidade teve início no
dia 1 de fevereiro de 1916. Como o projeto preparado por Barry Parker para o
edifício do município não agradava aos técnicos e políticos da Câmara, foi
lançado novo concurso para esse projeto, tendo sido escolhido pelo Júri a
proposta apresentado pelo arquiteto António Correia da Silva, da Câmara do
Porto. O edifício acabou por ser inaugurado em 1957.
Em dezembro de 1929, foi inaugurada uma
escultura de Henrique Moreira representando a “Juventude”, mais conhecida por
“Menina Nua”, apoiada num pedestal do arquiteto Manuel Marques. A norte da
avenida, foi colocada, em 1934, uma escultura intitulada “Os Meninos”, obra de
Henrique Moreira.
A avenida, que começou por se chamar da Cidade,
passou a ser das Nações Aliadas em homenagem aos heróis da Primeira Guerra
Mundial e depois dos Aliados, apenas foi concluída no início da década de 1950.
Ocupando a parte central da avenida, foi construído um bucólico jardim que
tinha uma interessante particularidade - excetuando os seus relvados e os
arbustos mais encorpados, as flores eram periodicamente substituídas. Pela
manhã, cedo, chegavam viaturas da CMP que transportavam jardineiros e centenas
de vasos floridos que ocupavam o espaço daqueles que tinham dado cor à avenida
no período anterior. O portuense tinha, assim, a possibilidade de admirar o seu
jardim renascido, com novas e vivas flores.
A construção da estação do metropolitano na
Avenida dos Aiados obrigou à reconversão da própria avenida, incluindo o seu
jardim. Essa renovação foi projetada e conduzida, em 2005/ 2006, pelos
arquitetos Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto. Conhecida a solução, ela foi, e
ainda é, bastante contestada porque os jardins e a calçada portuguesa deram
lugar a uma enorme área coberta por placas de granito. A propósito, em resposta
à sugestão de calcetar a Praça em frente à Câmara e de esta não ter nenhuma
parte ajardinada, respondeu o arquiteto Parker: “Eu aprovo a ideia, mas não
devemos perder de vista as desvantagens que têm grandes áreas de terreno
calcetado, ou mesmo em forma de mosaico: o reflexo do sol, de verão faz calor,
e a sua vista de inverno é triste. Ajardinar uma parte da Praça, sem dúvida a
tornaria mais agradável; a questão é se isso destruiria o seu efeito para
reuniões públicas. Espero, no entanto, que se permita a plantação de
suficientes árvores para haver sombra e dar relevo à Praça[5].” Talvez esta resposta contenha a justificação
para a mudança levada a cabo.
Jardim da Praça da Corujeira
A Praça da Corujeira, nome que pode dever-se à criação de corujas naquele lugar, localiza-se na freguesia de Campanhã muito próxima do antigo matadouro. É um amplo Largo arborizado com plátanos que teve duas grandes taças para receber a água de dois fontenários. Para além da frescura que os plátanos transmitem no período estival, poucos motivos tornam sedutora aquela praça, realçando-se o simples monumento ao gráfico português bastante vandalizado e com bastante lixo. A Praça ocupa um espaço usado outrora como feira onde se transacionavam, entre outros, gado, o que levou a denominá-la de Feira dos Bois. Este terá sido uma das razões usadas para localizar o Matadouro Industrial que substituiu o antigo matadouro de São Diniz. Depois de um complicado processo concursal, a construção do matadouro teve início em 1914 e apenas foi inaugurado em 1932. Completamente ultrapassado sob o ponto de vista técnico, ele foi requalificado como Jardim Municipal em 1993 e encerrado nos últimos anos do séc. XX. Atualmente está em marcha a sua transformação para criar um espaço para a instalação de “empresas, galerias de arte, museus, auditórios e espaços para acolher projetos de coesão social”. Para além da transformação do matadouro, a própria Praça da Corujeira vai ser reabilitada com o projeto do arquiteto Miguel Melo, esperando-se que a reabilitação seja concluída em 2024.
