A
União das Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde foi criada no âmbito
da reforma administrativa nacional, em 28 de Janeiro de 2013. Esta união de
freguesias ocupa uma área de 7,4 km2 e, em 2017, a sua população era
de 25.853 habitantes. O seu espaço é limitado a norte pela estrada da
Circunvalação, a oeste pelo oceano Atlântico, a sul pelo rio Douro e a este
pelas freguesias de Ramalde e da União das Freguesias de Lordelo do Ouro e
Massarelos. Sendo a formação da União recente, faz todo o sentido referi-las
independentemente, como o fazemos a seguir.
A
freguesia de Aldoar, nome de origem árabe, ficava na estrada que ligava o lugar
de Matosinhos à cidade do Porto, da qual distava uma légua. Tinha, em 1747,
quatro fontes de boa água e um pequeno ribeiro sem nome. Era uma pequena aldeia
com as suas casas distribuídas ao longo de um caminho que deu origem à rua de
Vilarinha. Aldoar teve origem
num aldeamento de pescadores que remonta a um período anterior à ocupação dos
romanos. Esta povoação situava-se a meio caminho entre o Porto e Bouças
(Matosinhos). Esta estrada passava, em boa parte, pela Rua de Vilarinha. O
espaço era atravessado por pequenos regatos que formavam a Ribeira de Aldoar
que, corria ao longo da atual Avenida da Boavista, desaguando no Atlântico
junto ao Castelo do Queijo.
A vila
de Aldoar, que pertenceu ao concelho de Bouças, dedicava-se essencialmente à
agricultura, sendo fornecedora do Porto de produtos hortícolas. A expansão da
cidade do Porto ocupou a povoação que veio a ser incluída no concelho do Porto
em 21 de novembro de 1895. Aldoar passou, então, a ser mais uma das freguesias
do Porto.
No censo
de 1864, Aldoar não tinha mais do que 553 habitantes, aumentando para 1.056 em
1900. No censo de 2011 a população de Aldoar atingiu os 12.843 habitantes.
São
João da Foz do Douro era uma das 15 freguesias do Porto abrangendo o extremo
noroeste da cidade, na margem direita do rio Douro junto à sua foz. É limitada
pela freguesia de Lordelo a leste, Aldoar e Nevogilde a norte, banhada pelo rio
a sul e beijando o mar a oeste. A separação entre Nevogilde e a Foz dá-se numa
depressão do terreno, perpendicular ao mar, por onde corria um regato que
assumiu o nome do lugar de Ervilha. Esta linha de água quase acabou por
desaparecer com a urbanização da área.
A Foz do
Douro, muitas vezes denominada por Foz Velha, é um aglomerado antigo que se
formou durante o Paleolítico junto à barra do rio Douro. Seria uma vila de
pescadores com pouca importância. A partir do século XVI, com o recrudescer da
pirataria internacional, passou também a ser uma importante praça militar,
tendo sido construída uma fortaleza para proteger a entrada do rio Douro. A
partir do primeiro quartel do século XIX a Foz do Douro passou a ser a estância
balnear do Porto. A divisão administrativa promovida nos anos de 1833 e 1834
criou os concelhos do Porto, de Campanhã e de São João Baptista da Foz do Douro,
passando este último a ter Câmara própria. Teve vida curta o concelho pois, em
1836, foi integrado, como freguesia, no concelho do Porto por decreto de 26 de
novembro,
como aconteceu com as freguesias do Ouro e Campanhã e mais tarde à de Paranhos.
Com a chegada de veraneantes durante o
século XIX, a vila desenvolveu-se ao longo da linha do mar com a fixação de
muitas famílias que vinham da cidade do Porto. Em 1895, por decreto de 21 de novembro,
juntaram-se à cidade do Porto as freguesias de Nevogilde, Aldoar e Ramalde,
antes pertencentes ao concelho de Bouças.
A
Foz do Douro terá sido, durante muitos anos, o povoado mais importante nas
proximidades do Porto. Há muito que recebia os habitantes do Porto que vinham,
no verão, gozar a praia, o mar e a amenidade do clima. Reconhece-se a lenta expansão do lugar
ao comparar os números do recenseamento de 1527, 286 fogos, com 1.287
habitantes, com o de 1864, 2.904 habitantes, enquanto o Porto (Freguesias da Sé,
S. Nicolau e Vitória, e os arrabaldes Santo Ildefonso, Miragaia, Massarelos,
Cordoaria, Gaia, Vila Nova e Meijoeira, lugarejo na serra do Pilar) tinha 3.006
fogos com 13.527 almas.
Naquele período o crescimento da Foz apenas duplicou o número de habitantes,
enquanto o do Porto, incluindo a Foz, sextuplicou. Todavia, das freguesias
periféricas era, em 1900, a de maior densidade populacional, com 37,9
habitantes por hectare. O crescimento do Porto e da Foz fez com que se viessem a
ligar, permitindo que famílias abastadas construíssem as suas moradias junto da
praia e aí passassem a viver. No recenseamento de 1864, pertencem à Foz 2.904
habitantes e ao Porto 86.750 habitantes. No primeiro numeramento regular
ordenado pelo Bispo D. Rodrigo da Cunha, em 1623, a Foz tinha 1.571 habitantes.
Em 1732, esse número subiu para 1.809 habitantes, mas não contava com as
crianças com menos de sete anos que podiam representar 20% da totalidade.
A antiga
povoação de Nevogilde, a Foz Nova, que pertenceu, assim como Aldoar e Ramalde,
ao concelho de Bouças (Matosinhos, a partir de 1909) até 21 de novembro de
1895, data em que aquelas três freguesias foram integradas no concelho do
Porto. Foi esta integração que levou à construção da Estrada da Circunvalação. Esta
freguesia confinava, a ocidente, com o oceano Atlântico, estendendo-se a sua
praia desde Matosinhos até ao limite norte da Foz do Douro. Naquela praia
aportavam pequenos barcos nos sítios de Salgueiras, a norte, e de Carreiro na
parte sul da praia. A norte, Nevogilde é limitada pela Estrada da
Circunvalação, encostando-se a Matosinhos; a oriente e a sul era limitada,
respetivamente, pelas antigas freguesias de Aldoar e da Foz do Douro. A vocação
e o desenvolvimento de Nevogilde são semelhantes ao de Aldoar, apenas ganhando
algum adianto pelo fato de atrair muitos veraneantes para a sua marginal e
praia. Como Nevogilde não deixa de ser uma extensão da Foz do Douro, a união
das três freguesias foi uma consequência lógica. Só falta saber que nome se
atribuirá à grande freguesia resultante da reunião.
