terça-feira, 15 de novembro de 2022

As quintas e jardins do Porto e a água

 

3ª Parte - Os parques



 OS PARQUES DO PORTO


Nas últimas décadas algumas cidades cresceram desmesuradamente reduzindo a qualidade de vida do cidadão. No nosso país, as urbes próximas da costa atlântica atraíram as populações dos campos e do interior, transformando-se em monstros de betão armado com as suas ruas preenchidas por todos os tipos de veículos motorizados que lançam para a atmosfera os sues infames gases. Nos países mais desenvolvidos e mais cultos cedo se percebeu a necessidade de reservar espaços com o seu ambiente natural preservado, garantindo um refúgio natural para o “relaxamento físico e emocional, o convívio social” e a possibilidade de permitir a “aprendizagem de valores ecológicos, biológicos e paisagísticos, tão relevantes para a vida em meio urbano”.

A expansão da atividade industrial no Porto deu-se na segunda metade do século IXX, atraindo muita gente de outras terras. Entre 1864, ano em que se iniciaram os recenseamentos gerais da população, o número de habitantes da cidade, com a área administrativa atual, aumentou de 89.349 para 167.955 em 1900, crescendo até 303.424 em 1960. Como a construção de habitações dignas não acompanhou o crescimento populacional e como as condições de vida dos operários e suas famílias roçava a miséria, os impiedosos especuladores desenvolveram as “ilhas” que garantiam a criação de riqueza a partir da pobreza. Para além do trabalho, para uma boa parte da população pouco mais restava do que o sonho de uma vida melhor. Os movimentos sociais que surgiram ao longo do séc. XIX nos países então mais desenvolvidos apelavam à criação de meios que garantissem aos operários, camponeses e aos pobres em geral, melhores condições de vida, onde se incluíam, entre outras, a criação de áreas verdes. No Porto, as alamedas e jardins surgiram antes do século XX, mas destinavam-se sobretudo às classes mais abastadas. A vontade de construir Parques na cidade do Porto apenas surgiu na segunda década do século XX quando a CMP admitiu a construção de um parque urbano para o qual reservou uma área de terreno em Aldoar. Todavia, o primeiro parque a ser aberto ao público foi o de São Roque, em 1979. Felizmente, que a atitude dos tripeiros e o empenhamento dos órgãos autárquicos fez com que o número de parques tenha aumentado nos últimos quarenta anos para gáudio dos portuenses.

 


PARQUE URBANO DA CIDADE



A primeira planta de demarcação do Parque da Cidade foi apresentada, em 1928, à Câmara Municipal do Porto pelo vereador Dr. Sousa Rosa. Quatro anos mais tarde, Ezequiel de Campos mostrou no Plano da Cidade do Porto de 1932 a necessidade de dotar a cidade de um parque urbano para todos os habitantes da cidade. Em 1945, a Comissão de Estudo da Valorização Turística da Foz do Douro não acreditava que a construção do parque fosse possível, embora considerasse como essencial para o enriquecimento cultural das gentes do Porto. O Plano Diretor da Cidade de 1961 localizou o parque e para ele reservou a área de cerca de 80 hectares de terreno em Aldoar, ocupado por lameiros, campos de semeadura, um choupal, pinhal, uma lixeira e um núcleo rural em ruína. Paulo Valada, presidente da CMP considerou como prioridade da Câmara a concretização do Parque Urbano da Cidade, tendo sido nomeado, em 1985, o Vereador Carlos Brito como responsável pela condução política do processo do parque, criando para o efeito um Gabinete Técnico que foi instalado em 1988. No ano seguinte, durante o mandato como Presidente da Câmara de Fernando Gomes, foi a condução política do processo entregue ao Vereador Orlando Gaspar que indigitou, para a direção do Gabinete do Parque, Francisco Sendas, acontecendo a sua nomeação em 1990.