Parque Botânico do Campo Alegre
O primeiro passo dado para criar, na cidade do Porto, o Jardim Botânico deu-se, em 26 de setembro de 1836, quando Passos Manuel mandou publicar no Diário do Governo um documento no qual se estabelecia a criação de um jardim onde se promovesse o ensino das Ciências Naturais[6]. Esta iniciativa resultou da vontade manifestada pela Rainha D, Maria II. A Comissão nomeada para o efeito esfumou-se sem que nada tivesse acontecido. Poucos anos depois, o prefeito da Província do Douro, Manoel Gonçalves de Miranda, ordenou que o passeio de São Lázaro fosse transformado em Jardim Botânico para servir o estudo da flora. A ordem seguiu o mesmo caminho que trilhou a decisão do Ministro do Reino Passos Manuel, ou seja, foi esquecida.
Na sequência da reforma do ensino de Costa
Cabral (1884), foram estabelecidos, por decreto de 1845, os locais mais
apropriados para o Jardim Botânico e Experimental da Academia Politécnica do
Porto, tendo sido atribuído, por Decreto publicado em 1852, o edifício e cerca
do extinto convento dos Carmelitas Descalços, hoje ocupado em parte pela Ordem
do Carmo e a restante pelo Quartel da Guarda Nacional Republicana. Em 1858,
foram entregues 300 mil reis para a fundação do Botânico, mas, devido a
diversos conflitos no seio da Academia, apenas em 1864 o jardim foi criado,
ganhando, então, o interesse da Escola Médica e da Guarda Municipal. Em 1978, a
infraestrutura já dispunha de casa do hortelão e de sala de aula bem mobilada e
funcionando em pleno. Mas, cinco anos depois, a degradação das instalações
denunciava a exiguidade do orçamento do Jardim Botânico.
A Escola, devido a fortes divisões entre os
Professores do Conselho da Academia Politécnica levou o governo a ceder parte
do Jardim ao Comando da Guarda Municipal, acabando por ceder a totalidade, em
1903, para que a Guarda o transformasse em horta e obrigando à transferência
das plantas do Jardim para o Horto das Virtudes. Como prémio de consolação, a
Academia recebeu o Jardim da Cordoaria que abandonou pouco tempo depois porque,
na realidade, apenas podia etiquetar as plantas que ali se encontravam.
Em 1933, o Presidente da Comissão Administrativa
da Câmara Municipal, Alfredo Magalhães, tencionava criar o Jardim Botânico no
Jardim do Palácio de Cristal. Este desejo era correspondido pela Faculdade de
Ciências que apontou, em 1937, o Professor Américo Pires de Lima, Diretor do
Instituto de Botânica da Universidade do Porto, para redigir um texto que
servisse de acordo entre a Câmara e a Faculdade. O documento produzido não foi
aprovado pela Câmara e o assunto morreu. Foi então que surgiu a Quinta do Campo
Alegre que estava à venda. Vencidas as habituais resistências da Câmara que
queria, entre outras iniciativas, urbanizá-la para construção de vivendas de
luxo, foi a propriedade adquirida, em 1952, pelo Estado para que ali se
instalasse o Instituto Botânico com um Jardim com uma coleção de camélias que
honravam a cidade.
