segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Parte XIII


A União das Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde foi criada no âmbito da reforma administrativa nacional, em 28 de Janeiro de 2013. Esta união de freguesias ocupa uma área de 7,4 km2 e, em 2017, a sua população era de 25.853 habitantes. O seu espaço é limitado a norte pela estrada da Circunvalação, a oeste pelo oceano Atlântico, a sul pelo rio Douro e a este pelas freguesias de Ramalde e da União das Freguesias de Lordelo do Ouro e Massarelos. Sendo a formação da União recente, faz todo o sentido referi-las independentemente, como o fazemos a seguir.
A freguesia de Aldoar, nome de origem árabe, ficava na estrada que ligava o lugar de Matosinhos à cidade do Porto, da qual distava uma légua. Tinha, em 1747, quatro fontes de boa água e um pequeno ribeiro sem nome. Era uma pequena aldeia com as suas casas distribuídas ao longo de um caminho que deu origem à rua de Vilarinha. Aldoar teve origem num aldeamento de pescadores que remonta a um período anterior à ocupação dos romanos. Esta povoação situava-se a meio caminho entre o Porto e Bouças (Matosinhos). Esta estrada passava, em boa parte, pela Rua de Vilarinha. O espaço era atravessado por pequenos regatos que formavam a Ribeira de Aldoar que, corria ao longo da atual Avenida da Boavista, desaguando no Atlântico junto ao Castelo do Queijo.
A vila de Aldoar, que pertenceu ao concelho de Bouças, dedicava-se essencialmente à agricultura, sendo fornecedora do Porto de produtos hortícolas. A expansão da cidade do Porto ocupou a povoação que veio a ser incluída no concelho do Porto em 21 de novembro de 1895. Aldoar passou, então, a ser mais uma das freguesias do Porto.
No censo de 1864, Aldoar não tinha mais do que 553 habitantes, aumentando para 1.056 em 1900. No censo de 2011 a população de Aldoar atingiu os 12.843 habitantes.
São João da Foz do Douro era uma das 15 freguesias do Porto abrangendo o extremo noroeste da cidade, na margem direita do rio Douro junto à sua foz. É limitada pela freguesia de Lordelo a leste, Aldoar e Nevogilde a norte, banhada pelo rio a sul e beijando o mar a oeste. A separação entre Nevogilde e a Foz dá-se numa depressão do terreno, perpendicular ao mar, por onde corria um regato que assumiu o nome do lugar de Ervilha. Esta linha de água quase acabou por desaparecer com a urbanização da área.
A Foz do Douro, muitas vezes denominada por Foz Velha, é um aglomerado antigo que se formou durante o Paleolítico junto à barra do rio Douro. Seria uma vila de pescadores com pouca importância. A partir do século XVI, com o recrudescer da pirataria internacional, passou também a ser uma importante praça militar, tendo sido construída uma fortaleza para proteger a entrada do rio Douro. A partir do primeiro quartel do século XIX a Foz do Douro passou a ser a estância balnear do Porto. A divisão administrativa promovida nos anos de 1833 e 1834 criou os concelhos do Porto, de Campanhã e de São João Baptista da Foz do Douro, passando este último a ter Câmara própria. Teve vida curta o concelho pois, em 1836, foi integrado, como freguesia, no concelho do Porto por decreto de 26 de novembro, como aconteceu com as freguesias do Ouro e Campanhã e mais tarde à de Paranhos. Com a chegada de veraneantes durante o século XIX, a vila desenvolveu-se ao longo da linha do mar com a fixação de muitas famílias que vinham da cidade do Porto. Em 1895, por decreto de 21 de novembro, juntaram-se à cidade do Porto as freguesias de Nevogilde, Aldoar e Ramalde, antes pertencentes ao concelho de Bouças.