O Plano Diretor Municipal (1991) apostou fortemente na criação de grandes parques urbanos, tendo-se iniciado pelo Parque Urbano da Cidade (Ocidental) que começou por ocupar, numa primeira fase que terminou em 1993, a área de 45 hectares. Na segunda fase foram requalificados mais 45 hectares, perfazendo os noventa previstos. Na última requalificação o parque foi estendido até ao mar, conferindo-lhe a continuidade que a beleza do parque exigia. Mais conhecido como Parque da Cidade, ele é o maior "pulmão" verde do Porto e o maior parque urbano do país. Projetado pelo arquiteto Sidónio Pardal e inaugurado em 1993, o parque acompanha a parte final da Avenida da Boavista, lado norte, e estende-se até ao Atlântico, a sua frente marítima. Concluído em 2002, no Parque da Cidade encontra uma paisagem rural e campestre, com lagos e cerca de dez quilómetros de bons caminhos que apelam a longas caminhadas. Os bandos de aves deliciam as crianças e movimentam os fotógrafos amadores ansiosos por captar uma cena digna de registo. Os equipamentos desportivos completam um fabuloso espaço onde é fácil criar uma “mente sã em corpo são”. O Parque da Cidade é reconhecido pelo programa Green Flag Award como estando entre os melhores parques e espaços verdes do mundo.

Parte deste parque é ocupada pelo Pavilhão da Água que esteve presente na Expo’98 e depois oferecida pela então Unicer à CMP que o instalou no Parque da Cidade, junto à Estrada da Circunvalação, tendo sido aberto ao público em dezembro de 2002. O Pavilhão procura, através de lúdicas experiências revelar a importância que a água representa para a Humanidade e para a vida de todos os seres vivos, e divulgar a invulgaridade das suas propriedades físico-químicas. A sua relação com a sociedade não se manifesta apenas pelas visitas, mas também com divulgação através da internet ou de sessões presenciais na escola ou onde for necessário.



PARQUE ORIENTAL



O Parque Oriental foi definido no Plano Geral de Urbanização de 1987. Em 1993, a CMP lançou, no âmbito do plano de requalificação e renovação urbanística e ambiental do Porto Oriental, um concurso de ideias para o então Parque Oriental, Freixo e Complexo Lúdico-Tecnológico. Está implantado numa área da freguesia de Campanhã por onde passam os rios Tinto e Torto, ocupando terrenos agrícolas e arborizados com, no final do projeto, cerca de 80 a 100 hectares. Este parque toca antigas e importantes quintas como a da Revolta e de Vilar d’Allen. Inaugurado em 2010, o parque desenvolve-se ao longo da margem esquerda do Rio Tinto. Desenhado pelo arquiteto Sidónio Pardal, o parque contempla uma grande área com relvados, áreas arborizadas e caminhos que garantem que a visita ao parque dê a possibilidade de praticar desporto e lazer. Uma particularidade deste parque reside na harmonização dos espaços verdes com o granito, rocha predominante e característica da cidade do Porto, particularmente nos seus tradicionais edifícios e pavimentos de ruas. A visita a este parque é compensadora. O seu sossego e a sua beleza libertam o visitante.

Partindo da estação da Levada do Metro do Porto pode-se chegar ao Parque Oriental seguindo, para sul, o passadiço do Rio Tinto.

 


PARQUE DE SÃO ROQUE





O Parque de S. Roque ou Quinta da Lameira resultou da aquisição pela CMP, em 1979, de parte da Quinta da Belavista que pertencia à família Calém. O Parque de São Roque tem, para além da casa apalaçada e terrenos envolventes, incluindo os formosos jardins, uma bem cuidada mata com sebes labirínticas, repuxos, lago, mesas e bancos de granito, uma capela para ali transferida vinda do Largo Ator Dias, etc. A Quinta de São Roque da Lameira, separada da Quinta da Bela Vista, tem entradas pela rua de S. Roque da Lameira, a sul, e pala Travessa das Antas, a norte. Dela foi separada uma parcela onde se construiu, em 1759, a Casa Ramos Pinto, hoje de São Roque, bela mansão com pavilhão de caça remodelada e ampliada, entre 1900 e 1912, pelo arquiteto Marques da Silva com o apoio, para o desenho do jardim de inverno da casa, de Jacinto de Matos, com merecida fama nos projetos de jardins. A Casa de São Roque pertenceu, no séc. XIX, à família de Maria Virgínia de Castro que, em 1885, sobrinha e herdeira da proprietária da quinta Delfina Hermínia Coelho Louzada, se casou com António Ramos Pinto, importante produtor de vinho do Porto.