O Jardim Botânico desenvolveu-se então na Quinta
Grande ou do Campo Alegre que pertenceu, até 1759, à Ordem de Cristo então
extinta. Em 1802, essa quinta foi adquirida Jean Pierre Salabert e, após a
invasão, em 1809, do país pelas tropas francesas comandadas por Massena, foi
confiscada pelo Estado. Onze anos mais tarde passa a ser propriedade de João
José da Costa. Em 1875, a quinta foi vendida por Arnaldo Ribeiro Barbosa e
mulher a João da Silva Monteiro, que nela construiu um novo palacete e
transformou a quinta num jardim botânico, passando então a ser conhecida por
Quinta do Campo Alegre. Vinte anos mais tarde, João Henrique Andresen Júnior
adquire a Quinta e concluiu o processo de renovação tendo contratado o
jardineiro paisagista Jacinto de Matos que consolida o traçado do jardim,
constrói o campo de ténis, renova o bosque e introduz novas coleções de plantas[7]. Após a
prematura morte de João Andressen, a sua mulher Joana Lehman continuou a manter
os jardins com o apoio de Jacinto de Matos e Alfredo Moreira da Silva. Quinta
foi mantida na família até 1949, ano em que ela foi adquirida pelo Estado e
cedida à Universidade do Porto para aí ser instalado, em 1952, o atual Jardim
Botânico e Galeria da Biodiversidade do Porto. Este
espaço verde é digno de uma visita, apesar da mutilação que ocorreu, em 1956,
quando foram construídos os acessos à Ponte da Arrábida, ficando reduzido a um
terço dos originais doze hectares,
levando a Universidade a conservar os jardins iniciais e à instalação de novos
na antiga mata e campos de cultivo. Como acontecia em muitas das
quintas do Porto, existia um chafariz hoje conservado no Jardim do Rapaz do
Bronze que inspirou Sophia de Melo Breyner Andresen para publicação da sua obra
com o título “Rapaz de Bronze”.
Durante a comemoração do quinquagenário da
instalação do Jardim Botânico decidiu-se levar a cabo o projeto Jardim de
Sophia, “que teve como objetivo restituir a memória e fantasia ao espaço,
através da recriação das fábulas da autoria de Sophia[8]. O
espaço ocupa um patamar, com pouco mais de um hectare, com extensa vista que
abrange a foz do rio e o oceano. Engloba, conforme a sua natureza e história,
os Jardins dos Jotas, do Roseiral, do Peixe, do Xisto, das Suculentas, dos
Bosquetes e, ao lado da fachada nascente da casa, o jardim em que a água é o
seu elemento central, representada por um lago com uma estátua de metal, o
Rapaz de Bronze, da qual sai um repuxo. Junto à fachada poente temos um espaço
arborizado onde se encontra um carvalho roble que pode ter sugerido o ponto de
vigia usado pelo personagem Gladíolo do conto de Sophia para espreitar a festa
que decorreu na casa. Os autores do projeto propuseram para este espaço o nome
de Jardim do Carvalho do Gladíolo.[9] O Jardim
Botânico está reconhecido pelo
programa Green Flag Award como estando entre os melhores parques e espaços
verdes do mundo[10]. O ICNF classificou como de interesse público
um medronheiro-do-texas e três cedros-de-java, exemplares centenários, com
idades entre 120 e 150 anos, reconhecidos como dos mais antigos das suas
espécies no território nacional.
A Universidade do Porto
decidiu integrar no Jardim Botânico, que já incluía os terrenos e jardins da
Casa Burmester, os jardins da Faculdade de Ciências (o Jardim Silvestre,
o Jardim Mediterrânico, o Jardim do Fosso e o Pinhal dos
Cedros) e da casa Primo Madeira, criando, dessa forma o Parque Botânico do
Campo Alegre, com uma área total de cerca de 13 hectares, área ligeiramente
superior à que a Quinta do Campo Alegre tinha antes da construção da Ponte da Arrábida.
A criação do Parque implicou a plantação de espécies adequadas, a erradicação
de espécies invasoras e a introdução de elementos de sinalética. O Porto ficou
assim servido com um amplo espaço totalmente aberto ao público, cheio de
excelentes motivos de interesse didático e de deslumbramento, merecendo uma
demorada visita.