Figura 1 – Fonte megalítica, com recirculação de água, na Rua Diogo Botelho

A Foz do Douro terá sido, durante muitos anos, o povoado mais importante nas proximidades do Porto. Há muito que recebia os habitantes do Porto que vinham, no verão, gozar a praia, o mar e a amenidade do clima. Reconhece-se a lenta expansão do lugar ao comparar os números do recenseamento de 1527, 286 fogos, com 1.287 habitantes, com o de 1864, 2.904 habitantes, enquanto o Porto (Freguesias da Sé, S. Nicolau e Vitória, e os arrabaldes Santo Ildefonso, Miragaia, Massarelos, Cordoaria, Gaia, Vila Nova e Meijoeira, lugarejo na serra do Pilar) tinha 3.006 fogos com 13.527 almas. Naquele período o crescimento da Foz apenas duplicou o número de habitantes, enquanto o do Porto, incluindo a Foz, sextuplicou. Todavia, das freguesias periféricas era, em 1900, a de maior densidade populacional, com 37,9 habitantes por hectare. O crescimento do Porto e da Foz fez com que se viessem a ligar, permitindo que famílias abastadas construíssem as suas moradias junto da praia e aí passassem a viver. No recenseamento de 1864, pertencem à Foz 2.904 habitantes e ao Porto 86.750 habitantes. No primeiro numeramento regular ordenado pelo Bispo D. Rodrigo da Cunha, em 1623, a Foz tinha 1.571 habitantes. Em 1732, esse número subiu para 1.809 habitantes, mas não contava com as crianças com menos de sete anos que podiam representar 20% da totalidade.
A antiga povoação de Nevogilde, a Foz Nova, que pertenceu, assim como Aldoar e Ramalde, ao concelho de Bouças (Matosinhos, a partir de 1909) até 21 de novembro de 1895, data em que aquelas três freguesias foram integradas no concelho do Porto. Foi esta integração que levou à construção da Estrada da Circunvalação. Esta freguesia confinava, a ocidente, com o oceano Atlântico, estendendo-se a sua praia desde Matosinhos até ao limite norte da Foz do Douro. Naquela praia aportavam pequenos barcos nos sítios de Salgueiras, a norte, e de Carreiro na parte sul da praia. A norte, Nevogilde é limitada pela Estrada da Circunvalação, encostando-se a Matosinhos; a oriente e a sul era limitada, respetivamente, pelas antigas freguesias de Aldoar e da Foz do Douro. A vocação e o desenvolvimento de Nevogilde são semelhantes ao de Aldoar, apenas ganhando algum adianto pelo fato de atrair muitos veraneantes para a sua marginal e praia. Como Nevogilde não deixa de ser uma extensão da Foz do Douro, a união das três freguesias foi uma consequência lógica. Só falta saber que nome se atribuirá à grande freguesia resultante da reunião.
No censo de 1864, Nevogilde era uma pequena povoação com 182 habitantes, aumentando para 1.149 em 1900. No censo de 2011 a população de Nevogilde atingiu os 5.018 habitantes.
As marginais à foz do Rio Douro e ao Oceano Atlântico, que estão repartidas entre as antigas freguesias da Foz do Douro e Nevogilde, são ocupadas por belos jardins e largos passeios que convidam os portuenses a suaves passeios. O Jardim do Passeio Alegre foi construído nos finais do século XIX e contempla a despedida do Douro ao ser recebido pelo Oceano Atlântico. Aos seus belos canteiros juntaram-se relevantes elementos arquitetónicos, alguns vindos da cidade como os dois Obeliscos de Nasoni que vieram da Quinta da Prelada e o Chafariz que enriqueceu os Claustros do Convento de São Francisco. Destacam-se ainda o coreto, o campo de minigolfe e um Chalet Romântico de 1874. Contornando o Forte de São João Baptista, uma construção do século XVI, e seguindo, depois da foz do Douro, a costa Atlântica ao longo da Avenida do Brasil, deparam-se esplanadas junto ao mar, jardins e alguns monumento como as estátuas dedicadas aos homens do mar, a Pérgula, terminando no Forte de São Francisco Xavier, popularmente conhecido como Castelo do Queijo.
Nevogilde e Aldoar têm algo em comum: O Parque da Cidade, que, com 83 hectares de área se estende entre a Avenida da Boavista e a Estrada da Circunvalação, até ao Oceano Atlântico. Inaugurado em 2003, o Parque da cidade encanta quem o visita com as suas matas, lagos, e com a sua abundante fauna. Permite o descanso e a atividade física dos tripeiros, e não só, para além de visitas ao Sea Life Center e ao Pavilhão da Água. Ali se localiza o Queimódromo, bem conhecido pela academia portuense que o frequenta animadamente nas Noites da Queima das Fitas. O núcleo Rural de Aldoar, inaugurado em 2002, foi incorporado no Parque da Cidade. É composto por quatro quintas onde se desenvolvem atividades no âmbito da Educação Ambiental, onde se pode integrar a atividade da agricultura biológica.

Figura 2 – Um banco no Parque da Cidade, um convite à meditação...

A orografia das freguesia da Foz do Douro, como as de Nevogilde e de Aldoar, não é propícia à formação de cursos de água com expressão significativa. A ocupação do espaço pelo homem, sobretudo a partir do início do século vinte fez com que as poucas linhas de água se escondessem, não pela vergonha da sua pequenez, mas porque sobre elas pouco respeito havia.
Em Aldoar corriam dois ribeiros, dos quais o maior corria paralelo à Rua da Vilarinha até à atual avenida da Boavista, descendo daí até ao mar, onde está o Castelo do Queijo. O outro, o do Vilão, corria em terrenos pantanosos que se estendiam até à Fonte da Moura. A Ribeira de Aldoar ou o Pequeno Regato do Queijo, assim designado no passado, passava num pequeno vale sobre o qual foi construído o último terço da Avenida da Boavista. O percurso principal da ribeira tem início, já canalizado, junto ao Campo do Inatel[1],[2], atravessa a rua Dr. Vasco Valente e segue pela avenida Dr. Antunes Guimarães, cruza e desce a avenida da Boavista, parte do qual a céu aberto no troço próximo da Fundação de Dr. António Cupertino de Miranda e em frente da Praça do Prof. Egas Moniz. Após um troço canalizada, volta a correr a céu aberto em frente à rua António Aroso até atravessar novamente a Avenida, agora canalizada, e entrando no Parque da Cidade recebe um seu afluente produto da reunião de outros dois ribeiros: um com duas nascentes independentes, uma na rua do Lidador e a outra no Bairro de Aldoar; o segundo também tem duas nascentes independentes, uma na rua de Angola, no Bairro da Fonte da Moura, e a outra próxima da rua do Jornal de Notícias junto ao Hospital Magalhães de Lemos. Este curso de água chamar-se-ia de Rio Vilão. A água com origem naquelas quatro nascentes forma, no cruzamento da Rua da Vilarinha com a rua do Parque, o afluente que se junta à Ribeira de Aldoar dento do Parque da Cidade, no lado sudoeste. Do percurso total do afluente, apenas o troço que atravessa o Bairro de Aldoar (212 metros) se encontra a céu aberto. Devido à má qualidade da sua água, a Ribeira de Aldoar, dento do Parque da Cidade, segue para a sua foz no Atlântico a norte do Forte de São Xavier (Castelo do Queijo) totalmente entubado. Infelizmente, esta situação acontece em cerca de 93% do seu percurso de 8,5 quilómetros (4,3 quilómetros, segundo Hernâni Neves, 2009).

Figura 3 – A exuberância da vegetação sinaliza a passagem do ribeiro do Vilão, que já foi apelidado de rio.