No censo
de 1864, Nevogilde era uma pequena povoação com 182 habitantes, aumentando para
1.149 em 1900. No censo de 2011 a população de Nevogilde atingiu os 5.018
habitantes.
As
marginais à foz do Rio Douro e ao Oceano Atlântico, que estão repartidas entre
as antigas freguesias da Foz do Douro e Nevogilde, são ocupadas por belos
jardins e largos passeios que convidam os portuenses a suaves passeios. O
Jardim do Passeio Alegre foi construído nos finais do século XIX e contempla a
despedida do Douro ao ser recebido pelo Oceano Atlântico. Aos seus belos
canteiros juntaram-se relevantes elementos arquitetónicos, alguns vindos da
cidade como os dois Obeliscos de Nasoni que vieram da Quinta da Prelada e o
Chafariz que enriqueceu os Claustros do Convento de São Francisco. Destacam-se
ainda o coreto, o campo de minigolfe e um Chalet Romântico de 1874. Contornando
o Forte de São João Baptista, uma construção do século XVI, e seguindo, depois
da foz do Douro, a costa Atlântica ao longo da Avenida do Brasil, deparam-se
esplanadas junto ao mar, jardins e alguns monumento como as estátuas dedicadas
aos homens do mar, a Pérgula, terminando no Forte de São Francisco Xavier,
popularmente conhecido como Castelo do Queijo.
Nevogilde
e Aldoar têm algo em comum: O Parque da Cidade, que, com 83 hectares de área se
estende entre a Avenida da Boavista e a Estrada da Circunvalação, até ao Oceano
Atlântico. Inaugurado em 2003, o Parque da cidade encanta quem o visita com as
suas matas, lagos, e com a sua abundante fauna. Permite o descanso e a
atividade física dos tripeiros, e não só, para além de visitas ao Sea Life
Center e ao Pavilhão da Água. Ali se localiza o Queimódromo, bem conhecido pela
academia portuense que o frequenta animadamente nas Noites da Queima das Fitas.
O núcleo Rural de Aldoar, inaugurado em 2002, foi incorporado no Parque da
Cidade. É composto por quatro quintas onde se desenvolvem atividades no âmbito
da Educação Ambiental, onde se pode integrar a atividade da agricultura
biológica.
A
orografia das freguesia da Foz do Douro, como as de Nevogilde e de Aldoar, não
é propícia à formação de cursos de água com expressão significativa. A ocupação
do espaço pelo homem, sobretudo a partir do início do século vinte fez com que
as poucas linhas de água se escondessem, não pela vergonha da sua pequenez, mas
porque sobre elas pouco respeito havia.
Em
Aldoar corriam dois ribeiros, dos quais o maior corria paralelo à Rua da
Vilarinha até à atual avenida da Boavista, descendo daí até ao mar, onde está o
Castelo do Queijo. O outro, o do Vilão, corria em terrenos pantanosos que se
estendiam até à Fonte da Moura. A Ribeira de Aldoar ou o Pequeno Regato do
Queijo, assim designado no passado, passava num pequeno vale sobre o qual foi
construído o último terço da Avenida da Boavista. O percurso principal da
ribeira tem início, já canalizado, junto ao Campo do Inatel[1],[2], atravessa a rua Dr.
Vasco Valente e segue pela avenida Dr. Antunes Guimarães, cruza e desce a
avenida da Boavista, parte do qual a céu aberto no troço próximo da Fundação de
Dr. António Cupertino de Miranda e em frente da Praça do Prof. Egas Moniz. Após um troço canalizada,
volta a correr a céu aberto em frente à rua António Aroso até atravessar
novamente a Avenida, agora canalizada, e entrando no Parque da Cidade recebe um
seu afluente produto da reunião de outros dois ribeiros: um com duas nascentes
independentes, uma na rua do Lidador e a outra no Bairro de Aldoar; o segundo
também tem duas nascentes independentes, uma na rua de Angola, no Bairro da
Fonte da Moura, e a outra próxima da rua do Jornal de Notícias junto ao Hospital
Magalhães de Lemos. Este curso de água chamar-se-ia de Rio Vilão. A água com
origem naquelas quatro nascentes forma, no cruzamento da Rua da Vilarinha com a
rua do Parque, o afluente que se junta à Ribeira de Aldoar dento do Parque da
Cidade, no lado sudoeste. Do percurso total do afluente, apenas o troço que
atravessa o Bairro de Aldoar (212 metros) se encontra a céu aberto. Devido à má
qualidade da sua água, a Ribeira de Aldoar, dento do Parque da Cidade, segue
para a sua foz no Atlântico a norte do Forte de São Xavier (Castelo do Queijo) totalmente
entubado. Infelizmente, esta situação acontece em cerca de 93% do seu percurso
de 8,5 quilómetros (4,3 quilómetros, segundo Hernâni Neves, 2009).
Figura 3 – A exuberância da vegetação sinaliza a passagem do ribeiro do
Vilão, que já foi apelidado de rio.
Segundo
o jornal Público de 14 de junho de 2017 (pág. 16 da edição do Porto), a ribeira
de Aldoar vai correr a céu aberto num troço de 760 m na Avenida da Boavista. O
projeto, cuja empreitada, da responsabilidade das Águas do Porto, será
concretizada em 2018, incluirá dois tanques nos pontos onde a ribeira surgirá à
superfície e onde desaparecerá. A mesma notícia se mantém no Portal de Notícias
da CMP, em https://goo.gl/iv4Qtu consultado em 26/8/2018.