Jardim do Cálem
Foi também na segunda metade do séc. XIX que a Foz do Douro cresceu em importância e população, tendo sido aberto o Jardim do Passeio Alegre, desenhado em 1870 e inaugurado em 1888, e, na década de 1920, os jardins das Avenidas do Brasil e de Montevideu, que se tornaram mais atrativas com o aparecimento do americano[11], em 1872, que ligava a Praça do Infante à Foz. Caminhando pela marginal do centro da cidade para a Foz, o primeiro jardim que se encontra e o do Calém, situado na freguesia de Lordelo do Ouro, na margem do rio Douro, próximo da sua foz. O nome que lhe foi atribuído é uma homenagem a António Alves Cálem, pai e filho, dois homens de negócios que muito representaram na produção e exportação de vinho do Porto e importação e transformação de madeiras exóticas. É um pequeno jardim privilegiado por ser uma varanda com vistas para o rio, para a Afurada, e, a poucos metros da foz da ribeira da Granja, e com a ilhota do Frade[12] a seu lado, sapal frequentado por inúmeras aves que encantam quem as vê a partir do Observatório de Aves instalado no jardim. No extremo oriental do Jardim encontra-se um monumento esculpido por Lagoa Henriques, em 1960, que recorda a expedição a Ceuta de 1415 e, no fundo, homenageia os “tripeiros” e a lenda que envolve a causa deste atributo - a preparação das “tripas à moda do Porto” - porque, com o envio de toda a carne nos barcos da expedição, apenas restaram aquelas vísceras para a alimentação dos portuenses. No limite ocidental do jardim instalou-se, em 2001, uma estátua de Irene Vilar com o nome de Mensageiro, bastante conhecida por “O Anjo”, uma bonita escultura representando o anjo S. Miguel.
Jardim da Marginal da Cantareira
Muitos se lembram dos
prejuízos que a forte ondulação que alguns temporais provocavam nas casas
ribeirinhas da marginal à Cantareira/ Sobreiras. Foi em 1998/99 que se
construiu uma eficiente barreira roubando uma boa área ao rio e criando, com o
desenho da arquiteta Marisa Lavrador, uma área de lazer e para a prática de
desporto. O espaço contempla relvados que lembram as ondas que sulcavam o
paredão com alinhamentos de palmeiras e de metrosíderos. O espaço está servido
por dois restaurantes e, nas proximidades, por alguns edifícios com interesse
cultural, como a ermida e farol de São Miguel-o-Anjo, a Capela dos Navegantes
ou das Sobreiras e a Fonte das Cantareiras.
Jardim do Passeio Alegre
Junto da Foz do Rio Douro
encontra-se o Jardim do Passeio Alegre, talvez o mais bem situado por estar
envolvido pelo rio e pelo mar. Em 1862, iniciou-se a arborização do Passeio com
espécies florestais vindas de Hamburgo por via marítima. O jardim foi
construído em 1888 sob a direção de Jerónimo Monteiro da Costa, depois de a CMP
ter recebido o terreno do Ministério das Obras Públicas. apesar de se admitir
que ele foi desenhado, em 1870, por Emílio David atendendo a uma encomenda
feita pela Comissão de Banhistas. O
desenho do jardim aproveitou o feliz enquadramento que viria a ter com o Douro
a seu lado e o mar à vista para lhe transmitir a magnificência que ele tem. Foi
inaugurado em 1892. No lado sul do jardim, separado do rio pela Alameda das
Palmeiras das Canárias, desenvolve-se ao
longo da margem um largo passeio que proporciona felizes passeios, saboreando a
brisa que vem do Atlântico.
O jardim foi enriquecido
com elementos de elevado valor artístico: o chafariz transferido do Convento de
São Francisco, considerado como Monumento Nacional os dois obeliscos
(classificados como imóvel de interesse Público) instalados à entrada da
avenida central do jardim, paralela ao rio, desenhados por Nasoni quando da
construção da casa e jardins da Quinta da Prelada que se encontram agora à
entrada do jardim no lado oriental, um coreto, um pequeno “Chalet” romântico,
classificado como imóvel de Interesse Municipal, um dos raros quiosques do
Porto ainda “vivo”, e as instalações sanitárias dignas de uma voluntária
visita, construídas em 1910. O jardim integra também um campo de minigolfe e
dois campos de ténis. Foi enriquecido com a
escultura de Dário Boaventura que se encontra num dos dois lagos, designado por
"A Menina e a Foca", uma
escultura de José Rodrigues homenageando o escritor Ferreira de Castro, e um
monumento dedicado a Raúl Brandão. O Jardim do Passeio Alegre é
reconhecido pelo programa Green
Flag Award como estando entre os melhores parques e espaços verdes do mundo[13].