Segundo o jornal Público de 14 de junho de 2017 (pág. 16 da edição do Porto), a ribeira de Aldoar vai correr a céu aberto num troço de 760 m na Avenida da Boavista. O projeto, cuja empreitada, da responsabilidade das Águas do Porto, será concretizada em 2018, incluirá dois tanques nos pontos onde a ribeira surgirá à superfície e onde desaparecerá. A mesma notícia se mantém no Portal de Notícias da CMP, em https://goo.gl/iv4Qtu  consultado em 26/8/2018.
Reis, 2002, em amostras recolhidas na sua passagem pela avenida da Boavista, a cerca de 1.600 m da sua foz, determinou a sua carga orgânica, tendo obtido o valor médio de 0,42 ton/dia. Embora poluída, a água da ribeira de Aldoar é, relativamente às linhas de água da cidade do Porto, das que apresenta valores da CQO mais baixos. Os coliformes são abundantes (entre 105 e 106 UFC/100 mL em amostras recolhidas na sua foz) na pouca água que o ribeiro leva em média (julho a novembro de 2001)[3], cerca de 300 metros cúbicos por hora.

Figura 4 – Trecho a descoberto da Ribeira de Aldoar no lado sul da Avenida da Boavista, em frente à Rua António Aroso.

A Fonte de Passos, com nascente privativa, servia água com qualidade muito má. De acordo com a descrição de J. Bahia Júnior, esta fonte situava-se no meio de um campo do Lugar dos Passos, na estrada da Fonte da Moura, perpendicular à Avenida da Boavista, próxima de uma Fabrica de Botões já desaparecida. A água nascida na mina aberta no granito acedia a um tanque quadrangular saindo para o exterior através de uma bica que regulava o nível de água. As suas vertentes alimentam os tanques e lavadores laterais. Por cima da porta estava gravada a data da sua reforma, 1906. Pelas análises microbiológicas realizadas entre 1904 e 1907, a água da Fonte dos Passos era de má qualidade.

Figura 5 - Fonte de Passos. Fonte: J. Bahia Júnior, 1908, pág. 92)

A Fonte da Moura, descrita por J. Bahia Júnior, 1909, estava situada na rua da Vilarinha, à esquerda de quem vinha da Estrada da Fonte da Moura. A nascente desta fonte estava a pouca distância, ressentiu-se da pouca água que tinha, o que a levou a desaparecer por volta de 1915. Apenas tinha uma bica que deitava a água para um pequeno tanque. As suas vertentes alimentava os tanques e lavadouros. Sob o ponto de vista microbiológico, os resultados apresentados por J. Bahia Júnior revelam uma água com qualidade aceitável para a época.
O nome desta fonte está associado a uma lenda contada por Joel Cleto[4] que assim se resume: no tempo em que os mouros e cristãos conviviam na área do Porto uma antiga fonte, que recebia a água do interior de uma fenda rochosa muito estreita e inacessível, secou. Esta fonte guardava um segredo: nas entranhas da nascente tinha-se enclausurado uma jovem e bela moura, que tinha conseguido penetrar na mina, feito nunca mais conseguido por ninguém. A jovem procurou refúgio naquele lugar fugindo à ira do seu pai que descobriu e não aceitou a paixão que tinha nascido entre ela e um garboso jovem cristão. Apesar de viverem em paz, as duas comunidades não aceitavam a paixão e o casamento entre cristãos e mouros.
Encerrada em sua casa, a jovem foi proibida de se encontrar com o seu amado que corria o risco de morte se fosse avistado pelo pai da moura nas redondezas. Como conhecia a mina da fonte, e sabendo-se capaz de penetrar no seu interior, a jovem conseguiu fugir e nela se refugiar. Ali escondida, água não lhe faltava e a comida era-lhe servida por poucas pessoas amigas que souberam da sua localização pelos chamamentos que ela lhe dirigia e que juraram não revelar o seu segredo.
Ao fim de alguns dias, depois de intensas buscas, a família e o jovem cristão amado deixaram de a procurar. Passaram alguns anos e a moura foi recusando os constantes apelos para que saísse do seu esconderijo e revelasse a identidade do seu grande amor. Preferia morrer a revelar o seu segredo. E tal aconteceu no dia em que a fonte secou. Da mina, apenas se passou a ouvir o gotejar das lágrimas da infeliz moura que morreu no interior da fonte por amor.
Santos et al, 2017[5]: 348, referem a Fonte de Aldoar, localizada na Rua da Vilarinha, que aproveita a águas da Ribeira de Aldoar e matava a sede a pessoas e animais. Para o efeito, essa fonte tem uma configuração semelhante, mas de dimensões mais reduzidas, às fontes de Hulsenbos e da Rua do Souto. Para além da taça para serventia dos animais de menor porte e da peanha para colocação dos cântaros, este fonte tem argolas para amarração de animais que terão sido cravadas aquando da beneficiação da fonte concretizada, segundo inscrição aí existente, pela Câmara Municipal do Porto em 1910. Esta fonte terá sido removida, em 2018, durante as obras de renovação da Rua da Vilarinha.

Figura 6 - Fonte da Moura. Fonte: J. Bahia Júnior, 1908, pág. 92)


A Fonte do Revilão começou por ser um charco descrito por J. Bahia Júnior que o classificava como tendo péssimas condições, com muita lama. A sua água, de mina própria, era, em 1908, de péssima qualidade, com o título coli - bacilar de 0,1 mL. Esta fonte,  colocado ao lado do caminho de Revilão, nome com origem em Rio Vilão que passava em terrenos por detrás da Rua do Lidador. A urbanização do local fez desaparecer os seus vestígios. Terá sido substituído por um fontanário que, em 1956, foi substituído por uma nova Fonte do Revilão que se localizava na rua do Jornal de Notícias. Esta fonte foi construída segundo um desenho um desenho da escultora Lídia Vieira.  Esta fonte, enquadrada por um pequeno jardim com dois bancos em granito, encontra-se a um nível inferior ao da rua, sendo acessível por uma pequena escada. A bica da fonte encontra-se no interior de uma caixa sem tampa feita com placas de granito.