Em 1978, a CMP adquiriu-a a António Eugénio de Castro Ramos Pinto Calém, neto de Maria Virgínia e António Ramos Pinto. No ano seguinte, o Parque de São Roque foi inaugurado e aberto ao público. O Parque, que está aberto ao público desde 1979, e tem excelentes condições para a prática de desporto ao ar livre e lazer, para não falar das belas vistas que se alcançam da parte mais alta da quinta. É, sem dúvida, um dos parques mais interessantes do Porto. Ocupa uma área de quatro hectares e meio e está muito bem equipado para receber os visitantes mais exigentes. Tem, desde 2002, um Centro de Educação Ambiental, boas casas de banho, bastantes bebedouros, parque infantil, três fontes e um lago com jatos de água, bancos e mesas de pedra que apoiam bons piqueniques. O seu esplêndido jardim, desenvolvido com o benefício das mãos do conhecido Jacinto de Matos, tem uma notável flora onde se destacam uma boa coleção de idosos eucaliptos, o labirinto de Buxus sempervirens, e as cerca de duzentas camélias.


Fonte dos Leões

 
Fonte do Encosto

Fonte da Capela

Fonte da Taça



PARQUE DA FUNDAÇÃO DE SERRALVES





O Parque de Serralves ocupou o espaço que foi da Quinta de Lordelo, na Rua de Serralves, com a sua casa burguesa e jardim romântico. A propriedade passou a pertencer, no final do séc. XIX, a Diogo José Cabral, empresário têxtil no Vale do Ave, que deu início a um conjunto de alterações no sentido de a adaptar aos seus gostos. A renovação da quinta foi continuada por seu filho, Diogo José Cabral Jr., 1.º Conde de Vizela, a partir de 1900. Em 1923, o comando da quinta e das unidades industriais passou para as mãos de Carlos Alberto Cabral, 2.º Conde de Vizela, que aumentou a área da propriedade para os atuais 18 hectares, por aquisição de terrenos adjacentes e integrando, por permuta, a Quinta do Mata-Sete, propriedade da família herdada pelo seu irmão. Foi então mudado o nome da propriedade para Quinta de Serralves.

Homem culto com visão modernista, Carlos Cabral convida os arquitetos José Marques da Silva e Jacques Gréber para desenvolver os projetos para a Casa e o Parque, tendo o cuidado de neles ser integrada a estrutura dos jardins preexistentes. Tendo sido concluído, em 1932, o desenho dos jardins, a totalidade das obras do Parque terminou em 1940. Em 1953, Carlos Cabral vê-se obrigado a vender a sua joia, o que fez a favor de Delfim Ferreira, Conde de Riba d’Ave, também grande industrial em várias áreas, incluindo a têxtil, que conservou, com os seus herdeiros, o património até à sua aquisição, em 1986, pelo Estado Português, com o intuito de aí instalar um espaço de lazer, de cultura e de manifestações artísticas. A primeira iniciativa foi concluída com a abertura ao público, em 1987, do Parque de Serralves.

Em junho de 1989, foi instituída a Fundação de Serralves, constituída pelo Estado, empresas e particulares, cujos estatutos estabelecem a “promoção de atividades culturais no domínio de todas as artes”. O Plano Diretor Municipal do Porto de 1990 considerou o Parque de Serralves como zona de proteção paisagística, urbanística e arquitetónica, que levou a desenvolver os princípios orientadores das ações de recuperação e as regras de gestão e manutenção do património para abertura do espaço ao público. Da revalorização do Parque destacam-se a construção do Museu do Centro de Arte Contemporânea, projetado por Siza Vieira e inaugurado em 1996, e a instalação do Jardim das Aromáticas. Foram conservados e beneficiados os Jardins da Casa, a Alameda dos Liquidâmbares, os Parterres Central e Lateral, o Roseiral, o Jardim do Relógio e o das Camélias, e os bosques: Arboreto, Bosque das Faias e Bosque do Lago. A conservação da mata e dos campos de semeadura, particularmente o campo de Mata-Sete, permitiu a associação da prática agrícola à criação de alguns animais domésticos autóctones como o burro de Miranda e os bovinos das raças Arouquesa, Barrosã e Marinhoa. Esta atividade tem como objetivos essências o desenvolvimento de ações didáticas e pedagógicas. Há poucos anos, foi construído o “Treetop Walk”, um passadiço de madeira instalado junto à copa das árvores que permite observar o parque numa perspetiva diferente.