Reis,
2002, em amostras recolhidas na sua passagem pela avenida da Boavista, a cerca
de 1.600 m da sua foz, determinou a sua carga orgânica, tendo obtido o valor
médio de 0,42 ton/dia. Embora poluída, a água da ribeira de Aldoar é,
relativamente às linhas de água da cidade do Porto, das que apresenta valores
da CQO mais baixos. Os coliformes são abundantes (entre 105 e 106
UFC/100 mL em amostras recolhidas na sua foz) na pouca água que o ribeiro leva
em média (julho a novembro de 2001)[3], cerca de 300 metros
cúbicos por hora.
Figura 4 – Trecho a descoberto da Ribeira de Aldoar no lado sul da
Avenida da Boavista, em frente à Rua António Aroso.
A
Fonte de Passos, com nascente
privativa, servia água com qualidade muito má. De acordo com a descrição de J.
Bahia Júnior, esta fonte situava-se no meio de um campo do Lugar dos Passos, na
estrada da Fonte da Moura, perpendicular à Avenida da Boavista, próxima de uma
Fabrica de Botões já desaparecida. A água nascida na mina aberta no granito acedia
a um tanque quadrangular saindo para o exterior através de uma bica que
regulava o nível de água. As suas vertentes alimentam os tanques e lavadores
laterais. Por cima da porta estava gravada a data da sua reforma, 1906. Pelas análises microbiológicas
realizadas entre 1904 e 1907, a água da Fonte dos Passos era de má qualidade.
Figura 5 - Fonte de Passos.
Fonte: J. Bahia Júnior, 1908, pág. 92)
A Fonte da Moura, descrita por J. Bahia
Júnior, 1909, estava situada na rua da Vilarinha, à esquerda de quem vinha da
Estrada da Fonte da Moura. A nascente desta fonte estava a pouca distância,
ressentiu-se da pouca água que tinha, o que a levou a desaparecer por volta de
1915. Apenas tinha uma bica que deitava a água para um pequeno tanque. As suas
vertentes alimentava os tanques e lavadouros. Sob o ponto de vista
microbiológico, os resultados apresentados por J. Bahia Júnior revelam uma água
com qualidade aceitável para a época.
O nome
desta fonte está associado a uma lenda contada por Joel Cleto[4] que assim se resume: no tempo em que
os mouros e cristãos conviviam na área do Porto uma antiga fonte, que recebia a
água do interior de uma fenda rochosa muito estreita e inacessível, secou. Esta
fonte guardava um segredo: nas entranhas da nascente tinha-se enclausurado uma
jovem e bela moura, que tinha conseguido penetrar na mina, feito nunca mais
conseguido por ninguém. A jovem procurou refúgio naquele lugar fugindo à ira do
seu pai que descobriu e não aceitou a paixão que tinha nascido entre ela e um
garboso jovem cristão. Apesar de viverem em paz, as duas comunidades não
aceitavam a paixão e o casamento entre cristãos e mouros.
Encerrada
em sua casa, a jovem foi proibida de se encontrar com o seu amado que corria o
risco de morte se fosse avistado pelo pai da moura nas redondezas. Como
conhecia a mina da fonte, e sabendo-se capaz de penetrar no seu interior, a
jovem conseguiu fugir e nela se refugiar. Ali escondida, água não lhe faltava e
a comida era-lhe servida por poucas pessoas amigas que souberam da sua
localização pelos chamamentos que ela lhe dirigia e que juraram não revelar o
seu segredo.
Ao fim
de alguns dias, depois de intensas buscas, a família e o jovem cristão amado
deixaram de a procurar. Passaram alguns anos e a moura foi recusando os
constantes apelos para que saísse do seu esconderijo e revelasse a identidade
do seu grande amor. Preferia morrer a revelar o seu segredo. E tal aconteceu no
dia em que a fonte secou. Da mina, apenas se passou a ouvir o gotejar das
lágrimas da infeliz moura que morreu no interior da fonte por amor.
Santos
et al, 2017[5]: 348, referem a Fonte de Aldoar, localizada na Rua da Vilarinha, que aproveita a
águas da Ribeira de Aldoar e matava a sede a pessoas e animais. Para o efeito,
essa fonte tem uma configuração semelhante, mas de dimensões mais reduzidas, às
fontes de Hulsenbos e da Rua do Souto. Para além da taça para serventia dos
animais de menor porte e da peanha para colocação dos cântaros, este fonte tem
argolas para amarração de animais que terão sido cravadas aquando da
beneficiação da fonte concretizada, segundo inscrição aí existente, pela Câmara
Municipal do Porto em 1910. Esta fonte terá sido removida, em 2018, durante as
obras de renovação da Rua da Vilarinha.
A
Fonte do Revilão começou por ser um
charco descrito por J. Bahia Júnior que o classificava como tendo péssimas
condições, com muita lama. A sua água, de mina própria, era, em 1908, de
péssima qualidade, com o título coli - bacilar de 0,1 mL. Esta fonte, colocado ao lado do caminho de Revilão, nome
com origem em Rio Vilão que passava em terrenos por detrás da Rua do Lidador. A
urbanização do local fez desaparecer os seus vestígios. Terá sido substituído
por um fontanário que, em 1956, foi substituído por uma nova Fonte do Revilão
que se localizava na rua do Jornal de Notícias. Esta fonte foi construída
segundo um desenho um desenho da escultora Lídia Vieira. Esta fonte, enquadrada por um pequeno jardim
com dois bancos em granito, encontra-se a um nível inferior ao da rua, sendo
acessível por uma pequena escada. A bica da fonte encontra-se no interior de
uma caixa sem tampa feita com placas de granito.
Muito
próximo da Fonte da Moura, junto à Igreja de Vilarinho, encontrava-se a Fonte de Costibela, classificada por J.
Bahia Júnior como charco desprotegido para o qual se descia por uma escada. Esta fonte, situada
na Travessa de Costibela, tinha nascente privativa que a abastecia com água de
muito má qualidade. Uma base metálica pode servir para apoio de cântaros ou
recipientes semelhantes para recolher a água.