Figura 7 – A nova Fonte do Revilão, com fortes indícios de abandono recente

Muito próximo da Fonte da Moura, junto à Igreja de Vilarinho, encontrava-se a Fonte de Costibela, classificada por J. Bahia Júnior como charco desprotegido para o qual se descia por uma escada. Esta fonte, situada na Travessa de Costibela, tinha nascente privativa que a abastecia com água de muito má qualidade. Uma base metálica pode servir para apoio de cântaros ou recipientes semelhantes para recolher a água.

Figura 8 - A Fonte da Costibela. Fonte: J. Bahia Júnior, 1908, pág. 92)


 À semelhança de Aldoar, a orografia da Foz do Douro não é muito favorável à existência de rios. ribeiros. Com alguma expressão no passado a Ribeira da Ervilha, da Ervilheira ou de Gondarém é praticamente o único curso de água a registar. Ela nascia no lugar da Ervilha e serpenteava por uma depressão de terreno até que se encontrava com o mar na Praia de Gondarém. Esta ribeira, quando corria a céu aberto, formava uma linha que separava as freguesias da Foz e Nevogilde. A partir do princípio do século XX uma boa parte do regato foi engolida pelo desenvolvimento urbano daquela zona. Atualmente a Ribeira da Ervilheira desenvolve-se ao longo da depressão que existia entre a Avenida Marechal Gomes da Costa e a Rua do Crasto no sentido Nascente/Poente3. Nos nossos dias esta ribeira inicia-se perto da Rua Afonso Baldaia[6], freguesia de Nevogilde, na zona do campo de jogos do Foz F. C., correndo, na fase inicial a céu aberto, num leito bastante obstruído por vegetação e outros materiais, isto é, lixo. Após o campo do Foz, a ribeira foi encanada em cerca de 50 m para abrir a rua Maria Borges. A partir desta rua o ribeiro desenvolve-se a céu aberto até à caixa de entrada do percurso canalizado, junto ao muro de uma vivenda com entrada pela Rua do Ribeirinho. A linha de água canalizada segue, ou atravessa, pelas ruas do Ribeirinho, Corte Real, Dr. Sousa Rosa, Marechal Saldanha, Gondarém e Avenida do Brasil, até à Praia de Gondarém onde desagua no Oceano Atlântico ao longo dum aqueduto localizado em frente ao prédio da Av. do Brasil com o número 388.
Nos últimos anos, o seu traçado natural, atualmente com cerca de 1 km (bacia hidrográfica de 0,203 km2), foi reduzido em mais de 30%, e quase 70% do seu trajeto atual está entubado. O caudal da ribeira está bastante condicionado pelo cair, ou não, de chuva, e da impermeabilização que vai crescendo com a construção de novas ruas e edifícios. Na caracterização físico-química realizada, em 2007, por Nívea Vieira2 verifica-se que as concentrações de nitratos, nitritos e azoto amoniacal aumentam substancialmente da nascente para a foz. Este é um sinal claro da contaminação da água da ribeira com esgotos domésticos. O mesmo se verifica pelo equivalente aumento da concentração de coliformes fecais, com valores na foz da ribeira da ordem dos 3,5x105.
Como acontecia nas freguesias do centro do Porto, a habitação na Foz do Douro, sobretudo na Foz Velha, era de muito má qualidade, com pouca ou nenhuma ventilação, cheias de humidade e com pouca luz. Os seus maiores inconvenientes, como as do centro do Porto, eram as fossas e latrinas rudimentares desprovidas de sifão e água, infestavam as casas com maus cheiros. Como o saneamento era praticamente inexistente e se acumulavam resíduos de toda a ordem nos terrenos, a elevada permeabilidade do solo permitia a passagem quase direta da água cinzenta ou negra para a toalha de água subterrânea que se encontrava a uma profundidade da ordem dos oito metros, facilitando a sua contaminação e inquinando a água dos poços. Acrescente-se ainda que, em 1900, pelo subsolo contaminado passavam muitos tubos que conduziam a água para consumo humano que, naturalmente, corriam o risco de contaminação através das juntas. Enfim, como no centro do Porto, as condições sanitárias na Foz do Douro eram muito más.

Figura 9 – A Foz Velha em 2018

Para remediar a falta de qualidade da água dos poços e fontes, a Foz passou, np início do século XX, a abastecer-se também com água do rio Sousa, ou seja, “da Companhia”. Segundo Champalimaud, 1901[7], na Foz, como no Porto, teimava-se em não consumir a água da companhia. O Porto recebia diariamente, então, 3.000 metros cúbicos por dia no inverno e 4.500 metros cúbicos por dia no verão, pertencendo à Foz e Carreiros, nas mesmas estações, 300 e 400 metros cúbicos. Da água da companhia recebida, o município do Porto gastava 1.300 metros cúbicos no centro da cidade e 120 metros cúbicos na Foz, neste caso para regar a estrada marginal e o jardim do Passeio Alegre. Na Foz o consumo doméstico atingia uma média diária de 240 metros cúbicos, aproximadamente 44 litros por habitante por dia. Na realidade, apenas 250 dos 1.440 fogos tinham assinatura com a companhia, e algumas apenas a usavam durante dois meses do verão. Champalimaud, 1901, admitia assim que apenas 10% da população usava água da companhia. Por exemplo, nos três fontanários instalados, em 1900, na Cantareira, no Passeio Alegre e no Mercado, abastecidos com água da companhia, apenas os pescadores os usavam para lavar as redes, e os garotos para se divertirem (Champalimaud, 1901), tanta era a desconfiança sobre aquela água. Como resposta, o povo, com receio que encerrassem as fontes antigas, ameaçou destruir os marcos se tal acontecesse.
Baseado exclusivamente na análise química, Ferreira da Silva[8] sugeriu que a água das fontes da Foz, exceto as de Nossa Senhora da Luz, da Areia e do Molhe de Carreiros, são boas ou perfeitamente potáveis, e seria contra-senso desaproveitá-las” (ver quadro 1). Não concordando com Ferreira da Silva, Champalimaud3 afirmava, tendo por base os exames bacteriológicos disponíveis, que a água das fontes do Burgal, do Passeio Alegre e de Cadouços, abastecidas por mananciais distantes ou nas proximidades de habitações, “devia ter sido condenada3 (ver quadro 2). As fontes com origem na nascente da Ervilha, cujo manancial praticamente deixou de produzir água poucos anos depois, a do Adro e do Burgal e suas derivadas, tinham qualidade aceitável porque os pontos de origem encontravam-se afastadas das casas habitadas e nasciam em zonas profundas. No nº 4, ano V, de agosto de 1949, na página 92/93, de O Tripeiro refere-se uma notícia de 20/21 de agosto de 1889 na qual se informa que foram inauguradas as fontes do Monte Castro, Gondarém, Cadouços e Carreiros, todas abastecidas pelo manancial da Ervilha. O vital fluido era transportado desta nascente aos pontos de uso em tubos de ferro. Infelizmente, esta nascente deixou de o fazer por falta de água, passando algumas destas fontes a ser abastecidas com água da companhia. Tendo Champalimaud caracterizado microbiologicamente a água das fontes da Foz, ele concluiu que só podia ser tolerada a das Fontes do Adro e da Cantareira, embora ignorando a presença de coliformes. Champalimaud apresenta as análises química e bacteriológica realizadas em amostras de água da companhia cujos resultados se apresentam nos quadros 2 e 3