O Parque de Serralves alberga um museu de arte contemporânea e a Fundação de Serralves, perto da entrada do parque. O museu expõe obras vanguardistas de artistas modernos com as instalações a mudar constantemente. Não tem exposição permanente.

 


PARQUE MUNICIPAL DAS VIRTUDES





O Horto das Virtudes, herdeiro da Quinta das Virtudes, foi construída na segunda metade do séc. XVIII. Era seu proprietário José Pinto de Meireles que, no séc. XIX, a vendeu a Pedro Marques Rodrigues que transformou a quinta para a produção de produtos hortícolas e plantas ornamentais para jardins. Em 1844, Pedro Rodrigues contrata José Marques Loureiro que rapidamente se transformou num excelente horticultor e rapidamente promovido a gestor do Horto, transformando-o num “centro difusor do conhecimento botânico e da horticultura ornamental. O auge deste horto foi atingido em 1865 quando foi nomeado como fornecedor da Casa de Sua Majesta a Rainha D. Maria Pia. Em 1890, Marques Loureiro funde o Horto das Virtudes com o estabelecimento de Jeronymo Monteiro da Costa, registando a nova sociedade com o nome de Real Companhia Hortícola-Agrícola Portuense.

O atual Parque Municipal das Virtudes fica nos terrenos da antiga Companhia Hortícola-Agrícola Portuense, desenvolvendo-se em socalcos encosta abaixo, bem no centro do Porto e a poucos metros da Torre dos Clérigos. Foi comprado em 1965 pela Câmara Municipal do Porto e alvo de obras de recuperação em 1998. Oferece uma panorâmica única sobre o edifício da Alfândega do Porto, o Rio Douro e a cidade de Vila Nova de Gaia.

Este parque tem uma disposição única, já que não é plano, mas sim vertical, ou seja, é composto por socalcos encosta abaixo. Para quem o visita, é um encanto escondido em plena cidade do Porto e com uma ótima localização, visto que está muito perto do centro histórico. Com muitas árvores altas, o seu maior tesouro é uma árvore – a maior Ginkgo Biloba do país, com cerca de 35 metros de altura. Considerada uma das maiores árvores da Europa, em janeiro de 2005 foi classificada como árvore de interesse público pela Direção Geral das Florestas. Existe uma entrada na Rua Azevedo de Albuquerque e outra atrás do Palácio da Justiça. Com muitos espaços verdes, este jardim tem várias estátuas modernas e um chafariz.

 


PARQUE DE NOVA SINTRA ou QUINTA DO BARÃO DE NOVA SINTRA



A Quinta das Oliveiras ou Vilar das Oliveiras pertenceu ao Barão de Nova Sintra, José Joaquim Leite Guimarães, “brasileiro de torna-viagem”, que fundou, em 1863, o “Estabelecimento d’artes e ofícios do Barão de Nova Sintra” que não teve aceitação na sociedade de então. Não esmoreceu e criou, em 1863, um estabelecimento para a educação de rapazes. Após a morte do Barão ocorrida em 1870, o estabelecimento passou para a Santa Casa da Misericórdia que ainda o mantém com o nome de Colégio Barão de Nova Sintra. Entretanto, a quinta foi adquirida, em 1867, pela família Reid, negociantes ingleses que se estabeleceram no Porto. A família recuperou a propriedade, mantendo um palacete, um magnífico jardim e uma mata que ainda hoje resistem. Em 1922, a família Reid vendeu a propriedade à sociedade de joalheiros Almeida Miranda & Companhia que, em 1932, foi adquirida pela Câmara Municipal do Porto a fim de nela alojar os serviços da Companhia das Águas, depois Serviços Municipalizados de Águas e Saneamento do Porto e atualmente Águas do Porto, E. M. Com uma grande diversidade botânica e com um ambiente calmo e tranquilo, o Parque de Nova Sintra tem um denso arvoredo, uma mata frondosa e numerosas alamedas e veredas. As antigas fontes e chafarizes do Porto dos séc. XVII, XVIII e XIX que foram recolhidas de diversos pontos da cidade entre 1930 e 1960 e deslocados para este espaço verde na altura da progressiva canalização da água na cidade, são outro motivo de interesse. “O Universo (4+3), de 1987, tem a autoria de Irene Vilar. Trata-se de uma escultura em bronze. Simboliza a totalidade do espaço e a totalidade do tempo. Associando o número 4, que simboliza a Terra, com os seus 4 pontos cardeais e o número 3, símbolo do céu, e o número 7, a totalidade do Universo em movimento.” O palacete da quinta é hoje ocupado pela Águas do Porto e respetivas infraestruturas. Há poucos anos, o parque ganhou a denominação “Jardins Românticos de Nova Sintra” e foi integrado no Roteiro Cultural da Cidade do Porto.