À semelhança de Aldoar, a orografia da Foz do
Douro não é muito favorável à existência de rios. ribeiros. Com alguma expressão no
passado a Ribeira da Ervilha, da Ervilheira ou de Gondarém
é praticamente o único curso de água a registar. Ela nascia no lugar da Ervilha
e serpenteava por uma depressão de terreno até que se encontrava com o mar na
Praia de Gondarém. Esta ribeira, quando corria a céu aberto, formava uma linha
que separava as freguesias da Foz e Nevogilde. A partir do princípio do século
XX uma boa parte do regato foi engolida pelo desenvolvimento urbano daquela
zona. Atualmente a Ribeira da Ervilheira desenvolve-se ao longo da depressão que
existia entre a Avenida Marechal Gomes da Costa e a Rua do Crasto no sentido
Nascente/Poente3. Nos nossos dias esta ribeira inicia-se perto da
Rua Afonso Baldaia[6], freguesia de Nevogilde,
na zona do
campo de jogos do Foz F. C., correndo, na fase inicial a céu aberto, num leito
bastante obstruído por vegetação e outros materiais, isto é, lixo. Após o campo do Foz, a
ribeira foi encanada em cerca de 50 m para abrir a rua Maria Borges. A partir
desta rua o ribeiro desenvolve-se a céu aberto até à caixa de entrada do
percurso canalizado, junto ao muro de uma vivenda com entrada pela Rua do Ribeirinho. A
linha de água canalizada segue, ou atravessa, pelas ruas do Ribeirinho, Corte
Real, Dr. Sousa Rosa, Marechal Saldanha, Gondarém e Avenida do Brasil, até à
Praia de Gondarém onde desagua no Oceano Atlântico ao longo dum aqueduto localizado
em frente ao prédio da Av. do Brasil com o número 388.
Nos
últimos anos, o seu traçado natural, atualmente com cerca de 1 km (bacia
hidrográfica de 0,203 km2), foi reduzido em mais de 30%, e quase 70%
do seu trajeto atual está entubado. O caudal da ribeira está bastante condicionado
pelo cair, ou não, de chuva, e da impermeabilização que vai crescendo com a
construção de novas ruas e edifícios. Na caracterização físico-química
realizada, em 2007, por Nívea Vieira2 verifica-se que as concentrações
de nitratos, nitritos e azoto amoniacal aumentam substancialmente da nascente
para a foz. Este é um sinal claro da contaminação da água da ribeira com
esgotos domésticos. O mesmo se verifica pelo equivalente aumento da
concentração de coliformes fecais, com valores na foz da ribeira da ordem dos
3,5x105.
Como
acontecia nas freguesias do centro do Porto, a habitação na Foz do Douro,
sobretudo na Foz Velha, era de muito má qualidade, com pouca ou nenhuma
ventilação, cheias de humidade e com pouca luz. Os seus maiores inconvenientes,
como as do centro do Porto, eram as fossas e latrinas rudimentares desprovidas
de sifão e água, infestavam as casas com maus cheiros. Como o saneamento era praticamente
inexistente e se acumulavam resíduos de toda a ordem nos terrenos, a elevada permeabilidade
do solo permitia a passagem quase direta da água cinzenta ou negra para a
toalha de água subterrânea que se encontrava a uma profundidade da ordem dos oito metros, facilitando a
sua contaminação e
inquinando a água dos poços. Acrescente-se ainda que, em 1900, pelo subsolo contaminado passavam
muitos tubos que conduziam a água para consumo humano que, naturalmente, corriam
o risco de contaminação através das juntas. Enfim, como no centro do Porto, as
condições sanitárias na Foz do Douro eram muito más.
Para
remediar a falta de qualidade da água dos poços e fontes, a Foz passou, np
início do século XX, a abastecer-se também com água do rio Sousa, ou seja, “da Companhia”.
Segundo Champalimaud, 1901[7], na Foz, como no Porto, teimava-se em
não consumir a água da companhia. O Porto recebia diariamente, então,
3.000 metros cúbicos por dia no inverno e 4.500 metros cúbicos por dia no
verão, pertencendo à Foz e Carreiros, nas mesmas estações, 300 e 400 metros
cúbicos. Da água da companhia recebida, o município do Porto gastava 1.300
metros cúbicos no centro da cidade e 120 metros cúbicos na Foz, neste caso para
regar a estrada marginal e o jardim do Passeio Alegre. Na Foz o consumo doméstico
atingia uma média diária de 240 metros cúbicos, aproximadamente 44 litros por
habitante por dia. Na realidade, apenas 250 dos 1.440 fogos tinham assinatura
com a companhia, e algumas apenas a usavam durante dois meses do verão. Champalimaud,
1901, admitia assim que apenas 10% da população usava água da companhia. Por exemplo, nos três fontanários instalados,
em 1900, na Cantareira, no Passeio Alegre e no Mercado, abastecidos com água da
companhia, apenas os pescadores os usavam para lavar as redes, e os garotos
para se divertirem (Champalimaud, 1901), tanta era a desconfiança sobre aquela
água. Como resposta, o povo, com receio que encerrassem as fontes antigas,
ameaçou destruir os marcos se tal acontecesse.