Quadro 1 – Resultados das análises químicas efetuadas das águas das fontes da Foz (amostras recolhidas em 12 de novembro de 1900). Fonte: Ferreira da Silva, Gazeta Medica do Porto, 1901, junho, pág. 290 (287)
Amostra
Dureza , mg/L CaCO3
Cloretos, mg/L NaCl
Azoto, mg/L N
Origem e classificação
Total
Permanente
Nítrico
Amoniacal
F. da Dala ou  Adro
25
22,5
46,8
0,15
0,16
Ervilha I, muito pura
Marco do Marechal Saldanha
40
35
70,2
0,10
0,24
Ervilha II, potáveis
Marco da Praia dos Ingleses
42,5
35
70,2
Vest.
0,21
F. do Gondarém
45
35
58,5
0,21
0.16
F. do Rio de Cima
80
80
135,5
3,11
0,21
Mina do Burgal III, potáveis
F. do Rio das Bicas
80
65
140,4
4,87
0,21
Chafariz do Passeio Alegre
75
75
140,4
4,87
0,21
F. da Cantareira
87,5
7,5
152,1
3,32
0,24
IV Potável regular
F. da Senhora da Luz
115
97,5
152,1
8,04
0,16
V, suspeitas
F. da Areia
125
115
222,3
7,26
0,16
F. do Molhe de Carreiros
155
105
198,9
4,19
0,16

Quadro 2 – Resultados das análises químicas efetuadas à água da companhia pelo Laboratório
Amostra
Data
Dureza total, mg/L CaCO3
Cloretos, mg/L NaCl
Azoto, mg/L N
Resíduo seco a 110 ºC, mg/L
Nítrico
Amoniacal
Rua Central
Nov/1900
21,9
-
Vest.
Nulo
-
Passeio Alegre
Mai/1901
10
23,4
Vest.
Nulo
50

Quadro 3 – Resultados das análises bacteriológicas efetuadas à água da companhia pelo Laboratório
Amostra
Data
Bactérias
Bolores
Coli
Reservatório dos Congregados
28/3/1899
-
-
Muito virulento
Torneira do próprio laboratório
10/3/1900
237
78
Pouco virulento
7/6/1900
53
-
18/10/1900
37
37
21/12/1900
-
9

Champalimaud analisou no mesmo ano amostras de água recolhidas em dez poços da Foz. Todas elas revelaram águas muito duras (dureza total entre 32 e 69 graus franceses), ricas em nitratos, ultrapassando de longe o limite atual estabelecido para água potável, muito mineralizada (548 a 1658 mg/L de sólidos totais), na qual cerca de 40 % corresponde a sólidos voláteis. A água de um poço da Rua Senhora da Luz era tão má que Champalimaud não encontrou ninguém capaz de a provar. Bacteriologicamente as amostras correspondiam a água de muito má qualidade. Os resultados mostram que a água dos poços examinados estava fortemente contaminada, provavelmente com esgoto doméstico, provando o que escreveu Ricardo Jorge sobre a influência das fossas nas águas freáticas: “No Porto é o poço, em regra, furado na imediação da latrina; fazem, às vezes, paredes meias. Deste maléfico consórcio resulta uma porquíssima inversão; ás duas por três, o poço é um apêndice da fossa, e a agua é a da latrina. O freguês deste poço - cloaca bebe o que urina e urina o que bebe: urina, etc., já se vê. Os filtros mitológicos de Canidia e Circe[9] não eram nem mais malfeitores nem mais porcos”.