Jardins da Foz
Os Jardins da Foz foram construídos ao longo da primeira metade do século XX à medida que foram abertas as avenidas Montevideu e do Brasil, criando espaços verdes de lazer entre elas e o mar. No início da Avenida de Montevideu, junto ao Castelo do Queijo, o jardim foi enriquecido com uma fonte monumental, inaugurada em 1931, da autoria de arquitecto Manuel Marques. Caminhando daí para sul, cruzamo-nos com a estátua do Homem do Leme (1934), o busto de Camões, da autoria de Irene Vilar, e uma escultura de que representa um salva-vidas no meio de uma tempestade (1937), da autoria de Henrique Moreira.
Jardim da Praia da Luz
O
seu nome indica imediatamente a sua localização - na marginal da Foz junto à
Praia da Luz. É um pequeno jardim, com alguns exemplares de Metrosideros e com
o busto de Luís de Camões esculpido por Irene Vilar. Alguns canteiros relvados
albergam arbustos resistentes ao ar marítimo como a Faia da Holanda,
Tamargueira, a Rosinha da India, o Pitósporo-japonês. Associado ao jardim
existe um miradouro que faz estender o olhar pelo Atlântico e viajar até às
costas norte-americanas aproveitando a boleia de um barco que saia do Porto de
Leixões.
Jardim da Praça Dr.
Francisco Sá Carneiro
Localizada
na zona das Antas, próximo da Igreja das Antas e ao lado do Complexo Desportivo
do Monte Aventino, situa-se o Jardim da Praça Dr. Francisco Sá Carneiro, até
1981 Jardim da Praça Velasquez. Foi construído em 1948, sob orientação do
engenheiro Pacheco Miranda e sob desenho do arquiteto Arménio que previa a instalação,
no centro do jardim, de uma Praça de Touros que, felizmente, não foi
construída. O jardim tem uma forma circular, circunscrita por carvalhos
americanos. Formando circunferências interiores encontram-se algumas magnólias
chinesas alternados com cedros-brancos. O espaço tem alguns caminhos em terra
que convergem para o centro do jardim ocupado por uma escultura alusiva a
Francisco Sá Carneiro, da autoria do escultor Gustavo Bastos (1990). Excetuando
os dias dos jogos de futebol no antigo Estádio das Antas ou no atual Estádio do
Dragão, ou nos sábados em que recebe uma feira de antiguidades, o jardim tem
poucas visitas.
Jardins da Fundação Eng.º
António de Almeida
O Jardim da Casa Nova,
construído nos anos trinta do séc. XX por António Manuel de Almeida e sua
mulher Olga Andressen, e desenhado pelo célebre jardineiro Jacinto de Matos,
tem uma grande diversidade de plantas como azáleas, rododendros, medronheiros,
e árvores pouco comuns entre as quais se destaca a coleção de camélias. O fator
água etá bem presente com seu poço, a fonte ladeada, a taça de água em granito
e o jardim do lago com a estátua do seu fundador[14], da autoria de Barata
Feyo. Algumas peças escultóricas em granito “como o conjunto de figuras de
músicos que ladeiam a alameda, os quatro animais alados do jardim redondo e o
pedestal do relógio do sol”[15]
Jardim
Paulo Valada
O Jardim Paulo Vallada é
um amplo espaço verde com a forma de um triângulo, ligando a Avenida Fernão de
Magalhães à Rua Santos Pousada. É também conhecido como Jardim das Pedras
porque no seu espaço foram semeados alguns megálitos que ousam questionar
aqueles que por ali passam. Na realidade, esses monumentos são esculturas da
autoria de Minauro Nizuma produzidas para o Simpósio Internacional da Escultura
em Pedra realizado no Porto, em 1985. O jardim, dedicado a António Guilherme
Paulo Vallada, empresário que ocupou a presidência da CMP no período 1983/85,
foi desenhado pelo engenheiro Waldemar Cordeiro, então Diretor de Jardins da
Câmara Municipal do Porto. Construído durante os anos 80 do séc. 20, o jardim
foi inaugurado no ano da morte de Paulo Vallada, 2006. O jardim ocupa uma das
áreas mais ricas em água do Porto, por onde passa, agora encanada, a ribeira de
Mijavelhas ou do Poço das Patas.