 


PARQUE DA PASTELEIRA





O Parque Urbano da Pasteleira ocupa uma parcela arborizada de sete hectares e meio que resistiu à ocupação por prédios com habitações de luxo da área total dos Pinhais da Foz. Porém, a própria Câmara Municipal reduziu aquela área quando ali construiu um bairro residencial. Este parque público está rodeado pelas Ruas de Diogo Botelho e de Bartolomeu Velho muito próximo do Bairro da Pasteleira. A beleza do muro que limita aquele espaço de lazer justifica uma visita. O seu arvoredo distingue-se pela presença de pinheiros-bravos, rododendro, e sobreiros, fazendo com que seja considerado como a última parcela de vegetação natural do Porto.

O Parque da Pasteleira nasceu da reconversão, segundo o projeto da arquiteta Marisa Lavrador, da antiga Mata da Pasteleira, tendo sido construído entre 2004 e 2009. O parque tem duas parcelas separadas por uma via rodoviária e ligadas por três passagens superiores, e dispõe de um Centro de Educação Ambiental. Em 2009 foi criada uma ciclovia com uma extensão de dois quilómetros ligando o Parque da Pasteleira ao Parque Oriental da Cidade.

 


PARQUE DA QUINTA DO COVELO




A Quinta do Covelo, antes do Lindo Vale ou de Quinta da Bela Vista enquadrada a poente pela rua Faria Guimarães, a sul pela rua de Bolama, a norte pela Rua do Monte de São João e a oriente pela Travessa do Monte de São João e Rua de Álvaro de Castelões, foi fundada, em 1720, pelo capitão geral da cidade Paes de Andrade, fidalgo da Casa Real. Mais tarde (1829 – 1830), a quinta, com nove hectares, foi vendida a Manuel José do Covelo que, aproveitando a abundante água que então nela nascia, a desenvolveu cultivando-a e ajardinando-a, chegando a “produzir 40 pipas de vinho, além de muitos carros de cereal. A água da nascente desapareceu devido às construções e escavações que se fizeram à sua volta. Adquirida por Manuel da Rocha Paranhos, passou a ser conhecida por quinta dos Paranhos.

Uma boa parte da quinta foi doada, por Isidro António Pereira Rocha Paranhos, ao Ministério da Saúde para ali ser construído um hospital dedicado à receção de doentes com tuberculose. Como o controlo desta doença eliminou a necessidade de construir aquele hospital, aquele Ministério entregou o terreno doado à Câmara Municipal do Porto que o transformou num esplendido espaço verde, uma parte na forma de mata onde se pratica adequado desporto em circuitos de manutenção, e outra para lazer onde as crianças passam horas inesquecíveis nos equipamentos ali instalados. Da quinta primitiva apenas restam as ruínas da casa, da capela dedicada a Santo António, uma fonte, um moinho de vento, e uma casa de caseiro, ainda habitada, que continuam a pertencer aos últimos herdeiros. Os recursos hídricos existentes são relevados através de lagos, de tanques revestidos de azulejos e espelhos de água para fazer a transição entre o construído e a natureza.