Quadro 4 – Resultados das análises bacteriológicas efetuadas à água das fontes da Foz
Amostra
Data
Bactérias por cm3
Fungos por cm3
Coli
F. da Dala ou Adro
12/10/1900
250
50
Sim
Nascente da Ervilha
25/9/1900
1.950
150
Ervilha – Marco fontenário de Cadouços
25/9/1900
2.700
800
F. do Passeio Alegre
4/10/1900
1.800
125
F. da Cantareira
4/10/1900
300
500
F. da Senhora da Luz
17/9/1900
375
100

Quadro 5 – Resultados das análises químicas efetuadas à água de alguns poços da Foz
Amostra
Data
Dureza total, mg/L CaCO3
Cloretos, mg/L NaCl
Azoto, mg/L N
Resíduo seco, mg/L
a 110 ºC
Calcinado
Nítrico
Amoniacal

Passeio Alegre
jan/1901
470
468,0
74,1
0,25
1610,4
613,6

R. das Mottas
jan/1901
300
409,5
9,8
0,25
808,0
395,6

R. da Florida – Ilha
mar/1901
470
386,1
39,1
0,33
548,0
189,6

R. do Tunnel
mar/1901
750
468,0
33,4
0,74
830,8
452,8

R. Central
mai/1901
470
399,8
43,2
0,08
942,0
455,6

R. Central
mai/1901
320
313,9
25,2
0,25
860,8
180,0

Esplanada do Castelo
jun/1901
330
444,6
52,7
0,04
1200,4
589,6

R. Central
jun/1901
690
491,4
39,1
0,04
1433,6
617,2

R. Senhora da Luz
jun/1901
410
1029,9
12,0
98,82
1658,4
506,0

R. Senhora da Luz
jun/1901
410
491,4
49,2
8,23
640,0
314,0


O Manancial do Burgal era a massa de água doce mais importante da Foz do Douro, que apenas pode ser aproveitado para abastecimento público quando, em 19 de dezembro de 1844, a Câmara Municipal do Porto assinou um contrato com a proprietária do terreno do Burgal ou Bragal para a cedência de todas as águas que houvesse no Campo do Lameiro. O manancial tinha a entrada para a sua mina, em 1909, na Travessa da Conceição, próxima da atual Rua de Burgães de Baixo e da Capela de Nossa Senhora da Conceição. Esta mina abastecia diretamente a fonte do Rio de Cima ou do Burgal, a do Rio das Bicas e o Chafariz do Passeio Alegre.
A Fonte do Rio de Cima ou do Burgal, terá sido concluída antes da resolução tomada pela Câmara Municipal para lhe assegurar o Manancial do Burgal que a passou a abastecer diretamente a partir da primeira mina. Souza Reys chama-lhe apenas fonte de Cima e localizava-o no “lugar do Carvalho nas proximidades da Capelinha de Nossa Senhora da Conceição, na estrada que vem da Foz para Lordelo e Cidade”. Segundo J. Bahia Júnior, a fonte encontrava-se num recinto muito porco, onde abundavam os “bolos fecais”. Pela má qualidade da água do manancial e pela contaminação que recebia no seu percurso, a água apresentava má qualidade bacteriológica. Uma boa parte da água vinda dessa mina, já depois do abastecimento à Fonte do Rio de Cima, reunia-se com uma outra que nascia numa segunda mina formando um charco, a partir da qual seguia um cano de ferro até ao Largo da Feira em S. João da Foz onde, naquele tempo, se fazia uma feira ou mercado diário, um pouco abaixo da Capela de Nossa Senhora da Conceição (J. Bahia Júnior, 1909, H. Marçal, 1968, Velasques, 2001). Esta conduta servia a Fonte do Rio da Bica, perto do Largo do Rio da Bica. “com duas bicas e tanque, cujas vertentes alimentavam os lavadouros” (J. Bahia Júnior, 1909).  Esta fonte foi recuperada pela CMP em 1946. A montante da Fonte do Rio da Bica existe agora uma Nova Fonte do Rio da Bica para onde foi desviada a água que abastecia a primeira. Análises bacteriológicas realizadas, em 1902-07, pelo Laboratório Bacteriológico do Porto mostraram que a água das duas fontes era de má qualidade. A água sobrante seguia canalizada pela rua dos Motas até à esquina, atravessava o jardim em cano de ferro e continuava em tubo de chumbo até ao Chafariz do Passeio Alegre, que pertenceu ao Convento de São Francisco, referido em capítulo anterior. Este chafariz recebia água de má qualidade bacteriológica.

Figura  10 - Fonte do Rio de Cima ou Fonte do Burgal e entrada M. da mina do Manancial do Burgal. Origem: J. Bahia Júnior, 1909: pp 94.

Figura 11 — Fonte do Rio da Bica, com o seu tanque e lavadouros. À direita da figura, junto dumas escadas, um individuo indica a rua estreita por onde segue a canalização em ferro, deste ponto até ao Manancial. Origem: J. Bahia Júnior, 1909: pp 95.

Figura 12 – A Fonte do Rio da Bica nos nossos dias

Figura 13 – A Nova Fonte do Rio da Bica


Figura 14 - Manancial do Burgal – Trajeto da canalização. Fonte: cópia de uma planta existente na CMP, reproduzida por J. Bahia Júnior, 1909, pág. 99.

A Fonte da Cantareira, cuja construção se concluiu em 1851, recebia água de uma mina situada num pinhal a 60 metros da estrada marginal. A água seguia da mina para a fonte em cano de ferro. Localizada na rua do Passeio Alegre, é uma fonte espaçosa, de soberba e abundante água segundo Souza Reys, com três bicas, em que cada uma delas lançava a sua água em três tanques. É composta por um corpo central com um tanque recortado, ladeado por dois painéis retangulares com tanques ovalados (Santos et al., 2015[10]). As vertentes deste tanque seguiam para outro situado na rampa do cais, “a fim de prestar a quem para lavagens se aproveita delas” (Souza Reys). A qualidade da sua água era, em 1904-1907, bacteriologicamente má. A Fonte da Senhora da Luz (J. Bahia Júnior Fig. n.° 184), brotava no próprio local para uma arca retangular escavada no xisto numa depressão rodeada por casas e fossas que geravam suspeitas da sua má qualidade. As duas bicas estavam cravadas na parede da própria arca. No interior da arca, segundo J. Bahia Júnior, viam-se vestígios das infiltrações que contribuíam para a sua má qualidade bacteriológica. A água da Fonte da Areia, de má qualidade bacteriológica, apenas era usada nos seus lavadouros. Esta fonte situava-se, também, na rua da Senhora da Luz quando se seguia em direção à atual Avenida do Brasil. Nesse percurso encontrava-se um largo no qual existia no centro um marco fontenário. A Fonte da Areia apenas tinha uma bica e um pequeno tanque. As suas vertentes alimentavam um tanque maior com lavadouros. A água da Fonte do Molhe dos Carreiros, que nascia a 60 metros da fonte e para ela era encaminhada em tubo de ferro, era de má qualidade bacteriológica. Estava situada no início da rua do Molhe e estruturalmente era muito semelhante à Fonte da Areia. Tanto  Marçal, 1968, como Velasques, 2001, sinalizam a Fonte do Matadouro Velho, localizada na Praia dos Ingleses. Todavia, nada adiantam sobre a sua história e, muito menos, sobre a qualidade da sua água.