Jardim da Sophia e Praça da Galiza
Os
Jardins da Sophia e da Praça da Galiza, são dois espaços verdes e de sossego
situados num movimentadíssimo cruzamento do Porto. O Jardim da Praça da Galiza
é uma pequena área ajardinada entre as ruas da Piedade e a do Campo Alegre que
inclui um espelho de água e uma estátua de Rosália de Castro esculpida por
Barata Feyo e inaugurada em 1954. O Jardim da Sophia foi desenhado pela
arquiteta Marisa Lavrador e construído em 1997. Integrado na moderna
urbanização Mota Galiza, este aprazível jardim incorpora, para além dos seus
arbustos, árvores e clareiras relvadas, um conjunto de elementos de água com pequenas
cascatas e um lago.
Jardim da Praça Dr. Francisco Sá Carneiro
Localizada na zona das Antas, próximo da Igreja das Antas e ao lado do Complexo Desportivo do Monte Aventino, situa-se o Jardim da Praça Dr. Francisco Sá Carneiro, até 1981 Jardim da Praça Velasquez. Foi construído em 1948, sob orientação do engenheiro Pacheco Miranda e sob desenho do arquiteto Arménio que previa a instalação, no centro do jardim, de uma Praça de Touros que, felizmente, não foi construída. O jardim tem uma forma circular, circunscrita por carvalhos americanos. Formando circunferências interiores encontram-se algumas magnólias chinesas alternadas com cedros-brancos. O espaço tem alguns caminhos em terra que convergem para o centro do jardim ocupado por uma escultura alusiva a Francisco Sá Carneiro, da autoria do escultor Gustavo Bastos (1990). Excetuando os dias dos jogos de futebol no antigo Estádio das Antas ou no atual Estádio do Dragão, ou nos sábados em que recebe uma feira de antiguidades, o jardim tem poucas visitas.
Jardins da Fundação Eng.º António de Almeida
O Jardim da Casa Nova, construído nos anos trinta do séc. XX por António Manuel de Almeida e sua mulher Olga Andressen, e desenhado pelo célebre jardineiro Jacinto de Matos, tem uma grande diversidade de plantas como azáleas, rododendros, medronheiros, e árvores pouco comuns entre as quais se destaca a coleção de camélias. O fator água está bem presente com seu poço, a fonte ladeada, a taça de água em granito e o jardim do lago com a estátua do seu fundador, da autoria de Barata Feyo. Algumas peças escultóricas em granito “como o conjunto de figuras de músicos que ladeiam a alameda, os quatro animais alados do jardim redondo e o pedestal do relógio do sol”.
A lista de jardins do Porto não ficou completa com os descritos nas páginas anteriores. Muitos outros, de dimensões mais reduzidas e, muitas vezes, escondidos daqueles que vivem no Porto ou os que por aqui passam, espalham-se pela cidade. Seguem-se alguns, esperando que a lista se complete em futuro próximo:
- No
Largo José Moreira da Silva,
situado entre a Rua da Alegria e a Rua Dom João IV, junto à Rampa da Escola
Normal, desenvolve-se um pequeno jardim com o busto em bronze, da autoria de
Salvador Barata Feyo. que representa José Moreira da Silva, fundador da
Cooperativa dos Pedreiros. Tem uma fonte e um pequeno tanque, com reciclagem de
água, que é um dos poucos bebedouros disponíveis na cidade para aves e outos
animais.
- No entroncamento da rua Firmeza com a rua Santos Pousada encontra-se o Jardim da Moreda, é uma pequena área com relvado e algumas árvores no qual se destaca um monumento ao Viajante Profissional de Vendas.
- O Jardim da Praça da Rainha D. Amélia, ou da Póvoa de Cima ou do Largo do Chitreiro, é um pequeno jardim no entroncamento da rua Latino Coelho com a rua de Santos Pousada. É constituído por relvados com canteiros floridos, alinhados com espécies arbóreas e arbustos.