Baseado
exclusivamente na análise química, Ferreira da Silva[8] sugeriu que a água
das fontes da Foz, exceto as
de Nossa Senhora da Luz, da Areia e do Molhe de Carreiros, “são boas ou perfeitamente potáveis, e seria
contra-senso desaproveitá-las” (ver quadro 1). Não concordando com Ferreira
da Silva, Champalimaud3 afirmava, tendo por base os exames bacteriológicos disponíveis, que a água das
fontes do Burgal, do Passeio Alegre e de Cadouços, abastecidas por mananciais
distantes ou nas proximidades de habitações, “devia ter sido condenada”3 (ver quadro 2). As fontes com
origem na nascente da Ervilha, cujo manancial praticamente deixou de produzir
água poucos anos depois, a do Adro e
do Burgal e suas derivadas, tinham
qualidade aceitável porque os pontos de origem encontravam-se afastadas das
casas habitadas e nasciam em zonas profundas. No nº 4, ano V, de agosto de
1949, na página 92/93, de O Tripeiro refere-se uma notícia de 20/21 de agosto
de 1889 na qual se informa que foram inauguradas as fontes do Monte Castro, Gondarém, Cadouços e Carreiros, todas abastecidas pelo manancial
da Ervilha. O vital fluido era transportado desta nascente aos pontos de uso em
tubos de ferro. Infelizmente, esta nascente deixou de o fazer por falta de água,
passando algumas destas fontes a ser abastecidas com água da companhia. Tendo
Champalimaud caracterizado microbiologicamente a água das fontes da Foz, ele
concluiu que só podia ser tolerada a das Fontes
do Adro e da Cantareira, embora
ignorando a presença de coliformes. Champalimaud apresenta as análises química
e bacteriológica realizadas em amostras de água da companhia cujos resultados
se apresentam nos quadros 2 e 3
Quadro 1 – Resultados das
análises químicas efetuadas das águas das fontes da Foz (amostras recolhidas em
12 de novembro de 1900). Fonte: Ferreira da Silva, Gazeta Medica do Porto,
1901, junho, pág. 290 (287)
Amostra
|
Dureza , mg/L CaCO3
|
Cloretos, mg/L NaCl
|
Azoto, mg/L N
|
Origem e classificação
|
||
Total
|
Permanente
|
Nítrico
|
Amoniacal
|
|||
F. da
Dala ou Adro
|
25
|
22,5
|
46,8
|
0,15
|
0,16
|
Ervilha I, muito pura
|
Marco
do Marechal Saldanha
|
40
|
35
|
70,2
|
0,10
|
0,24
|
Ervilha II, potáveis
|
Marco
da Praia dos Ingleses
|
42,5
|
35
|
70,2
|
Vest.
|
0,21
|
|
F. do
Gondarém
|
45
|
35
|
58,5
|
0,21
|
0.16
|
|
F. do Rio
de Cima
|
80
|
80
|
135,5
|
3,11
|
0,21
|
Mina do Burgal III, potáveis
|
F. do
Rio das Bicas
|
80
|
65
|
140,4
|
4,87
|
0,21
|
|
Chafariz
do Passeio Alegre
|
75
|
75
|
140,4
|
4,87
|
0,21
|
|
F. da
Cantareira
|
87,5
|
7,5
|
152,1
|
3,32
|
0,24
|
IV Potável regular
|
F. da
Senhora da Luz
|
115
|
97,5
|
152,1
|
8,04
|
0,16
|
V, suspeitas
|
F. da
Areia
|
125
|
115
|
222,3
|
7,26
|
0,16
|
|
F. do
Molhe de Carreiros
|
155
|
105
|
198,9
|
4,19
|
0,16
|
Quadro 2 – Resultados das
análises químicas efetuadas à água da companhia pelo Laboratório
Amostra
|
Data
|
Dureza total, mg/L CaCO3
|
Cloretos, mg/L NaCl
|
Azoto, mg/L N
|
Resíduo seco a 110 ºC, mg/L
|
|
Nítrico
|
Amoniacal
|
|||||
Rua
Central
|
Nov/1900
|
21,9
|
-
|
Vest.
|
Nulo
|
-
|
Passeio
Alegre
|
Mai/1901
|
10
|
23,4
|
Vest.
|
Nulo
|
50
|
Quadro 3 – Resultados das
análises bacteriológicas efetuadas à água da companhia pelo Laboratório
Amostra
|
Data
|
Bactérias
|
Bolores
|
Coli
|
Reservatório
dos Congregados
|
28/3/1899
|
-
|
-
|
Muito virulento
|
Torneira
do próprio laboratório
|
10/3/1900
|
237
|
78
|
Pouco virulento
|
7/6/1900
|
53
|
-
|
||
18/10/1900
|
37
|
37
|
||
21/12/1900
|
-
|
9
|
Champalimaud
analisou no mesmo ano amostras de água recolhidas em dez poços da Foz. Todas
elas revelaram águas muito duras (dureza total entre 32 e 69 graus franceses),
ricas em nitratos, ultrapassando de longe o limite atual estabelecido para água
potável, muito mineralizada (548 a 1658 mg/L de sólidos totais), na qual cerca
de 40 % corresponde a sólidos voláteis. A água de um poço da Rua Senhora da Luz
era tão má que Champalimaud não encontrou ninguém capaz de a provar.
Bacteriologicamente as amostras correspondiam a água de muito má qualidade. Os resultados
mostram que a água dos poços examinados estava fortemente contaminada,
provavelmente com esgoto doméstico, provando o que escreveu Ricardo Jorge sobre
a influência das fossas nas águas freáticas: “No Porto é o poço, em regra, furado na imediação da latrina; fazem, às
vezes, paredes meias. Deste maléfico consórcio resulta uma porquíssima
inversão; ás duas por três, o poço é um apêndice da fossa, e a agua é a da
latrina. O freguês deste poço - cloaca bebe o que urina e urina o que bebe:
urina, etc., já se vê. Os filtros mitológicos de Canidia e Circe[9] não eram nem mais malfeitores nem mais porcos”.