 Figura 15 – Fonte da Cantareira

Figura 16 – Tanques que recebem as vertentes da Fonte da Cantareira, de útil serventia para os pescadores lavarem as suas redes.

Figura 17Fonte da Senhora da Luz. N., Entrada para a arca Snr. Joaquim de Carvalho. C, Caminho ao lado da mina M. da nascente desta fonte. (J. Bahia Júnior, 1909, pág. 97).

A Fonte do Adro, ou da Igreja, ou dos Frades de São Bento, ou de Santa Bêda, que foi transladada e reconstruída, como o mostra a inscrição existente, em 1889, situa-se no cimo da Rua do Sacramento, nas traseiras da Igreja de São João da Foz e era abastecida com água da Mina do Andressen. Esta fonte pertencia aos Monges Beneditinos de Santo Tirso, Senhores do Couto da Foz do Douro. Sabe-se que esta fonte já existia em 1836 quando a Foz do Douro foi integrada no concelho do Porto. O povo servido por esta fonte reclamou à CMP, em 1836, a total falta de água porque a ela foi desviada pelo pároco para seu uso exclusivo. As queixas repetiram-se mais tarde, em 1844, obrigando a Câmara a intervir novamente, para a qual pediu o apoio do Governo Civil. Segundo Sousa Reys, a água, que vinha de mina própria e chegava à fonte por canalização em ferro, era muito boa. Opinião contrária tinha J. Bahia Júnior, 1909, que a considerava de má qualidade, baseado nos resultados das análises bacteriológicas realizadas entre 1904 e 1907. Admite-se que o aqueduto da Foz do Douro, na rua do Monte Belo, próximo da rua do Padre Luís Cabral, serviria para levar a água à residência dos Padres de Santo Tirso. Deste aqueduto, datado do séc. XVIII, resta um lanço reconstruído próximo da Praça do Império. Este aqueduto sofreu obras de restauração em 2001.

Figura 18 - Fonte dos Frades de São de São Bento. Por cima vê-se a data 1889, ano da sua reconstrução neste local. Origem: J. Bahia Júnior, 1909: pp 96.

Figura 19 - Fonte dos Frades de São de São Bento em 2018.

Em frente da Junta de Freguesia da Foz, na Rua de Corte Real, antiga Rua da Ervilha, encontramos um espaço público cuja entrada ostenta um arco em pedra com a seguinte legenda: Lavadouro da Ervilha. Para além dos  lavadouros cobertos, realça-se a Fonte da Ervilha, Constituída por um pequeno tanque onde assenta o espaldar no qual se destaca um fundo de belos azulejos e, ao centro, a bica da fonte. As traseiras do espaldar servem de encosto de um banco em pedra. Nas costas do espaldar está inscrito: Fonte da Ervilha – CMP – ÁGUAS – 1943.  A data inscrita corresponde ao ano da sua instalação, embora Uma boa parte da atual fonte, lajeado e tanque, tenha sido construída em com pedras mais antigas de origem desconhecida, eventualmente de uma fonte que terá existido mais próximo do monte da Ervilha. J. Bahia Júnior refere o Marco fontanário (e chafariz) do Mercado que, pelas análises microbiológicas realizadas entre 1904 e 1907, era abastecido com água de má qualidade.

Figura 20 – Fonte da Ervilha, que se encontra junto ao Mercado da Foz

A Fonte de Cadouços, mais tarde Fonte da Luz, que deu o seu nome, no final do século XIX, a uma rua e a um Largo onde esteve instalada, localizado próximo da rua da Senhora da Luz (Foz do Douro). A construção desta fonte é anterior a 1859, data do desenho da figura 19. Tinha água excelente e abundante, e ficava num fundo acessível por escadas. Naquele Largo, atual Largo do Capitão Pinheiro Torres Meireles, ficava a estação de Cadouços onde terminava a linha do “Americano”, antecessor do carro elétrico. Nesta estação eram abastecidos de água as máquinas dos comboios que substituíram os americanos puxados por cavalos a partir da Avenida da Boavista até Matosinhos.

Figura 21 - Localização da Fonte de Cadouços, descarregado de https://goo.gl/AMv6sF em 22/9/18


Figura 22 - Trajecto da “Máquina” nas ruas da Foz do Douro – In: Os velhos eléctricos do Porto


Legenda:

1. Campos da Ervilha
2. Actual Mercado da Foz (inaugurado em 15 Janeiro de 1954)
3. Sete Casas
4. Estação de Cadouços
5. Antigo Restaurante da Estação de Cadouços
6. Atual Esquadra da Polícia
7. Ponte da Rua da Fonte da Luz
8. Arruamento desaparecido
9. Rua do Túnel
10. Ponte Rua da Agra
11. Antigo Farol de Nossa Senhora da Luz



Fonte da Areia ou da Praia não abastece água para beber e apenas serve um lavadouro. Localizava-se logo adiante da Fonte da Senhora da Luz, por baixo do largo fronteiro à rua do Gama, no meio do qual existia um marco fontanário. Tem uma só bica e um pequeno tanque. As vertentes alimentavam o tanque com lavadouros. (Fig. n.° 185), J. Bahia Júnior, 1909. Segundo este autor, a água desta fonte era de má qualidade bateriológica.
A água da Fonte do Molhe de Carreiros nasce a 60 metros do fontenário. Estava situada na rua do Molhe. Tinha uma única bica que lançava a água num pequeno tanque. As suas vertentes alimentavam um tanque com lavadouros. A fonte recebia, por meio de um cano de ferro, a água de uma nascente junto do portal n.º 88 da rua do Castelo do Queijo. A água era bacteriologicamente má.