A Quinta do Covelo está ligada à história de um importante clube da cidade: o Sport Comércio e Salgueiros. Fundado em 1920, este clube alugou, em 1922, um terreno nesta quinta onde construiu o seu primeiro campo para futebol, o Campo do Covelo. Ali se manteve até 1930, mudando-se então para o campo de Augusto Lessa, instalado num terreno oferecido por Alexandre Vidal Pinheiro, que foi mais tarde homenageado pelo clube que atribuiu o seu nome aquele Campo.

Por se encontrar à cota mais elevada do Porto, 156 metros, esta quinta foi um importante campo militar durante o Cerco do Porto (1832 - 1834), tendo sido ocupada, pelos realistas que ameaçavam as tropas liberais que, por isso atacaram e conquistaram aquela posição em 16 de setembro de 1832. Pouco tempo depois, as tropas realistas contra-atacaram e recuperaram o monte. A resposta dos liberais não se fez esperar, e as tropas de D. Miguel sofreram uma pesada derrota e abandonaram aquele espaço grandemente destruído. Os liberais apenas reocuparam o Covelo em abril de 1833.

 


PARQUE CENTRAL DA ASPRELA



O Parque Central da Asprela começou a ser construído em 2020 e foi concluído e aberto ao público em maio de 2022. O Parque aproveita os recursos naturais existentes na área ocupada pelo futuro parque, nomeadamente parte da vegetação e a ribeira da Asprela, tão escondida e sacrificada nos últimos 50 anos. Ele ocupará uma área aproximada de seis hectares, o projeto por à vista de todos, para além da Ribeira da Asprela que ficará parcialmente descoberta, a Ribeira da Manga será desencanada. Para prevenir alagamentos, o parque terá uma estrutura para contenção de água com a capacidade para reter cerca de dez mil metros cúbicos de água.

Este parque foi finalmente inaugurado em 20 de março de 2022. É um belo “pulmão verde” que recebe de braços abertos todos os que trabalham ou estudam na área de influência do parque. Servido pelas estações do IPO e do Pólo Universitário do Metro, o Parque da Asprela é um excelente atrativo para a população da cidade devido à excelência dos seus acessos.

 


PARQUE DA ALAMEDA DE CARTES


            A Zona Oriental do Porto, muito esquecida e abandonada durante muitos anos, iniciou, no final do século XX, um programa de reabilitação urbana onde se contempla a criação do Parque Alameda de Cartes. Foi oficialmente divulgado pela CMP a criação deste parque que vai envolver terrenos públicos localizados entre o bairro do Falcão, do Cerco do Porto, do Lagarteiro e o parque oriental. Foi definido como objetivo do projeto, a criação de um espaço verde urbano contínuo para a população e uma rede de caminhos pedonais que promovam a acessibilidade. O horizonte do projeto é 2024.

 


OS CEMITÉRIOS DO PORTO


Cemitério de Agramonte

Cemitério do Prado do Repouso


Na identificação das áreas verdes da cidade não se podem esquecer os cemitérios que, por vezes, são autênticos jardins e museus públicos onde se revive a história da cidade dos últimos duzentos anos. Este reconhecimento não choca aqueles que alguma vez visitaram um cemitério com o objetivo de usufruírem da paz e tranquilidade que ali se sente e enriquecer a sua cultura com o que se vê e lê. Foram os ingleses que, nos finais do século XVII, passaram, como medida sanitária, a sepultar os seus mortos em áreas abertas denominadas inicialmente como campos santos e, mais tarde, cemitérios. Assim foi no Porto, em que o primeiro cemitério a receber as suas inumações, desde 1788, foi o Britânico da Igreja de Saint James, com acesso pelo Largo da Maternidade. Antes desta data, a colónia britânica do Porto fazia os seus enterramentos na margem esquerda do rio Douro, no lugar do Cais do Cavaco, muitos deles no areal com a maré baixa.