Quadro
4 –
Resultados das análises bacteriológicas efetuadas à água das fontes da Foz
Amostra
|
Data
|
Bactérias por cm3
|
Fungos por cm3
|
Coli
|
F. da
Dala ou Adro
|
12/10/1900
|
250
|
50
|
Sim
|
Nascente
da Ervilha
|
25/9/1900
|
1.950
|
150
|
|
Ervilha
– Marco fontenário de Cadouços
|
25/9/1900
|
2.700
|
800
|
|
F. do
Passeio Alegre
|
4/10/1900
|
1.800
|
125
|
|
F. da
Cantareira
|
4/10/1900
|
300
|
500
|
|
F. da
Senhora da Luz
|
17/9/1900
|
375
|
100
|
Quadro
5 –
Resultados das análises químicas efetuadas à água de alguns poços da Foz
Amostra
|
Data
|
Dureza total, mg/L CaCO3
|
Cloretos, mg/L NaCl
|
Azoto, mg/L N
|
Resíduo seco, mg/L
|
|||
a 110 ºC
|
Calcinado
|
|||||||
Nítrico
|
Amoniacal
|
|||||||
Passeio
Alegre
|
jan/1901
|
470
|
468,0
|
74,1
|
0,25
|
1610,4
|
613,6
|
|
R. das
Mottas
|
jan/1901
|
300
|
409,5
|
9,8
|
0,25
|
808,0
|
395,6
|
|
R. da
Florida – Ilha
|
mar/1901
|
470
|
386,1
|
39,1
|
0,33
|
548,0
|
189,6
|
|
R. do
Tunnel
|
mar/1901
|
750
|
468,0
|
33,4
|
0,74
|
830,8
|
452,8
|
|
R.
Central
|
mai/1901
|
470
|
399,8
|
43,2
|
0,08
|
942,0
|
455,6
|
|
R.
Central
|
mai/1901
|
320
|
313,9
|
25,2
|
0,25
|
860,8
|
180,0
|
|
Esplanada
do Castelo
|
jun/1901
|
330
|
444,6
|
52,7
|
0,04
|
1200,4
|
589,6
|
|
R.
Central
|
jun/1901
|
690
|
491,4
|
39,1
|
0,04
|
1433,6
|
617,2
|
|
R.
Senhora da Luz
|
jun/1901
|
410
|
1029,9
|
12,0
|
98,82
|
1658,4
|
506,0
|
|
R.
Senhora da Luz
|
jun/1901
|
410
|
491,4
|
49,2
|
8,23
|
640,0
|
314,0
|
O
Manancial do Burgal era a massa de água doce mais importante da Foz do Douro, que
apenas pode ser aproveitado para abastecimento público quando, em 19 de
dezembro de 1844, a Câmara Municipal do Porto assinou um contrato com a
proprietária do terreno do Burgal ou Bragal para a cedência de todas as águas
que houvesse no Campo do Lameiro. O manancial tinha a entrada para a sua mina,
em 1909, na Travessa da Conceição, próxima da atual Rua de Burgães de Baixo e
da Capela de Nossa Senhora da Conceição. Esta mina abastecia diretamente a fonte
do Rio de Cima ou do Burgal, a do Rio das Bicas e o Chafariz do Passeio Alegre.
A
Fonte do Rio de Cima ou do Burgal,
terá sido concluída antes da resolução tomada pela Câmara Municipal para lhe
assegurar o Manancial do Burgal que a passou a abastecer diretamente a partir
da primeira mina. Souza Reys chama-lhe apenas fonte de Cima e localizava-o no “lugar do Carvalho nas proximidades da
Capelinha de Nossa Senhora da Conceição, na estrada que vem da Foz para Lordelo
e Cidade”. Segundo J. Bahia Júnior, a fonte encontrava-se num recinto muito
porco, onde abundavam os “bolos fecais”. Pela má qualidade da água do manancial
e pela contaminação que recebia no seu percurso, a água apresentava má
qualidade bacteriológica. Uma boa parte da água vinda dessa mina, já depois do
abastecimento à Fonte do Rio de Cima, reunia-se com uma outra que nascia numa
segunda mina formando um charco, a partir da qual seguia um cano de ferro até
ao Largo da Feira em S.
João da Foz onde, naquele tempo, se fazia uma feira ou mercado diário, um pouco
abaixo da Capela de Nossa Senhora da Conceição (J. Bahia
Júnior, 1909, H.
Marçal, 1968, Velasques, 2001). Esta conduta servia a Fonte do Rio da Bica, perto do Largo do Rio da Bica. “com duas bicas e tanque, cujas vertentes
alimentavam os lavadouros” (J. Bahia Júnior, 1909). Esta fonte foi recuperada pela CMP em 1946. A
montante da Fonte do Rio da Bica
existe agora uma Nova Fonte do Rio da
Bica para onde foi desviada a água que abastecia a primeira. Análises
bacteriológicas realizadas, em 1902-07, pelo Laboratório Bacteriológico do
Porto mostraram que a água das duas fontes era de má qualidade. A água sobrante
seguia canalizada pela rua dos Motas até à esquina, atravessava o jardim em
cano de ferro e continuava em tubo de chumbo até ao Chafariz do Passeio Alegre, que pertenceu ao Convento de São
Francisco, referido em capítulo anterior. Este chafariz recebia água de má
qualidade bacteriológica.
Figura 10 - Fonte do Rio de
Cima ou Fonte do Burgal e entrada M. da mina do Manancial do Burgal. Origem: J.
Bahia Júnior, 1909: pp 94.
Figura 11 — Fonte do Rio da Bica, com o seu
tanque e lavadouros. À direita da figura, junto dumas escadas, um individuo
indica a rua estreita por onde segue a canalização em ferro, deste ponto até ao
Manancial. Origem: J. Bahia Júnior, 1909: pp 95.
Figura 12 – A Fonte do Rio da
Bica nos nossos dias
Figura 14 - Manancial do Burgal – Trajeto da
canalização. Fonte: cópia de uma planta existente na CMP, reproduzida por J.
Bahia Júnior, 1909, pág. 99.