Apesar da pluviosidade em Nevogilde ser equivalente a da Foz do Douro e Aldoar, a configuração da antiga freguesia apenas deu lugar a uma pequena ribeira. A Ribeira de Nevogilde é um pequeno riacho com cerca de 380 metros, há muito vítima do desenvolvimento urbano. Nasce na freguesia do mesmo nome, numa zona agrícola rodeada pela rua Sá de Albergaria a Sul, Rua de Corte Real a oriente, e pela Travessa da Igreja de Nevogilde. Nos primeiros 137 metros do seu percurso a ribeira corre a céu aberto1. O percurso seguinte está totalmente entubado, atravessa a Rua do Marechal Saldanha, desce pela Rua do Funchal, atravessa a Rua de Gondarém e a Avenida de Montevideu e desagua no oceano Atlântico a sul da Estação de Zoologia Marítima Dr. Augusto Nobre, na Foz. Tem uma extensão de 0,91 km, em grande parte (66,5%) a céu aberto. A sua bacia hidrográfica tem a área de 0,51 km2. Como aconteceu com as ribeiras de Ervilheira e de Nevogilde, a caracterização físico-química e microbiológica levada a cabo por Nívea Vieira, em 2007, revela a contaminação da água por esgotos domésticos ao longo do seu percurso.

O fraco número de habitantes da freguesia de Nevogilde e a sua dispersão justificam o reduzido número de fontes instaladas para servir o povo. J. Bahia Júnior, 1908, apenas regista a Fonte do Leonardo e indica os resultados dos exames bacteriológicos realizados entre 1904 e 1907, concluindo, a partir deles, que a água dessa fonte era de má qualidade.  A Fonte Monumental de Montevideu, mais conhecida por Fonte Luminosa de Montevideu, pensada inicialmente para a avenida dos Aliados, mas as suas dimensões e proporções não se adequava ao local. A sua qualidade despertou o interesse da Câmara que encontrou o local com condições para a receber, o Jardim da Avenida de Montevideu (antiga  Estrada de Carreiros, depois rua do Castelo do Queijo), junto ao Forte de S. Francisco Xavier (Velasques, 2001), onde a construiu, em 1931. O desenho da fonte é da autoria de Manoel Marques e pode-se inserir na Art Déco. Nela predominam as formas circulares e cilíndricas, começando no tanque e terminando no capitel é suportado por colunas cilíndricas. Na parte superior tem friso com motivos vegetais, em tons compõe o “capitel” onde se apoia a laje superior. O mesmo acontece com as colunas, rematadas com pequenos frisos que sugerem a sua separação do capitel. A água da fonte, com circulação impulsionada por um grupo de bombagem, era parte integrante da escultura. Ao longo dos anos a Fonte foi-se degradando e perdeu a sua água e a iluminação. O seu mau estado incomodou e revoltou muitos portuenses na última década do século XX. Em 2001, foi remodelado o espaço onde ela se integrava, mas “...a fonte não foi tocada, continuou a degradar-se, azulejos de cor verde claro e brilhante caídos, a sua bela e elegante estrutura geométrica de betão em pedaços no solo...” (Cardoso, 2008[11]). O Chafariz foi reativado em 2017, tendo a água voltado a correr nos seus repuxos e cortinas de água. 

Figura 23 – O projeto da Fonte Monumental de Montevideu.


Figura 24 – Fonte de Montevideu em 2018





[1]Vieira, N., M., S., M., 2009, Qualidade Química e Bacteriológica das Águas das Ribeiras do Porto, Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para obtenção do grau de Mestre em Minerais e Rochas Industriais, Aveiro.
[2] Fernandes, A. N. N., 2009, Identificação e Deteção da Fragilidade em Troços de Ribeiras do Porto, Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para obtenção do grau de Mestre em Minerais e Rochas Industriais, Aveiro.
[3] Reis, 2002
[4] Cleto, J. A., 2014, Lendas do Porto, Volume III, Verso da História, Vila do Conde: pp 13 – 17.
[5] Santos, A., Pacheco, L., Girão, M., Clare, R., 2017, As nossas memorias das fontes do Porto, II Volume, Edições Afrontamento, Porto
[6] Vieira et al., 2009.
[7] Carlos Barreiros Montez de Champalimaud, 1901, Foz do Douro e Febre Typhoide, Dissertação Inaugural apresentada à Escola Médico-Cirúrgica do Porto
[8] Gazeta Medica do Porto, 1901, junho, pág. 290 (pág. 287)
[9] Canídia e Circe eram feiticeiras que Horácio evocou nos seus poemas em que a magia estava ao serviço das paixões humanas. Canídia era uma velha, pavorosamente feia e terrível feiticeira, mais perigosa que as serpentes de África. Circe era considerada a Deusa da noite, que produzia venenos e poções mágicas e costumava transformar homens em animais. Circe é considerada a Deusa da Lua Nova, do amor físico, feitiçaria, encantamentos, maldições, vinganças, etc.
[10] Santos, A., Pacheco, L., Girão, M, Clare, R., 2015, As nossas memórias – as fontes do Porto, Volume I, Edições Afrontamento e Clube Unesco da Cidade do Porto.
[11] Cardoso, Z., 2008, texto publicado em 22Blog O fio de Ariadne, consultado em 30/10/18.


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