Segundo Nuno Cruz, existiam, em 1514, campas num terreno localizado em parte da rampa que liga a Rua Mouzinho da Silveira à Praça de São Domingos. Essas campas deviam pertencer ao cemitério dos Frades Pregadores. Terá existido outro local para enterramento dos defuntos de pessoas pobres no terreno doado, em 1675, à Ordem Terceira de São Francisco, terreno esse ocupado hoje pela Igreja e a sua Sacristia. Os cemitérios públicos portugueses foram oficialmente criados em 1835. Até essa data os católicos portuenses importantes (burguesia e membros da igreja) eram enterrados no chão das igrejas e capelas. Excetuava-se a Ordem Terceira de São Francisco que possuía um cemitério catacumbal, hoje visitável, onde se enterravam os irmãos da Ordem falecidos a partir da segunda metade do século XVIII. Estas catacumbas foram desativadas há 140 anos quando a Ordem Terceira de São Francisco abriu o seu Cemitério Privado em Agramonte.

O cemitério privado da Lapa foi construído, provisoriamente, em 1833, pela Irmandade de Nossa Senhora da Lapa, num pedido dirigido a D. Pedro IV para enterramento dos inúmeros cadáveres dos soldados mortos durante o Cerco do Porto e das vítimas da epidemia provocada pelo cholera morbus. A inauguração formal apenas aconteceu com a sua bênção em 1838. Um ano depois, no 1.º de dezembro, foi inaugurado o primeiro cemitério público: o do Prado do Repouso, considerado por Maximina Girão Ribeiro como um museu a céu aberto. Este cemitério foi o primeiro a ser construído no Porto como consequência da publicação do Decreto de 21 de setembro de 1835 que ordenava às Câmaras que construíssem cemitérios para acabar com o costume anti-higiénico de enterrar os mortos nas igrejas. No cemitério do Prado do Repouso eram sepultados, inicialmente, os mais pobres porque os mais ricos eram enterrados no cemitério da Lapa, ou cemitérios de outras Ordens e Irmandades que, entretanto, foram construídos juntos das suas igrejas. O primeiro exemplo é o cemitério do Bonfim, atualmente propriedade da Irmandade do Santíssimo Sacramento e do Senhor e Boa Morte, que se situa junto à Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, no alto de Godim. Foi aberto em 1849/50.

Face às deficientes condições dos cemitérios privados, a CMP procurou impedir a sua utilização, mas em vão devido a importantes resistências. Uma epidemia de cólera, em 1855, criou as condições para que aqueles cemitérios fossem encerrados. Para cobrir as necessidades, a CMP viu-se obrigada a construir, nesse ano, o segundo cemitério municipal, o de Agramonte. Este cemitério ocupou os terrenos da quinta que pertenceu, no tempo do Cerco do Porto, à família Correia de Pinho. Esta quinta integrou o Campo de Agramonte de que era senhoria a Colegiada de S. Martinho de Cedofeita, aforada, em 1741, ao cidadão inglês Sansão Estart, sendo o prazo renovado, em 1767, ao Capitão José de Pinho e Sousa e a seu neto Joaquim Maurício de Sousa, negociantes da praça do Porto.

As Ordens e Irmandades reabriram mais tarde os seus cemitérios, mas acabaram, algumas delas, por negociar com a câmara a aquisição de espaços nos cemitérios municipais. Assim aconteceu com a Ordem Terceira de São Francisco, como atrás se refere, e com a Misericórdia do Porto, a Ordem do Terço e Caridade e a Confraria do Santíssimo Sacramento de Santo Ildefonso, que ocuparam terrenos no cemitério do Prado do Repouso. Apenas os cemitérios privados da Lapa e o do Bonfim se mantiveram porque possuíam boas condições para o cumprimento da sua função.

Com a expansão da cidade e o aumento da população surgiu a necessidade de instalar na cidade outros cemitérios que fossem atraentes para os portuenses, vencendo alguns credos antigos. Foram assim criados os cemitérios que ocupavam espaços próximos das igrejas paroquiais e afastados nas áreas habitadas. São exemplos os cemitérios paroquiais de Nevogilde (1840), o de Ramalde (1862), o de Campanhã (1867), o de Lordelo do Ouro (1872) e o de Paranhos (1872) e o de Aldoar (1924).

 





1 comentário:

  1. Boa noite. Excelente trabalho de informação.
    Parabéns aos autores.

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