A Fonte da Cantareira, cuja construção se
concluiu em 1851, recebia água de uma mina situada num pinhal a 60 metros da
estrada marginal. A
água seguia da mina para a fonte em cano de ferro. Localizada na rua do Passeio Alegre, é uma fonte espaçosa,
de soberba e abundante água segundo Souza Reys, com três bicas, em que cada uma
delas lançava a sua água em três tanques. É composta por um corpo central com
um tanque recortado, ladeado por dois painéis retangulares com tanques ovalados
(Santos et al., 2015[10]). As vertentes
deste tanque seguiam para outro situado na rampa do cais, “a fim de prestar a quem para lavagens se aproveita delas” (Souza
Reys). A qualidade da sua água era, em 1904-1907, bacteriologicamente má. A Fonte
da Senhora da Luz (J. Bahia Júnior Fig. n.° 184), brotava no próprio local para uma arca
retangular escavada no xisto numa depressão rodeada por casas e fossas que geravam
suspeitas da sua má qualidade. As
duas bicas estavam cravadas na parede da própria arca. No interior da arca,
segundo J. Bahia Júnior, viam-se vestígios das infiltrações que contribuíam
para a sua má qualidade bacteriológica. A água da Fonte da Areia, de má qualidade bacteriológica, apenas era usada
nos seus lavadouros. Esta fonte situava-se, também, na rua da Senhora da Luz
quando se seguia em direção à atual Avenida do Brasil. Nesse percurso
encontrava-se um largo no qual existia no centro um marco fontenário. A Fonte
da Areia apenas tinha uma bica e um pequeno tanque. As suas vertentes
alimentavam um tanque maior com lavadouros. A água da Fonte do Molhe dos Carreiros, que nascia a 60 metros da fonte e
para ela era encaminhada em tubo de ferro, era de má qualidade bacteriológica. Estava situada no
início da rua do Molhe e estruturalmente era muito semelhante à Fonte da Areia.
Tanto Marçal,
1968, como Velasques, 2001, sinalizam
a Fonte do Matadouro Velho,
localizada na Praia dos Ingleses. Todavia, nada adiantam sobre a sua história
e, muito menos, sobre a qualidade da sua água.
Figura
16 – Tanques que recebem as vertentes da
Fonte da Cantareira, de útil serventia para os pescadores lavarem as suas
redes.
Figura
17 – Fonte da Senhora da Luz. N., Entrada
para a arca Snr. Joaquim de Carvalho. C, Caminho ao lado da mina M. da nascente
desta fonte. (J. Bahia Júnior, 1909, pág. 97).
A
Fonte do Adro, ou da Igreja, ou dos Frades de São Bento, ou de Santa
Bêda, que foi transladada e reconstruída,
como o mostra a inscrição existente, em 1889, situa-se no cimo da Rua do Sacramento,
nas traseiras da Igreja de São João da Foz e era abastecida com água da Mina do
Andressen. Esta fonte pertencia aos Monges Beneditinos de Santo Tirso, Senhores
do Couto da Foz do Douro. Sabe-se que esta fonte já existia em 1836 quando a Foz do
Douro foi integrada no concelho do Porto. O povo servido por esta fonte
reclamou à CMP, em 1836, a total falta de água porque a ela foi desviada pelo
pároco para seu uso exclusivo. As queixas repetiram-se mais tarde, em 1844,
obrigando a Câmara a intervir novamente, para a qual pediu o apoio do Governo
Civil. Segundo Sousa Reys, a água, que vinha de mina própria e chegava à fonte
por canalização em ferro, era muito boa. Opinião contrária tinha J. Bahia
Júnior, 1909, que a considerava de má qualidade, baseado nos resultados das
análises bacteriológicas realizadas entre 1904 e 1907. Admite-se que o
aqueduto da Foz do Douro, na rua do Monte Belo, próximo da rua do Padre Luís
Cabral, serviria para levar a água à residência dos Padres de Santo Tirso.
Deste aqueduto, datado do séc. XVIII, resta um lanço reconstruído próximo da
Praça do Império. Este aqueduto sofreu obras de restauração em 2001.
Figura
18 - Fonte dos Frades de São de São Bento.
Por cima vê-se a data 1889, ano da sua reconstrução neste local. Origem: J.
Bahia Júnior, 1909: pp 96.
Em
frente da Junta de Freguesia da Foz, na Rua de Corte Real, antiga Rua da
Ervilha, encontramos um espaço público cuja entrada ostenta um arco em pedra
com a seguinte legenda: Lavadouro da
Ervilha. Para além dos lavadouros
cobertos, realça-se a Fonte da Ervilha,
Constituída por um pequeno tanque onde assenta o espaldar no qual se destaca um
fundo de belos azulejos e, ao centro, a bica da fonte. As traseiras do espaldar
servem de encosto de um banco em pedra. Nas costas do espaldar está inscrito:
Fonte da Ervilha – CMP – ÁGUAS – 1943. A
data inscrita corresponde ao ano da sua instalação, embora Uma boa parte da
atual fonte, lajeado e tanque, tenha sido construída em com pedras mais antigas
de origem desconhecida, eventualmente de uma fonte que terá existido mais
próximo do monte da Ervilha. J. Bahia Júnior refere o Marco fontanário (e
chafariz) do Mercado que, pelas
análises microbiológicas realizadas entre 1904 e 1907, era abastecido com água
de má qualidade.
A Fonte de Cadouços, mais tarde Fonte da Luz, que deu o seu nome, no
final do século XIX, a uma rua e a um Largo onde esteve instalada, localizado próximo
da rua da Senhora da Luz (Foz do Douro). A construção desta fonte é anterior a
1859, data do desenho da figura 19. Tinha água excelente e abundante, e ficava
num fundo acessível por escadas. Naquele Largo, atual Largo do Capitão Pinheiro
Torres Meireles, ficava a estação de Cadouços onde terminava a linha do
“Americano”, antecessor do carro elétrico. Nesta estação eram abastecidos de água
as máquinas dos comboios que substituíram os americanos puxados por cavalos a
partir da Avenida da Boavista até Matosinhos.
Legenda:
1. Campos da Ervilha
2. Actual Mercado da Foz (inaugurado em 15 Janeiro
de 1954)
3. Sete Casas
4. Estação de Cadouços
5. Antigo Restaurante da Estação de Cadouços
6. Atual Esquadra da Polícia
7. Ponte da Rua da Fonte da Luz
8. Arruamento desaparecido
9. Rua do Túnel
10. Ponte Rua da Agra
11. Antigo Farol de Nossa Senhora da Luz
Fonte da Areia ou da Praia não abastece água para beber e
apenas serve um lavadouro. Localizava-se logo adiante da Fonte da Senhora da
Luz, por baixo do largo fronteiro à rua do Gama, no meio do qual existia um
marco fontanário. Tem uma só bica e um pequeno tanque. As vertentes alimentavam
o tanque com lavadouros. (Fig. n.° 185), J. Bahia Júnior, 1909. Segundo este
autor, a água desta fonte era de má qualidade bateriológica.