- O
espaço onde esteve, até 1948, o Mercado do Anjo teve um destino díficil, tendo
passado pelo mercado provisório da Cordoaria esperando a inauguração do Mercado
do Bom Sucesso, e pela Praça de Lisboa que não era mais do que um parque
automóvel e ponto de partida de autocarros para Lisboa e Algarve. Na década de
1990 ali surgiu um nado morto apelidado de Clérigos Shopping. Tendo este espaço
comercial sido renovado, a sua cobertura foi preenchida pelo Jardim dos Clérigos ou das Oliveiras, espaço relvado onde se distribuem oliveiras. Este
pequeno olival no coração da cidade atrai tripeiros e turistas que disfrutam o
sossego daquele espaço que presta homenagem ao olival do bispo que ali existiu.
- O Jardim da Pena é um jardim recentemente construído perto da Faculdade de Letras, ao Campo Alegre, na Rua da Pena. Este jardim integra os Percursos do Romântico, circuito definido no vale de Massarelos no âmbito da Porto 2001, Capital Europeia da Cultura. Distingue-se pelas vistas abrangidas.
- Em
frente ao Liceu Rodrigues de Freitas formou-se uma praça semicircular ocupada
em parte por um Jardim que assumiu, em 1936, o nome da Praça Pedro Nunes.
O jardim é constituído por duas partes separadas pela Rua Augusto Luso, a maior
delas ocupada por exemplares de Camélia japoneira enquadrando o busto do professor
daquele liceu Leonardo Coimbra, do escultor António Duarte, inaugurado em 1983.
Existe também uma estátua de Jacinto de Magalhães, primeiro diretor do
instituto de genética, escultura de Laureano Guedes e inaugurada em 1987.
- Inaugurado em 2006, o Jardim do Largo Palmira Milheiro, em homenagem àquela que foi diretora da Escola Feminina do Bairro do Amial, localiza-se na Rua da Telheira, ao Amial. Este espaço verde, outrora ocupado por um silvado, aproveitou o arvoredo que existia no lugar, onde predominam o carvalho americano e o liquidâmbar. Apenas foi relvado o terreno e colocado o mobiliário essencial a um jardim.
- Teve início, na década de 1960, a construção de modernas urbanizações de que é excelente exemplo a Urbanização do Foco, levantada entre 1960 e 1973. Em simultâneo, foi construído o Jardim Machado de Assis que é rodeado pelos edifícios da urbanização. É constituído por áreas relvadas nas quais se inserem diversos arbustos e árvores como os carvalhos, freixos, etc. O jardim não contém qualquer elemento associado à água.
- Próximo do Parque de Serralves e inserido num belo bairro de casas económicas, o Jardim do Largo D. João III foi sido construído em 1948-49. Ele incorpora algumas espécies arbóreas com interesse e nele foi instalada, em 1984, uma escultura de Afonso de Albuquerque, do escultor Diogo de Macedo, feita para ser exposta na Exposição Colonial do Porto realizada no Palácio de Cristal em 1834.
- O
Jardim da Rua Alfredo Keil,
rua sita no Bairro Gomes da Costa, terá sido construído no final do séc. XIX ou
início do séc. XX. É um pequeno jardim de recreio, com algum arvoredo, sem
qualquer elemento ligado à água.
- A Praça de Liége foi, até 1914, Largo do Monte da Luz. Ali foi construído um jardim muito apreciado pelos residentes da Foz do Douro dado o simbolismo da própria praça - uma homenagem à resistência oferecida pelos habitantes daquela cidade belga à invasão alemã que ocorreu no início da Primeira Guerra Mundial. O Jardim da Praça de Liege foi recuperado há pouco anos, dando nova vida ao seu repuxo e respetiva taça da zona central. Ladeando a fonte, duas pérgulas de madeira estão carregadas com madressilvas que dão sombra àqueles que descansam nos bancos aí colocados. Dominam e limitam o jardim dois alinhamentos de plátanos.