A
água da Fonte do Molhe de Carreiros
nasce a 60 metros do fontenário. Estava situada na rua do Molhe. Tinha uma
única bica que lançava a água num pequeno tanque. As suas vertentes alimentavam
um tanque com lavadouros. A fonte recebia, por meio de um cano de ferro, a água
de uma nascente junto do portal n.º 88 da rua do Castelo do Queijo. A água era
bacteriologicamente má.
Apesar
da pluviosidade em Nevogilde ser equivalente a da Foz do Douro e Aldoar, a
configuração da antiga freguesia apenas deu lugar a uma pequena ribeira. A Ribeira
de Nevogilde é um pequeno riacho com cerca de 380 metros, há muito vítima do desenvolvimento
urbano. Nasce na freguesia do mesmo nome, numa zona agrícola rodeada pela rua Sá de
Albergaria a Sul, Rua de Corte Real a oriente, e pela Travessa da Igreja de
Nevogilde. Nos primeiros 137 metros do seu percurso a ribeira corre a céu
aberto1. O percurso seguinte está totalmente entubado, atravessa a
Rua do Marechal Saldanha, desce pela Rua do Funchal, atravessa a Rua de
Gondarém e a Avenida de Montevideu e desagua no oceano Atlântico a sul
da Estação de Zoologia Marítima Dr. Augusto Nobre, na Foz. Tem uma extensão de
0,91 km, em grande parte (66,5%) a céu aberto. A sua bacia hidrográfica tem a
área de 0,51 km2. Como aconteceu com as ribeiras de Ervilheira e de
Nevogilde, a caracterização físico-química e microbiológica levada a cabo por
Nívea Vieira, em 2007, revela a contaminação da água por esgotos domésticos ao
longo do seu percurso.
O fraco
número de habitantes da freguesia de Nevogilde e a sua dispersão justificam o
reduzido número de fontes instaladas para servir o povo. J. Bahia Júnior, 1908,
apenas regista a Fonte do Leonardo e
indica os resultados dos exames bacteriológicos realizados entre 1904 e 1907, concluindo,
a partir deles, que a água dessa
fonte era de má qualidade. A Fonte Monumental de Montevideu, mais
conhecida por Fonte Luminosa de Montevideu, pensada inicialmente para a avenida
dos Aliados, mas as suas dimensões e proporções não se adequava ao local. A sua
qualidade despertou o interesse da Câmara que encontrou o local com condições
para a receber, o Jardim da Avenida de Montevideu (antiga Estrada de Carreiros, depois rua do Castelo do
Queijo), junto ao Forte de S. Francisco Xavier (Velasques, 2001), onde a construiu, em 1931. O desenho da fonte é
da autoria de Manoel Marques e pode-se inserir na Art Déco. Nela predominam as
formas circulares e cilíndricas, começando no tanque e terminando no capitel é
suportado por colunas cilíndricas. Na parte superior tem friso com motivos
vegetais, em tons compõe o “capitel” onde se apoia a laje superior. O mesmo
acontece com as colunas, rematadas com pequenos frisos que sugerem a sua
separação do capitel. A água da fonte, com circulação impulsionada por um grupo
de bombagem, era parte integrante da escultura. Ao longo dos anos a Fonte foi-se degradando e perdeu a sua
água e a iluminação. O seu mau estado incomodou e revoltou muitos portuenses na
última década do século XX. Em 2001, foi remodelado o espaço onde ela se
integrava, mas “...a fonte não foi tocada, continuou a degradar-se, azulejos de
cor verde claro e brilhante caídos, a sua bela e elegante estrutura geométrica
de betão em pedaços no solo...” (Cardoso, 2008[11]). O Chafariz foi
reativado em 2017, tendo a água voltado a correr nos seus repuxos e cortinas de
água.
Figura 24 – Fonte de Montevideu em 2018
[1]Vieira, N., M., S., M., 2009, Qualidade
Química e Bacteriológica das Águas das Ribeiras do Porto, Dissertação
apresentada à Universidade de Aveiro para obtenção do grau de Mestre em Minerais
e Rochas Industriais, Aveiro.
[2] Fernandes, A. N. N., 2009,
Identificação e Deteção da Fragilidade em Troços de Ribeiras do Porto,
Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para obtenção do grau de
Mestre em Minerais e Rochas Industriais, Aveiro.
[3] Reis, 2002
[4] Cleto, J. A., 2014, Lendas do Porto,
Volume III, Verso da História, Vila do Conde: pp 13 – 17.
[5] Santos, A., Pacheco, L., Girão, M.,
Clare, R., 2017, As nossas memorias das fontes do Porto, II Volume, Edições
Afrontamento, Porto
[6] Vieira et al., 2009.
[7] Carlos Barreiros Montez de Champalimaud, 1901, Foz do Douro
e Febre Typhoide, Dissertação Inaugural apresentada à Escola Médico-Cirúrgica
do Porto
[8] Gazeta Medica do Porto, 1901, junho,
pág. 290 (pág. 287)
[9] Canídia e Circe eram feiticeiras que
Horácio evocou nos seus poemas em que a magia estava ao serviço das paixões
humanas. Canídia era uma velha, pavorosamente feia e terrível feiticeira, mais
perigosa que as serpentes de África. Circe era considerada a Deusa da noite,
que produzia venenos e poções mágicas e costumava transformar homens em
animais. Circe é considerada a Deusa da Lua Nova, do amor físico, feitiçaria,
encantamentos, maldições, vinganças, etc.
[10] Santos, A., Pacheco, L., Girão, M,
Clare, R., 2015, As nossas memórias – as fontes do Porto, Volume I, Edições
Afrontamento e Clube Unesco da Cidade do Porto.
Sem comentários:
Enviar um comentário