- O Jardim José Roquete, uma iniciativa privada associada à Urbanização Foz Residence do grupo Altis, foi inaugurado em 2006. Trata-se de um jardim com dois pequenos relados que ocupam um campo triangular em que um dos lados é dominado por uma enorme fonte granítica com a forma de um aqueduto lembrando aquele que serviu a Foz. A água reciclada pelo aqueduto é lançada pelas suas bicas para um lago do tipo espelho de água.
Com a forma elíptica e sem orientação específica, o Jardim da Rua Manuel Bandeira é um campo de lazer e descanso que apoia os numerosos moradores de uma importante área com caráter residencial e empresarial delimitada pela Avenida da Boavista, Rua da Venezuela, Rua António Cardoso e Rua de António Bessa Leite.
[1]
MARÇAL, R., 1965, O Jardim do Carregal e as suas imediações, VI Série,
Ano V, n.º 9: 263 -264.
[2] CONDE DE SAMODÃES, 1910, Palácio de Crystal
Portuense - Breve esboço histórico, O Tripeiro, 3.º ano, n.º 87: 228 - 230.
[3] Emílio David, arquiteto paisagista alemão, foi convidado, em 1864, para
desenhar e dirigir a instalação dos jardins do Palácio de Cristal. Executou, em
1865, os jardins da Cordoaria e do Passeio Alegre. Depois de ter assumido
durante dois anos a direção do Horto das Virtudes, assumiu, em 1870, o
exercício da sua arte em gabinete próprio, projetando jardins, sobretudo em
propriedades privadas, como os jardins da Baronesa do Seixo na Rua de
Cedofeita, do Palacete dos Albuquerques na Rua do Rosário, e a de Arnaldo
Ribeiro de Faria, na Rua do Heroísmo.
[4]
FIGUEIREDO, R., PIMENTA DO VALE, C., TAVARES, R., 2013, Avenida dos
Aliados e Baixa do Porto - Memória, Realidade e Permanência, Porto Vivo, SRU,
Porto: 101. A descrição é um resumo do trabalho citado.
[5]
Marques et al, 2014: 113
[6]
PIRES DE LIMA, A, 1946, A Universidade e a cidade - O Jardim Botânico, O
Tripeiro, 3.ª Série, Volume I, n.º 10: 221 - 224.
[7]
ANTUNES, A. C., MARQUES, P. F., “O Jardim
de Sophia”: uma fantasia espacial inspirada na obra literária de Sophia de
Mello Breyner Andresen. Faces de Eva. Estudos sobre a mulher [on line].
2016, n. 35 [citado 2020-11-30], pp.33-54. Disponível em: shorturl.at/goxQ8,
consultado em 4/3/2021.
[8]
ANTUNES & MARQUES, 2002: 39
[9]
ANTUNES & MARQUES, 2002: 40
[10]
GREEN FLAG AWARD, greenflagaward.org, consultado em 20/3/21.
[11] O carro americano foi
usado como transporte coletivo em “caminho de ferro”, isto é, em carris.
Inicialmente, as carruagens eram puxadas por cavalos, que foram substituídos
por motores elétricos logo após o seu aparecimento. O Porto foi a primeira
cidade a usufruir do carro americano, tendo sido construída, em 1871, a linha
da marginal.
[12]
Trata-se de um frade que, segundo a lenda descrita por Joel Cleto,
apareceu nú naquele sapal lá deixado por uma leiteira que ele seduzira - ler em
CLETO, J., 2010, Lendas do Porto, QUIDNOVI: 81.
[13] Green Flag Award,
greenflagaward.org, consultado em 20/3/21
[14]
MARQUES, P. F., FERNANDES, C., LAMEIRAS, J. M., GUILHERME, F., SILVA, S. E
LEAL, I., 2014, Morfologia e Biodiversidade nos Espaços Verdes da Cidade do
Porto. Livro 1 - Secção das áreas de estudo, CIBIO - Centro de Investigação em
Biodiversidade e Recursos Genéticos da Faculdade de Ciências da Universidade do
Porto: 64.
[15] Marques et al, 2014: 122.
Sem comentários:
Enviar um comentário